Sim, sou eu outra vez. Mas, por favor, não me ignores já. Tenta ler mais um pouco, porque eu prometo que desta vez o meu pedido é diferente. Aliás, este ano nem sequer te trago um pedido, mas um agradecimento. Estranho, não é? Por entre as centenas de milhões de cartas que recebes todos os Natais, a verdade é que ninguém se lembra de enviar um pequeno agradecimento pelo presente enviado. Nem uma carta. Nem um “Obrigado, Pai Natal”.
Tu, melhor do que ninguém, sabes que peço o mesmo presente desde miúdo. Tinha eu 10 anos quando quis pela última vez um jogo de playstation. A partir daí, nunca mais te escrevi por brinquedos, jogos, filmes ou bolas de futebol. Nem sequer uma gaja aos 15 e um carro aos 18 te pedi, porque o que eu queria era algo muito mais importante do que isso.
Mas porra, Pai Natal! Porra! Porquê tanto tempo? Por que me censuraste os pedidos durante mais de 10 anos? Tanto ignoraste as minhas cartas que os meus pedidos foram sendo mais pequeninos e modestos com o tempo. Comecei por pedir o Sporting campeão. Ignoraste-me. Uma e outra vez. Tanto me ignoraste e eu tanto desesperava que comecei a pedir-te apenas bons resultados europeus, Taças de Portugal, jogadores razoáveis, dinheiro nos cofres, 3ºs lugares. Deixaste-me chegar ao desespero de te escrever uma carta, lavada pelas lágrimas, em que só te fazia um pedido: que salvasses o Sporting Clube de Portugal.
A verdade é que hoje, depois de ter recebido o teu presente, já pouco penso no desespero que me fizeste sentir. Eu pedi-te a salvação do meu clube e tu deste-lhe um rumo. Não o colocaste automaticamente no topo, mas deste-lhe os homens que o tornariam possível. E, Pai Natal, eles tornaram. O meu clube está salvo, está vivo, e eu nunca estive tão orgulhoso dele.
No próximo ano voltarei a escrever-te, Pai Natal, mas não te pedirei mais nada. Nem a conquista do campeonato, nem uma contratação sonante, nem uma conquista europeia. Vou enviar-te, apenas, mais um agradecimento. Porque tu deste-me as pessoas que colocaram o Sporting onde ele deve estar sempre. E esse é um presente pelo qual nunca te poderei agradecer o suficiente.
Obrigado, Pai Natal.