Estes processos e investigações não desmantelaram a rede de influência e corrupção. Simplesmente esta está mais camuflada, mas institucionalizada, mais politizada. O sistema não acabou, só mudou de mãos.
Para se perceber o poder de que estamos a falar, consta que andou a circular uma carta feita por elementos da PJ a identificar vários crimes de determinadas pessoas que controlam o futebol, endereçada ao Ministério Público. Os elementos que a fizeram decidiram não se identificar por medo de represálias para os mesmos e para as famílias.
Essa carta caiu no esquecimento – assim como todos os processos de corrupção no futebol. E foi “esquecida” pelo Ministério e pela PJ, ou o documento também entrou numa “mala” que nunca mais foi encontrada?
Portugal deve ser o único país onde foram identificados casos de corrupção efectiva e, para já, só um clube desceu de divisão. E até nesse caso tiveram que pedir desculpa e voltar a colocá-lo na Primeira Liga.
Condena-se e absolve-se conforme dá jeito. A quem? A quem ganha, porque certamente não é quem perde que pode ser apontado como beneficiário destes esquemas.
São sempre coisas de que só se ouviu falar – mas porque são imediatamente abafadas – e lançam-se notícias escandalosas sobre outro assunto qualquer… É a técnica do ilusionismo.
É a mesma técnica utilizada no caso identificado no início deste texto. Nem se preocupam com o facto de uma informação contradizer a outra. O único objectivo é “lançar” notícias com boatos difamatórios. Depois, a comunicação social faz com que se esqueçam umas coisas, dando ênfase a outras – ainda há poucos dias um director de um jornal desportivo veio mais uma vez mostrar a sua facciosidade –, e temos montadas novelas diárias para desviar a atenção de assuntos sobre dívidas bem mais avultadas do que as que apontam a outros.
A verdade é que ninguém consegue ter hegemonia durante anos a fio sem que haja algo a ajudar, e isso tem-se visto no ciclismo, no atletismo, no ténis (onde se registaram casos de doping em alguns dos atletas mais conceituados e medalhados)… Mas não no futebol. Aí ninguém toca. Já o dizia alguém numa reportagem sobre doping na RTP.