Os ídolos nunca saem de cena – Entrevista a João Benedito

    BnR: Fazem então falta mais jogadores-ídolo? Hoje em dia é mais difícil um jogador fazer a carreira num único clube?

    JB: Não, não sei se é fácil, se é difícil. É como estar dentro de campo e haver aquelas pessoas que se vangloriam por nunca estarem em confusões, por nunca terem passado das marcas. Isto é como na vida; estas pessoas têm é de ser testadas na realidade. Antigamente, quando havia propostas financeiras muito atrativas, as pessoas não eram egoístas por pensar em si e na sua família. Hoje em dia se calhar nós temos atletas que fazem anos seguidos nos grandes clubes europeus. Tem de existir cada vez mais, se queremos que os atletas façam cada vez mais anos seguidos nos mesmos clubes, a valorização financeira e social, ou até envolvê-los nas decisões do clube q.b e não deixá-los sair e ir buscar jogadores com as mesmas características ou inferiores e aí sim já lhes dar o que estes atletas pediam para ficar. Aqui isto reside sempre nas contigências da própria vida da pessoa enquanto está a ser assediada para estar num lado ou estar noutro. Não é fácil uma pessoa ter uma carreira sempre no mesmo lado. Nem sempre escolhemos bem, depende se estão pressionadas, se não estão pressionadas, depende de muitas coisas. Chega a uma altura da vida em que não se decide tudo por ser tudo bom ou tudo mau; os pratos da balança pesam e vamos deixar para trás coisas boas mas vamos encontrar coisas tão boas ou ainda melhores do outro lado da balança.

     BnR: Voltando ao futsal, o João Matos sucedeu-te como capitão do Sporting CP. Achas que foi uma boa escolha, que foi a pessoa indicada?

    JB: Eu fiz um compromisso de honra comigo próprio, porque acho que as pessoas são eternamente responsáveis por aquilo que cativam. E, se eu cativei a massa associativa e os adeptos do Sporting, devo-lhes muito, muito respeito, e o clube ainda mais. Como tal, neste momento sou adepto do clube, comento as questões desportivas, se a bola entra ou não entra. Quanto a comentar-se questões estruturais, acho que se deve fazê-lo em sede própria e não tentar alavancar as coisas. Porque podem dizer-se palavras que são retiradas do contexto e que, às vezes, podem indiciar um bocadinho aquilo que é o oportunismo jornalístico. Eu comento se a bola entra, e fico contente quando ela entra e o Sporting ganha. Tudo o que for estrutural deve ficar para outras pessoas analisarem, ainda que, quando me tornaram capitão do Sporting, eu tenha dito: Quando deixar de ser capitão do Sporting, o meu trabalho será bem ou mal feito consoante o número de títulos que conquiste. E acho que, aqui, na diferença entre perder ou ganhar no último minuto, se vêem os espíritos de grupo e de união, e é lógico que as pessoas têm de ser avaliadas só no fim, e não se deve tentar dizer que A, B ou C é bom quando tem ainda um longo caminho pela frente.

    João Benedito ganhou vinte títulos oficiais com a camisola do Sporting CP. Fonte: Sporting CP
    João Benedito ganhou vinte títulos oficiais com a camisola do Sporting CP
    Fonte: Sporting CP

    BnR: Recentemente terminou o Mundial de Futsal. O que achaste desta participação na Colômbia e, em especial, da participação do Bebé na baliza?

    JB: Somos a quarta melhor seleção do mundo. Pode ter ficado um amargo de boca porque vemos a Argentina ser campeã do mundo e pensamos: será que Portugal também não poderia ter sido? Podia, mas a Argentina também tem uma excelente seleção, e estes jogos decidem-se no pormenor. Acho que devemos estar todos bastante contentes com o trabalho da nossa seleção, da equipa técnica, dos diretores. Tudo aquilo que está a ser feito está a dar os seus frutos e já melhorámos em relação ao mundial anterior e a outras prestações de outros mundiais em 2004 ou em 2008. Não melhorámos o terceiro lugar que foi obtido na Guatemala, mas a base está lançada para, no futuro, podermos, em termos europeus ou até mundiais, conseguir o troféu que Portugal tanto persegue. Quanto à prestação dos nossos atletas, tiveram todos uma prestação muito boa. Penso que estamos a desvalorizar o trabalho de todos os outros elementos se destacarmos apenas o Bebé, ou o Ricardo ou o Cardinal. Sejam quem forem essas referências, penso que este quarto lugar vale por aquele espírito coletivo que Portugal tem, e acho que muito trabalho foi feito, e muito bem feito.

    BnR: De todos os treinadores que tiveste, consegues apontar um que te tenha marcado mais?

    JB: Aprendi com cada um, a falar com cada um. Temos de perceber, como disse há pouco em relação aos ídolos, que uns têm umas características e outros têm outras. Como é lógico, agradeço a todos eles pelos ensinamentos que me deram, quando eu era mais jovem, e àqueles que, já nesta fase terminal da minha carreira, falaram comigo e sempre me explicaram as suas opções. Um bom treinador é aquele que vem falar contigo, que não se preocupa com o frango que dás ou com a bola que entra. É aquele que vem e pergunta de manhã se está tudo bem, que perde um bocadinho de tempo a ir almoçar contigo, para falar contigo e perceber que, se estás a cair, vai lá levantar-te, seja com uma conversa, seja com dois dedos de atenção. Em relação aos meus treinadores, todos eles tiveram características boas e características más. Também eu, como atleta, me portei bem e me portei mal com cada um deles.

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