Há uma infinidade de questões a colocar sobre o sucedido hoje. Qual a razão que leva o estádio que recebeu a final do Euro 2004 e que receberá a final da Champions de 2014 a não suportar rajadas de vento que, embora fortes, não sejam dignas de tais incidentes? Qual a razão que levou as entidades responsáveis a só evacuar os adeptos do Sporting uma hora depois de todo o restante público? O que vai acontecer com quem não conseguir estar presente na terça-feira às 20h15? Entre outras perguntas a fazer, há uma certeza: naquelas condições o jogo não podia decorrer. As respostas que pretendo ver presentes através das minhas perguntas são relevantes mas acerca delas pouco teremos a fazer a não ser esperar. Se o jogo vai ser terça-feira, que assim seja.
Para hoje teríamos o extra de ver o Sporting disposto a algumas novidades. Leonardo Jardim optou por marcar a estreia de Heldon para a Luz e, quanto a mim mais importante, actuar com Slimani e Montero de início pela primeira vez. Os planos eram arrojados e transmitiam o desejo, que Jardim já tinha comunicado na conferência de imprensa há dias, de um Sporting forte desde início e sem medo do ambiente que encontrará na Luz. A verdade é que a equipa de Alvalade tem muito pouco a perder. Os objectivos delineados estão perfeitamente enquadrados naquilo que a equipa vem fazendo e qualquer que seja o resultado do jogo com o Benfica não irá alterar isso. Pelo que, a meu ver, a surpresa do treinador madeirense era justificável e bem calculada.
Montero está há alguns jogos sem conseguir marcar. Apesar do rendimento do avançado colombiano não se limitar à sua quantidade de golos, com Slimani as ocasiões de que ambos usufruem são bem maiores. Com Slimani em campo, Montero tem liberdade para descer no recinto e criar superioridades onde, até então, não existiam. Com boa capacidade de ter e distribuir a bola, Fredy Montero ajuda à fluidez do jogo ofensivo do Sporting tanto mais quanto conseguir participar… e isso só o fará se puder descer no terreno. A jogar sozinho, cria um buraco no centro de ataque que tem de ser colmatado. Se acompanhado por Slimani, o argelino cumpre (muito bem) essa função.
No entanto, estas mexidas no 11 base que tem sido apresentado têm mais consequências. André Martins será colocado no flanco direito (ou esquerdo, caso Helson jogue na direita) e o centro do terreno será menos povoado. Sendo o adversário o Benfica, que joga com dois no meio (Fejsa e Enzo Perez), não se verifica uma inferioridade numérica no meio-campo que se verificaria com a maioria das restantes equipas do campeonato que jogam em 4x3x3. E porque as equipas vivem primeiro das características dos jogadores que actuam do que dos modelos impostos pelos seus treinadores, André Martins terá sempre tendência a procurar espaços centrais e deixar a sua ala aberta para possíveis subidas do lateral (Cédric será o principal responsável pela profundidade ofensiva do flanco direito).
Quais os aspectos negativos? Antes demais, a menor envolvência e rotinas que um sistema alternativo apresenta quando comparado com o principal. Depois, a menor capacidade de pressão e posicionamento defensivo de Montero que fará uma posição idêntica à de André Martins no processo defensivo, quando sem bola. Na direita poderá haver menos capacidade de desequilíbrio sem um extremo puro, embora Cédric seja um lateral perfeitamente capaz de gerar excelentes cruzamentos propícios ao jogo aéreo de Slimani. Os positivos? Para além da maior participação de Montero no jogo ofensivo, Slimani será um trunfo importante nas bolas paradas ofensivas e defensivas mas também na necessidade de ganhar as bolas divididas num jogo que se espera de bastante luta até pelas condições climatéricas que tudo aponta manter-se-ão complicadas.
Depois de medidas, as questões tácticas deixavam a antever um jogo distinto daquele que se esperava. Para terça, contudo, há uma outra questão fulcral: o efeito surpresa perdido, justifica alterações na equipa leonina? Leonardo Jardim não colocou Slimani e Montero apenas pela menor preparação de Jesus para esse cenário. Fê-lo porque acreditou que seria dessa forma que o Sporting mais facilmente poderia ganhar o jogo. Assim sendo, duvido que surja uma outra surpresa com alterações no desenho táctico em relação àquele que foi apresentado hoje. Não há lã que caia e faça mudar o jardim que Leonardo preparou para o Estádio da Luz.