O ano de 1964 ficará, até à eternidade, marcado indelevelmente na história do Sporting Clube de Portugal. O clube de Alvalade escreveu uma das bonitas páginas da sua história. Por entre goleadas, reviravoltas e golos memoráveis, o Sporting deu-se a conhecer à Europa do futebol. E de que maneira.
A Taça das Taças até começou de forma hostil para o leão. Os italianos do Atalanta bateram o Sporting por 2-0 na primeira eliminatória da competição. Os verdes e brancos viram-se na eminência de virar o resultado a seu favor na segunda mão. E não faltaram à chamada. No jogo em Alvalade venceram por 3-1, levando o jogo para um terceiro e último jogo, a realizar no campo adversário. À época ainda não vigorava o sistema dos “golos fora” pelo que o critério de desempate era, necessariamente, uma terceira partida. Em terreno italiano o Sporting levou de vencida a equipa da casa por 3-1 após prolongamento. A primeira batalha estava vencida e o resultado era motivo de esperança reforçada!
A ronda subsequente da Taça das Taças 63/64 trouxe ao reino do leão a glória eterna. O jogo do dia 13 de Novembro de 1964 marcou (e marca) a história de um clube. No primeiro jogo, o Sporting Clube de Portugal venceu, em Alvalade, os cipriotas do Apoel por uns clarividentes 16-1 (!), o que ainda hoje constitui um recorde nas competições europeias. Mascarenhas foi o herói da partida ao marcar 6 golos. Na passada quarta-feira comemoraram-se os 50 anos da efeméride, razão pela qual decidi dedicar a crónica a este resultado e, na generalidade, à conquista da Taça das Taças. Após um resultado tão dilatado, o segundo jogo da eliminatória de pouco serviu. Ainda assim, a turma de Alvalade culminou a passagem aos quartos-de-final com uma vitória por 2-0.
O Manchester United de Bobby Charlton e George Best dificilmente deixará de figurar no lote das melhores equipas de futebol de todos os tempos. Juntos, praticavam um futebol de alto quilate. Foi precisamente o temível United da década de 60 que o Sporting enfrentou em Fevereiro de 64. No final do primeiro jogo o destino parecia irreversivelmente traçado. O Manchester United passaria à próxima fase. Nada fazia prever que, após uma derrota por 4-1, o Sporting Clube de Portugal teria o discernimento necessário para protagonizar a reviravolta. Mas a verdade é que a 18 de Março os leões rubricaram uma exibição com contornos de epopeia. Osvaldo Silva marcou 3 dos 5 golos. João Morais e Géo Carvalho fixaram o resultado em 5-0! O todo-poderoso Manchester United caíra aos pés do leão que passava à fase seguinte em grande estilo.
A hora das decisões estava em marcha. O Lyon era o último obstáculo até chegar à tão ansiada final. À semelhança da eliminatória contra o Atalanta, o Sporting necessitou de “ir à negra” para levar de vencida os franceses. Após dois empates a zero e a um golo, Osvaldo Silva voltou a ser o Ulisses dos verdes e brancos. Sem nada o fazer prever, o Sporting alcançara a final da Taça das Taças, no primeiro ano em que participava na competição. Um feito incrível.
“O Cantinho do Morais que não esquece mais!”
Para a generalidade dos amantes de futebol os húngaros do MTK são uma equipa desconhecida. Contudo, na década de 60 o clube de Budapeste atingiu a final da Taça das Taças, à semelhança do Sporting. O primeiro jogo realizou-se em Bruxelas, exactamente meio ano depois dos 16-1 ao Apoel. O resultado final apontou um empate a três bolas, que levou o Sporting a disputar a finalíssima. Na distante Antuérpia fez-se magia. À passagem do minuto 19, João Morais colocou a bola na marca do pontapé de canto e desferiu um remate directo à baliza húngara. O Sporting aguentou a vantagem e, no final, levantou a Taça! O feito de Morais colocou o mundo do leão em apoteose. À chegada a Lisboa, os jogadores leoninos ergueram a taça com orgulho, ao som dos aplausos e “vivas” dos adeptos.
A Taça das Taças constitui o maior feito da história leonina. Praticamente 50 anos volvidos, o Sporting ainda bebe o sabor da vitória de Antuérpia. Em cada jogo eletrizante recordo-me das grandes vitórias a que assisti. Contudo, relego constantemente a conquista da Taça das Taças para segundo plano. Injustamente. Desta forma, decidi fazer, no espaço do Bola na Rede que me é dedicado, a justa homenagem aos heróis de 64. Viva o Sporting!