Os anos do perecimento de Jovane Cabral

    Solidão é a distância profunda entre a seiva e a casca, entre a folha e a raiz. Isto, sem a utilização de aspas. A morte é a mais pleonástica de todas as coisas. Isto também sem o uso do elemento que me tem andado a irritar. Se não sabiam, ficam a saber. Não precisam de agradecer a informação que forneço porque o faço de bom grado e sem segundos intentos.

    Não gosto de me dar a conhecer, até porque fazer mal ao próximo não faz muito o meu género e está nas sagradas escrituras como prática a não adotar. Foi a decisão que tomei mal amealhei lucidez. Um homem é logo outro homem quando toma uma decisão. Isto também sem aspas.

    A simples apropriação voltou. Que ninguém estrebuche porque não está autorizado. As medidas de habitação uma ova. Longe vão os tempos em que a aliança povo-militares tomou de assalto a Rádio Renascença, sedes de partidos políticos, redações de jornais impressos e terras baldias. Dar ao país aquilo que que lhe pertence, claro. Nem mais, nem menos. Eis o que pretendo:

    • Trazer a mente do Jovane Cabral de Cabo Verde;
    • Devolver-lhe a confiança e a forma física;
    • Reaproveitar o seu reaproveitamento para o futuro como solução no ataque;

    Como bem reparam, o Jovane Cabral tem andado com a cabeça não sei onde há já algum tempo. O miúdo está preocupado com alguma coisa. Acho que não sou mulher, mas pressinto-o. Não sei se o miúdo está preocupado com o facto de um grupo de cientistas ter detetado um novo buraco negro recorrendo lentes gravitacionais ou se sente peso na consciência por ter chegado aos 24 anos sem ter visto um concerto da Cesária Évora. Se for pela segunda razão, não me importo de emprestar uma cassete VHS de uma atuação em 1999, na lua-de-mel dos meus pais.

    Em janeiro de 2022, face à perda de espaço no plantel e à vinda de Islam Slimani, foi para Roma. Estava a perder ímpeto na frente de ataque do Sporting CP e decidiu que seria melhor terminar a temporada afastado da equipa que o criou. É maior de idade, vacinado e fez o que lhe deu na gana. Tudo bem, ninguém se chateou e toda a gente levou a bem. A meu ver, o destino foi bem escolhido. Pensei que a ida para Itália fizesse brotar paz na alma de Jovane Cabral, que o rejuvenescesse e que exorcizasse os fantasmas e demónios que pairavam dentro dele.

    Passou o verão, muita cerveja correu na goela e muito se dançou ao ritmo de Moullinex. Chegaram as novas garras do leão – expressão que não sei se pertence a Sousa Cintra ou a Jorge Gonçalves, mas as aspas retraem-se de qualquer das formas – e Jovane Cabral passou ao esquecimento. A deambulação é tanta que uma pessoa até se perde. Teatro D. Maria II, Alto de Santa Catarina, Hotel Bragança, esquadra da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE). Estamos a falar do caso Jovane Cabral. Têm razão. O Ricardo Reis é o culpado, porque é tipo de pessoa que não sabe relaxar num chaise long a beber um cocktail de palhinha.

    Quero o avançado de 2020/2021. Aquele que resolvia jogos e marcava golos absurdamente incríveis. O treinador é o mesmo. A descontração é a mesma. O ritmo de trabalho e a exigência não se alteraram. Precisamos do seu modo Hulk porque os avançados atuais são espetaculares, mas franzinos e caem ao mínimo encosto. Muitas vezes, nem vontade tenho de ver duelos aéreos. Fecho os olhos quando a bola sobrevoa a atmosfera. No começo, não sabia temporizar essa ação e perdia coisas espetaculares que só apanhava porque a televisão repete lances. Agora, já consigo cerrar e abrir as pálpebras no tempo certo.

    Na pior das situações, quero aquele Jovane Cabral estilo holandês dos tempos de Marcel Keizer. Não era tão maturo como o de Rúben Amorim, mas fazia coisas muito engraçadas. Do género daquelas arrancadas nas quais percebemos que se formos ter com o lateral que o apanhou no flanco – numa situação em que este esteja parado – e lhe taparmos a boca, o individuo tem uma paragem respiratória e desmaia. Este também fazia jeito ao Sporting CP 2022/2023, versão quartos-de-final da Liga Europa.

    Não há por aí ninguém que conheça o falecido Fernando Pessoa e que me possa disponibilizar o seu contacto? Ele é bem menino para ter o seu smartphone e uma aplicação onde, juntamente com o Padre António Vieira, esteja a projetar o V Império em 3D e forrado com veludo. Se alguém tiver informações sobre o seu paradeiro, que me contacte em privado. Eu tenho uma lista de argumentos que o ChatGPT me ofereceu para convencer Fernando Pessoa e outra para Fernando Pessoa convencer o Jovane Cabral a voltar em forma e a alegrar os adeptos do Sporting CP.

    Se não resultar, arranjamos um robot parecido com a Marcenda.

    P.S – a apropriação era só garganta. As frases “Solidão é a distância profunda entre a seiva e a casca, entre a folha e a raiz” e “A morte é a mais pleonástica de todas as coisas” são da autoria de José Saramago. Quem me conhece, sabe perfeitamente que não reúno destreza mental para ser tão filosófico e metafísico. Quem não me conhece, desconfiaria e com toda a razão.

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    Romão Rodrigues
    Romão Rodrigueshttp://www.bolanarede.pt
    Em primeira mão, a informação que considera útil: cruza pensamentos, cabeceia análises sobre futebol e tenta marcar opiniões sobre o universo que o rege. Depois, o que considera acessório: Romão Rodrigues, estudante universitário e apaixonado pelas Letras.                                                                                                                                                 O Romão escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.