A um outro nível, não é também por acaso que o empresário Jorge Mendes, fortemente ligado ao Benfica, tem feito questão de tentar puxar os louros da formação para o clube da Luz, tendo chegado a dizer que os encarnados “têm a melhor academia do mundo”. Num desporto em que infelizmente tudo é negócio, os parasitas percebem a necessidade de promover os clubes que lhes são próximos, de modo a valorizarem o seu “peixe”. Ninguém coloca em causa que o trabalho de formação no Benfica tem melhorado bastante – o Sporting simplesmente começou antes, mas não pode agora encostar-se à sombra da bananeira. Contudo, ainda assim, será preciso muito mais do que golpes de marketing e o reconhecimento de entidades duvidosas criadas por agentes de futebol (que anunciam que Ronaldo foi formado na Luz) para que os leões percam o estatuto de melhor academia portuguesa e de uma das três melhores do planeta, a par de Barcelona e Ajax. É que não é fácil destronar um clube que coloca 10 formados seus nos 14 utilizados por um país numa final, como fez o Sporting. Há quatro anos, o Barcelona tinha colocado “apenas” seis na histórica selecção espanhola que renovou o título europeu.
Em 2012 entrevistei Aurélio Pereira para um trabalho da faculdade. Fascinava-me, como ainda hoje me fascina, a sua devoção pela formação futebolística. Deixo aqui, um excerto que demonstra bem a importância daquilo que ele impulsionou em Portugal, bem como as condições em que o fez: “Fomos o primeiro clube a movimentar jogadores de 11 e 12 anos. E depois, logo a seguir ao 25 de Abril, organizámos o Torneio dos 1000 e o Onda Verde. Foi neste último que apareceu o Paulo Futre. Ainda hoje não sei como foi possível organizar aquilo, foi uma loucura! Os jogos realizavam-se em Lisboa e arredores. Imagine, sem telemóveis nem informática e com jogos no Montijo, Barreiro, Alverca, Sintra, como é que depois se faziam as classificações! Deitávamo-nos às 5 e tal da manhã a ver quem era o melhor jogador de cada jogo, o melhor marcador, etc. E no outro dia íamos trabalhar! Só sou profissional deste ramo há dez anos, na altura era director comercial numa empresa de artes gráficas. Foram tempos difíceis, em que cheguei a treinar 50 juvenis sozinho em meio campo, no outro meio treinavam outros 50, e mesmo assim éramos campeões. Tínhamos era grandes jogadores.”