Hoje vou aproveitar para, paradoxalmente, alargar uma tendência própria dos Domingos à noite para o que aqui nos importa: o Sporting. “Stop making stupid people famous” é a tendência, e escusado será dizer o porquê de ser incontornavelmente ligada aos Domingos à noite. Nós temos regularmente a oportunidade de atribuir importância às mais variadas personalidades e facetas, e acabamos quase sempre por fazê-lo da forma errada. O Futebol é um desporto tão rico em coisas boas, e batalhamos sempre acerca das más?
Vamos ser específicos: temos golos, temos dribles, temos remates potentes, passes milimétricos, tácticas diversas, filosofias distintas, temos curvas incansáveis, temos o sentimento de companheirismo próprio de Alvalade, temos o prazer de partilhar um clube de Futebol… e discutimos sempre mais as arbitragens do que tudo o resto? Não me interpretem mal. Não sou dos que acham que os árbitros não devem ser avaliados; criticados, até, se assim for justo, como qualquer outro interveniente do jogo.
O que defendo, e sustento, é a importância daquilo que podemos apreciar e relegamos para segundo plano. O Futebol é emoção, mas verão que a irão saborear muito mais se, depois de apoiarem a equipa que vos move de casa até a um estádio ou até um café ou simplesmente até um qualquer canal ou antena, conseguirem debatê-lo e a todos os seus pormenores que fazem daquele o jogo de que mais gostamos. A insistir na arbitragem perdemos mais do que ganhamos. Por vezes, corremos o risco de sermos injustos e de não entendermos a diferença entre um erro natural e um erro premeditado, que acredito ser bastante recorrente no nosso campeonato. Mas mais do que isso: perdemos a clarividência para apreciar aquilo com que mais simpatizávamos enquanto crianças e, acredito, enquanto começámos a gostar do verde em vez do vermelho, no nosso caso. Essa é a essência do Futebol que se perde com os anos. Ganhamos preconceito, ganhamos limites que nos circundam a vista e nos tornam cegos quando aquilo por que mais pagaríamos seria continuar a ver a nossa equipa a ganhar.
Leonardo Jardim adoptou uma postura de que, confesso, nem fui muito adepto. Não comentar arbitragens pode trazer-nos desvantagens porque quem mais se queixa é quem mais mama. Mas o nosso treinador entendeu ser mais importante dar o exemplo correcto e, aí sim, não poderia estar mais de acordo! Não está em questão a soberania dos árbitros e o seu estatuto inquestionável. Está em questão a lealdade que temos para com o Desporto que nos faz felizes ou tristes, conforme os dias, conforme as noites.
O respeito que temos para com a familiaridade que se veio a perder nos estádios de Futebol deve ser privilegiado. Se são os árbitros e aqueles que estão por trás das suas más actuações os responsáveis pelo empobrecimento do Futebol Português? Sem dúvida. Mas eu acredito que podemos combatê-los ao fazer de Alvalade um sítio diferente. Apoiem a vossa equipa. Discutam as opções técnicas. As decisões do Carrillo. As desmarcações do Montero. O sentido posicional do William. Vão mais além e recebam bem quem com o intuito certo vem a nossa casa, mesmo que defender outras cores. Não permitam, sobretudo, que mudem as vossas convicções. É quando nos apaixonamos que estamos certos. Pelo Futebol, cabe a nós continuar sem discutir o nome dos de apito, tal como fazíamos quando chegávamos à escola primária no dia seguinte ao jogo, de camisola vestida e cores aguerridas. De orgulho erguido e leão ao peito. Sem saber que um dia deixaríamos de saber como gostar daquilo de que mais gostamos.