Encher a boca com crises e austeridades? Permita-me a correção, por favor!

    Como adepto fervoroso de um clube que sempre me habituou a parcas prendas – a aliteração é engraçada quando repetida 20x – reconheço que já encerrei a mestria mais do que necessária e suficiente do arremesso do insulto gratuito e merecido. De modo quase bíblico, estou à vontade para afirmar que, naqueles tempos, o que me livrava de um sopapo bem assente era apenas e só um ecrã de dimensão variável. A desculpa da qual me muni para a situação descrita nunca padeceu de alteração: no decurso de quase toda a minha existência, 80% de jogadores que envergaram a camisola listada de verde e branco eram – na melhor das hipóteses – tecnicamente medíocres.

    A minha postura transfigurou-se mal vencemos o campeonato, na época transata. De modo bíblico, pude contemplar a reanimação de um motor com reduzido índice de óleo fazia alguns anos. As críticas e os insultos dirigidos aos jogadores que exerciam a defesa das cores pelas quais me apaixonei abandonaram a lógica. Rúben Amorim e a restante comitiva suportaram o peso de um navio dado como imerso, Coates remendou com fita-cola madeira que ameaçava apodrecer, Palhinha ensaboou o chão soberbamente, armadilhando a possível invasão do inimigo e Paulinho içou uma vela – lá no topo – que parecia presa por um corpo estranho.

    Desde algures de 2020 até ao momento, na ótica de alguns adeptos investidos de uma autoridade recôndita, aquele conjunto de jogadores que enxergou o vocábulo “heróis” como o menor e mais desprezível dos elogios atirou ao chão a toalha encharcada do suor de múltiplos jogos e competições. Possivelmente, derivado do peso, o objeto perfurou o solo e escavou até ao passado recente.

    Imagine-se o cenário: interior de um meio de comunicação social, ênfase em palavras banais, intermitência entre olhares ténues e intensos, sorrisos disfarçados e entredentes e mais algumas técnicas objetivas de discurso.

    Tiago Tomás e Jogadores Sporting CP
    Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

    Internamente, o Sporting CP, na última época, perdeu duas vezes ou o que é. Numa dessas vezes, ao que parece, tinha erguido o caneco com orelhas recentemente. No capítulo 2021/2022, o desastre agigantou-se pelo facto de a temporada derrubar a marca da metade e já ter perdido em cinco (!) ocasiões.

    – Senhor jornalista, mas três dessas derrotas ocorreram na Champions League, competição na qual o clube de Alvalade carimbou a qualificação para os oitavos de final da prova e que já não se verificava desde 2008/2009 – respondem do interior da redação dúbio.

    – Posso finalizar? Obrigado! – riposta irritado o pivot.

    – Permita-me a correção, senhor jornalista! Os pupilos às ordens de Rúben Amorim são a única equipa portuguesa que ainda resistem em todas as frentes de competição nas quais estão inseridos desde o início da temporada. Além do mais, não redunda em parvoíce o facto de encher a boca com crises e austeridade (até parece contraditório) quando ainda marca janeiro no calendário? – inquirem novamente.

    – Posso concluir ou esta baderna vai continuar? Que condições de trabalho precárias na função pública! Se o CHEGA conseguisse alcançar o estatuto de terceira força política e fazer casalinho com o PSD é que era – divaga o pivot.

    O avançado Paulinho, que apontou o golo do título diante do FC Boavista, parece atravessar uma grave crise emocional e não encontrar o caminho para as balizas adversárias. Segundo o que foi apurado, o Sporting CP procura um avançado neste defeso de modo a somar mais uma solução ofensiva. Os leões apresentam um número de soluções menor relativamente aos adversários diretos.

    – Se me permite novamente, a tática urdida pelo Sporting CP não parece incluir a compra desenfreada e excessiva de reforços. A contratação cirúrgica é um baluarte na política adotada. Até porque, como é sabido, a aposta oriunda das camadas jovens tem sido frutífera e vantajosa. Veja-se a quantidade de jogadores formados no clube que integram o plantel principal…

    O pivot sai de rompante. Pratica-se – ou pelo menos erige-se a tentativa de praticar – um espécimen de Jornalismo Público. Abre-se uma via de diálogo entre os profissionais e o público e é isto?

     

    P.S: Veio a descobrir-se que o pivot era adepto do Sporting CP.

     

     

     

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    Romão Rodrigues
    Romão Rodrigueshttp://www.bolanarede.pt
    Em primeira mão, a informação que considera útil: cruza pensamentos, cabeceia análises sobre futebol e tenta marcar opiniões sobre o universo que o rege. Depois, o que considera acessório: Romão Rodrigues, estudante universitário e apaixonado pelas Letras.                                                                                                                                                 O Romão escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.