Crónica de um trecho cor-de-rosa

    A leitura é o meu passatempo predileto, assumo-o. Encarcero-me, sempre que me é possível, de rostos literários cujas obras considero verdadeiras matérias-primas. Contudo, Bruno de Carvalho não residirá nem conviverá com ilustres racionais. Não sei (nem é motivo do meu interesse) se o ex-presidente leonino pretende enveredar pela vertente do Realismo, implementada por Eça de Queirós no século XIX, e assim, traçar o seu trilho na escrita. O que é facto é que, no seu manual, é exposta a “realidade” do Sporting Clube de Portugal, durante o seu reinado de cinco anos.

    Domingo passado, esporadicamente, comprei o jornal Record. Mal vislumbro a capa, esboço um sorriso. Abro, folheio e chego à página 12, onde um trecho do capítulo oito do “Sem Filtro – As histórias dos bastidores da minha presidência” é ocupado ao longo de uma página, integralmente. Numa primeira impressão, e por analogia, vislumbro os “três mosqueteiros” (o autor do livro, Octávio Machado e Jorge Jesus); o D’Artagnan, neste breve excerto, consegue anuir a temas que foram debatidos, criticando dura e tacitamente quem protegeu durante dois anos, de forma vil e cruel.

    Introduzindo a tertúlia, as atenções encerram-se sobre Octávio Machado, contratado a pedido de Jorge Jesus, que é caracterizado como uma pessoa conflituosa e promotora de divergência interna, respeitado pelo mundo da arbitragem e com poder relativo sobre a mesma. Por sua vez, Jorge Jesus é o retrato minucioso de uma pessoa bastante influenciável, com tamanha preocupação acerca do que é dito pelo exterior.

    Por acréscimo, e em conformidade com o discurso carregado de ódio dirigido ao rival aquando de uma aparição pública, os à altura diretor-geral de futebol e treinador leoninos faziam constantemente referências ao SL Benfica pelo facto de “adquirirem numerosos bilhetes dos estádios adversários” e da “importância de um clube saber se relacionar com os árbitros”.

    Em jeito sumário, os dois classificavam a estrutura sportinguista como “péssima”. Além disto, Bruno de Carvalho alveja também Frederico Varandas, atual líder do clube, uma vez mais com Octávio Machado no centro da polémica. De acordo com o que está nas “escrituras”, o ex-diretor clínico “prolongou a baixa médica ao então diretor-geral, numa decisão conjunta”, facto que explicou a ausência do mesmo em muitos jogos da temporada que vigorava.

    Estrutura inicial do projeto de Bruno de Carvalho
    Fonte: Sporting CP

    Após breve e sucinta reflexão, e depois de um primeiro mandato positivo onde o Sporting Clube de Portugal se aproximou dos adversários diretos, sendo tão bom ou melhor que os mesmos e de incutir alguma estabilidade na instituição, quer financeira quer estrutural, creio que a estupidez humana atingiu o seu píncaro na medida em que a publicação do quadrilátero vem a público dar (muita) força e unificar os seus defensores acérrimos.

    O antagonismo proveniente dos que se dizem mais sportinguistas do que todos (a meu ver, “brunistas”) causam, num verdadeiro adepto, comichão alérgico-ditatorial, ou seja, os que censuram e são reacionários contra regimes totalitários pecam por falta de coerência pelo facto de prestarem apoio a este apóstolo salazarista, que ao longo da sua breve (felizmente!) passagem pelo clube que amo proferir discursos que incitam à violência, adotar medidas retrógradas, destratar jogadores em redes sociais, ter uma prestação lamentável diante dos adeptos em plena assembleia geral e de mudar, ou fazer renascer, a personalidade após o ataque a Alcochete.

    Bruno de Carvalho é, sem margem para dúvidas, uma das principais figuras promotoras do clima pesado e hostil que paira no futebol português e, consequentemente, uma mancha negra ao nível do dirigismo institucional.

    À verdade ninguém conhece o paradeiro. O “quero, posso e mando”, a mesquinhez e a disponibilidade total para ser irrisório, como se pôde verificar, permanecem inalteráveis. Uma tentativa frustrada de singrar como verdadeiro líder, pecando pela ausência de escrúpulos, classe e, sobretudo, humildade. A fera malfeitora quis superiorizar o seu rugido relativamente à instituição centenária. Quanto ao seu futuro, o circo o dirá.

    Foto de Capa: Sporting CP

    artigo revisto por: Ana Ferreira

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    Romão Rodrigues
    Romão Rodrigueshttp://www.bolanarede.pt
    Em primeira mão, a informação que considera útil: cruza pensamentos, cabeceia análises sobre futebol e tenta marcar opiniões sobre o universo que o rege. Depois, o que considera acessório: Romão Rodrigues, estudante universitário e apaixonado pelas Letras.                                                                                                                                                 O Romão escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.