“Como português, do Paulo espero independência, capacidade de decisão (…) e, naturalmente, coerência na construção de um modelo de equipa adaptada às características dos portugueses ”. Quem o disse, através de uma carta, foi José Mourinho, aquando da entrada de Paulo Bento para o comando da Selecção Nacional.
Neste espaço não vou discutir todas as variáveis necessárias para avaliar o desempenho do ex-treinador do Sporting e actual Seleccionador Português – porque não é o suposto –, mas antes centrar-me nas causas e efeitos das decisões de Paulo Bento em relação aos jogadores do clube de que falo, ou seja, o Sporting. O treinador Português tem sido, como esperava José Mourinho, independente, coerente e capaz de decidir o melhor para o Futebol Nacional?
Na minha opinião, a resposta não se pode cingir a sim ou não. Paulo Bento, das duas uma: ou é independente mas não tem a capacidade de decisão que se exige, ou não é independente, e, assim, admito que possa ter capacidade de decisão, embora sem a estar a colocar ao dispor do país, como é suposto.
Quem, num jogo com a necessidade de vencer, em casa e com Israel, justifica a presença de um lateral direito com a capacidade no jogo aéreo em detrimento de um maior envolvimento em todo o flanco direito, de uma maior competência no cruzamento e no remate, não pode ter a capacidade de decisão ajustada às necessidades que o cargo em questão exige. Alguém me diz quantas bolas André Almeida precisou de ganhar no ar no último jogo da Selecção, e o quão relevantes foram? Cédric, do Sporting, deveria ter sido titular.
Quem, durante toda uma época, vê jogadores como Licá e Josué exibirem-se ao mais alto nível em clubes “pequenos”, e mesmo assim não os convoca, mas assim que os vê fazerem meia dúzia de jogos pelo FC Porto os convoca de imediato, não pode ter a coerência necessária para unir os portugueses – adeptos, dirigentes, mas também os próprios jogadores –, tal como é preciso em alturas difíceis. Adrien, Wilson Eduardo e André Martins também precisarão de se transferir para o Porto ou Benfica de forma a serem convocados e utilizados, tal qual aconteceu com João Moutinho no Mundial de 2010?
Mas pior ainda do que não ter coerência ou não ter capacidade de decisão será não ter independência. José Mourinho, na acima citada carta que endereçou aos portugueses, colocou a independência antes de qualquer outra característica; não ao acaso, mas porque é a virtude essencial de qualquer homem que se comprometa a assumir o poder de tentar melhorar um grupo de trabalho. Paulo Bento, que tão bons sinais me tinha deixado quanto à sua personalidade durante a passagem pelo Sporting, parece esquecido dos ideais pelos quais dizia reger-se quando criticava aqueles que hoje o apoiam e o escolheram para assumir o cargo máximo do Futebol Nacional. E desta forma saímos todos prejudicados. Todos, claro, excepto as entidades responsáveis pela tal falta de independência, já típica do nosso Futebol. Esta foi a carta que nunca te escreveram, Paulo, mas deviam.