Olá Bruno,
Permites-me que te trate por tu? Pois bem. Deixa-me que te pergunte uma coisa: já reparaste que em Alvalade, existe bem visível perto das claques – por vezes – uma tarja que diz: Zero Ídolos. Reparaste? Já lá iremos.
Primeiro quero que recues comigo no tempo. Vamos recuar para o dia 15 de Maio de 2018. O tão falado ataque à Academia em Alcochete. Ainda hoje me custa perceber o que levou, aqueles “adeptos” a fazerem o que fizeram. Certamente que partilhamos da mesma opinião: não podem ser adeptos que amem o Sporting. Não podem ser adeptos que façam, verdadeiramente, o seu melhor para ver o clube sempre na frente. Custa-me a entender as razões e o contexto. Custa-me ainda mais não existir um desfecho lógico para tal situação.
Acredito que para ti e para os teus companheiros de equipa, que viveram isto na primeira pessoa, tenha sido para vocês um duro golpe. Mas acredita que para mim e para a maior parte dos Sportinguistas que sentem o clube de uma forma inexplicável, foi igualmente um murro no estômago. Onde já se imaginou? Um grande em Portugal com os jogadores a serem agredidos dentro da própria casa? O início de uma crise diretiva e desportiva nunca antes vista? As consequências seriam gravíssimas. Quando vi a notícia e posteriormente me contaram do sucedido, eu não quis acreditar, Bruno. Fiquei sem reação. Fiquei em choque. O clube que tanto amo, mais uma vez, caminhava para o abismo. Ficava novamente sem rumo. Uma casa a arder. Parece que temos um problema, que temos um problema que jamais irá ter solução.
Começam a surgir então certos rumores e notícias de eventuais rescisões. Era o descalabro total. O que seria do Sporting sem os seus maiores ativos financeiros e desportivos? O clube levaria anos e anos a recuperar de tal situação. Sem Champions que pudesse eventualmente minimizar os prejuízos. O que num dia eram rumores, no outro surge como confirmado. Num dia uma rescisão, no outro nove. Cada um com o seu motivo, cada um com a sua justificação. Mas naquela altura, Bruno? Fiquei angustiado. Não sabia mais o que sentir, o que dizer.
Por um lado, fiquei do vosso lado, jamais poderia ficar do lado de um ataque hediondo como foi aquele. Mas por outro? Abandonar o clube? Abandonar milhares de adeptos leais, verdadeiros e que amam verdadeiramente o clube? Que nada têm a ver com o sucedido? Que são aqueles que sofrem nas vitorias e nas derrotas? Aqueles que vos apoiam sempre? Muitos que sonhavam e sonham estar no vosso lugar: poder pisar o relvado e vestir a verde e branca com o leão rampante ao peito. Não vos conseguia perdoar. Não conseguia de todo.
Eu tenho 23 anos, as memórias que tenho do Sporting como campeão nacional são muitos poucas. Nós sempre fomos alvos de chacota. E quanto mais tempo teremos de ser? Imaginas quantos miúdos de 7 ou 8 anos apoiam o Sporting e tiveram de assistir a este episódio? Quantas crianças e jovens, que vivem na Academia e representam o Sporting, olham para vocês como exemplos a seguir, como vão olhar para o que vocês fizeram e pensar que podem fazer o mesmo? Que respeito pela instituição se vai passar para estas gerações? O que será do nosso futuro? Mais, Bruno! Existem jogadores que viveram o mesmo que vocês e que ficaram, que não rescindiram. Que se mostraram leais à instituição. Sabes o que é sentir que em Alvalade apoiavam mais quem rescindiu e voltou do que propriamente quem ficou por cá? Isso não era justo, Bruno.
Hoje, após tanto tempo, vejo as coisas de outra forma. Com outra clareza provavelmente, o tempo não cura tudo mas ajuda a sarar. E como sempre ouvi dizer: as pessoas merecem uma segunda oportunidade. E sabes, Bruno? Tu és uma dessas pessoas. Não sei que motivos te levaram a abandonar, mas regressaste. As coisas acalmaram e tu decidiste voltar. Dou valor a isso. E importa contar com quem está entre nós. Quem quer vestir realmente a verde e branca. Eventualmente o que se passou naquela altura foi uma decisão precipitada e as pessoas cometem erros, todos nós o fazemos diariamente. Mas tu, Bruno? Tu dentro de campo dás tudo o que tens e o que não tens. És, sem dúvida, um exemplo para os jogadores mais novos.
Custava-me ver-te com a braçadeira de capitão – apesar de reconhecer essas tuas capacidades já desde a época transata, pois tens o perfil de líder – achava que merecia ficar com alguém que não tivesse abandonado o clube. Mas ela fica-te tão bem. E fica-te melhor do que nunca. Porque és um verdadeiro leão. Demonstras a raça que tens. Desportivamente, bates recordes. Nunca ninguém se poderá queixar da tua entrega. E vejo em ti uma pessoa humilde, que sabe reconhecer que possa ter errado. Vejo em ti um exemplo a seguir.
O passado deixou marca, é verdade. Mas tu tens a capacidade de mudar o presente e o futuro. Tens a capacidade de deixar uma marca ainda maior no presente e no futuro. É a tua marca. É a nossa. É a de todos nós. O Sporting merece ser feliz. Nós merecemos ser felizes. Controlas a bola de uma forma apaixonante, tão apaixonante como aquele momento em que estico o meu cachecol para cantar O Mundo Sabe Que bem alto para vocês. Rematas a bola de uma forma explosiva, tão explosiva como o grito que dou quando festejo um golo teu, um golo nosso, um golo do Sporting. Entregas-te totalmente ao jogo, da mesma forma como eu me entrego ao Sporting.
Bruno, voltamos agora ao início do texto? Pois bem. Dizem que há Zero Ídolos, mas não é verdade. Tu és um dos ídolos de muitos no Sporting. Tu és um dos ídolos do Sporting. Um dos melhores que passou por cá e é um gosto ver-te jogar. É um gosto ver-te com a verde e branca e muitos jovens leões têm o sonho de ser como tu quando forem grandes: o número 8, o capitão dos leões, o maestro.
Desculpa se por alguma vez coloquei a minha emoção por cima da razão, é um erro comum do ser humano mortal. Mas Bruno, dou-te a minha segunda oportunidade. Mas isso tem um custo. Vais este ano com 27 golos. Ainda faltam alguns jogos e certamente que irás ultrapassar essa marca. Posto isto, para o ano peço-te no mínimo 40 golos e 30 assistências e que, no final, possas colocar a cereja no topo do bolo: espero encontrar-te no Marquês, para festejarmos em conjunto, aquele que é, sem dúvida, o maior objetivo dos sportinguistas. Não aceito um não.
Abraço, capitão!
Foto de Capa: Bola na Rede
artigo revisto por: Ana Ferreira