O que terão em comum jogadores como Ricardo Sá Pinto, Ivaylo Iordanov, Leandro Machado, Delfim, Marius Niculae, Marat Izmaylov, Valeri Bojinov e Jeffrén? Uns melhores, outros piores; uns certamente mais marcantes do que outros; uns mais significativos para o emblema leonino, outros com passagens fugazes por Alvalade. Porém, duas coisas ligam de forma factual estes oito atletas: problemas físicos/disciplinares e o jersey utilizado.
Desde a saída de Luís Figo de Alvalade, a camisola 7 do Sporting tornou-se, de uma forma impressionante, um claro sinónimo de azar. Esta superstição levou, inclusivamente, vários atletas a trocarem de numeração: casos de Iordanov, que trocou o malfadado “7” pelo número 9; de Delfim, que passou a envergar o 6; do romeno Niculae, que adoptou o 9; e, por fim, de Sá Pinto e Izmaylov, que abraçaram com alívio a camisola 10, depois de grandes azares vividos com o “número malvado”.
Mas que problemas terão sido estes? Fará sentido ter medo de um simples número (que popularmente até se associa à sorte), ter medo de uma simples camisola? Decerto não poderá ser apenas um número a causar tanto estrago. A verdade é que Sá Pinto, após o regresso a Alvalade, depois de uma passagem pela Real Sociedad, foi atormentado por lesões constantes e afastamentos longuíssimos, sem conseguir voltar a impor o seu futebol de leão ao peito. Já Iordanov, um símbolo leonino, o primeiro capitão estrangeiro do Sporting, teve, porventura, o maior azar de todos estes atletas enumerados: o abandono da carreira devido a doença, mais especificamente esclerose múltipla. Para além de sucessivas lesões, também Delfim se viu obrigado a terminar a carreira devido a problemas graves na coluna.
O simpático e acarinhado jogador romeno, que chegou ao Sporting em 2001, Marius Niculae, começou muito bem o seu percurso em Alvalade, criando um triângulo atacante perfeito com Jardel e João Pinto, até se lesionar com gravidade nos ligamentos internos do joelho. Niculae ainda se manteve durante vários anos no Sporting, mas o certo é que nunca mais foi o mesmo jogador que vimos chegar, numa época bastante feliz para todos os sportinguistas. Marat Izmaylov foi um poço de problemas e continuou a sê-lo no Dragão: lesões, indisciplina, falta de vontade de treinar, falta de vontade de jogar, um homem que parece não gostar do que faz, da profissão que tem, um atleta triste, de sorriso inexistente. A solução para o russo, e a minha opinião vale o que vale, seria abandonar a carreira e fazer algo de que realmente goste.
Leandro Machado e Bojinov apareceram e desapareceram rapidamente do Sporting: Leandro gostava demasiado das distracções que a noite lisboeta oferecia, e, apesar da qualidade inegável, o seu empenho não acompanhava o potencial que tinha; já o búlgaro Bojinov, para além da falta de qualidade (que só Luís Duque e Carlos Freitas não viram), teve o azar de “roubar” a bola a um Matías Fernández, que iria bater uma grande penalidade e falhá-la de forma impressionante – edificou o seu azar.
Até ao fecho do mercado de Inverno, que ocorreu no passado dia 31, o último número 7 do Sporting foi o hispano-venezuelano Jeffrén Suárez. O ex-Barça estava “encostado” na equipa B sem jogar, depois de duas épocas na equipa principal sem qualquer brio e com variadas lesões graves – problemas que já o atormentavam em Espanha. Porém, no mesmo dia 31, surgiu um atleta que ignorou toda esta nuvem em volta de uma camisola que há quase 20 anos traz azares sucessivos a quem a enverga. Destemido, o “faraó” Shikabala não hesitou em herdar o “7” de Jeffrén e planeia acabar com esta maldição. Apesar de toda esta vontade do egípcio (até ameaçou acabar a carreira se o negócio entre Zamalek e Sporting não se concretizasse), os factos não jogam a seu favor: segundo alguns portugueses que já trabalharam no futebol egípcio, o jogador tem historial de problemas disciplinares, e, segundo Leonardo Jardim, não apresenta neste momento uma boa forma física.
Será a “rebeldia” de Shikabala o mote para a maldição do “7” continuar? Poderá, por outro lado, voltar a tornar o jersey “7” uma camisola lendária, marcando golos como os que têm circulado na web nos últimos dias? Será que, depois do Bola de Ouro Luís Figo, só o regresso do nosso outro Bola de Ouro poderá acabar com toda esta maldição? Será que existe alguma maldição? Serão os factos das duas últimas décadas suficientes para falarmos de maldição? Acreditar ou não: a decisão é sua.