O herdeiro português de Cruyff

    Frase nº 6 – “Se tens a posse da bola, precisas fazer com que o campo seja o maior possível; se não a tens, precisas de fazer com que fique o mais pequeno possível: Se os jogadores estiverem correctamente posicionados e adoptarem uma abordagem agressiva, ficarão mais próximos de roubarem a posse da bola ao adversário. Cruyff sempre advogou a pressão no momento de perda da bola, por forma a recuperá-la o mais rapidamente possível. Do mesmo modo, a sensação que eu tinha a ver os jogos do Benfica de Jesus era que o golo podia surgir a qualquer momento, porque a equipa sufocava o adversário, não o deixava jogar e ia tecendo uma teia cada vez mais apertada.

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    Pressão do Sporting de JJ na saída de bola do Porto (2016)

    Mesmo sem aqueles que foram os dois maiores desequilibradores da equipa no ano passado (Nani e Carrillo), isto pode observar-se agora no Sporting. O que dantes via no rival vejo agora no meu clube e, pela primeira vez desde o último campeonato ganho, tenho a sensação de que a minha equipa está sempre perto de marcar. A mesma aflição que anteriormente via nos adversários do Benfica, cada vez mais pressionados até apenas conseguirem despejar bolas – prontamente recuperadas por dois centrais encarnados muito subidos, lestos a iniciar uma nova investida atacante – vejo hoje (para já em menor grau, é certo) nos adversários do Sporting. E, importa voltar a insistir, isto acontece mesmo não tendo os leões, ao contrário do Benfica actual, um ataque demolidor. Bem sei que, actualmente, está na moda elogiar Rui Vitória, mas a verdade é que, desde que Jesus saiu, as águias têm feito o percurso contrário. Mais do que por qualquer modelo aplicado pelo treinador, os seus jogos são agora resolvidos pelas excelentes individualidades atacantes. Não é, por isso, totalmente surpreendente que até o frágil Boavista tenha jogado melhor e criado mais oportunidades (!) do que o Benfica. Mas claro que, enquanto os resultados aparecerem, aqueles que só ligam aos golos irão sempre bater palmas.

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    Organização defensiva do Benfica de JJ (2013)

    – Frase nº 7:  “Em média, os jogadores têm a posse de bola por 3 minutos. Portanto, o mais importante é o que fazer nos 87 minutos em que não tens a bola. Isso é o que determina se és um bom jogador ou não”: aqui reside uma das bases do sucesso no futebol moderno, que Cruyff ajudou a desenvolver. Não é por acaso que o Sporting tem a defesa menos batida do campeonato, algo que já não se verifica no final da época desde 2006/07. Jesus trabalha o processo defensivo de forma exemplar, dando a menor margem possível para erros – sejam eles individuais, a nível de profundidade, etc. A diferença para a organização defensiva de Marco Silva, por exemplo, é enorme. A forma como o actual treinador do Sporting articula os sectores médio e defensivo merece aplausos, especialmente por montar um bloco compacto que encurta o campo e concede pouco espaço. A isto acresce o facto de Jesus conseguir construir uma equipa com pendor eminentemente ofensivo e, simultaneamente, evitar que ela seja surpreendida em contra-ataque.

    Sporting de Jesus sem bola Fonte: blog Lateral Esquerdo
    Sporting de Jesus sem bola
    Fonte: blog Lateral Esquerdo

    Embora tendo sido sempre um defensor de Fredy Montero, consigo entender que o colombiano nunca tenha caído por completo nas boas graças de Jesus, uma vez que, apesar de ter outras grandes valias, não corresponde ao protótipo de jogador que se sacrifica pela equipa quando esta não tem a bola. Em sentido contrário, Adrien é um atleta que tem crescido muito com Jesus, compensando alguma falta de projecção do seu jogo ofensivo (que, valha a verdade, também tem melhorado, e o próprio modelo do treinador não será alheio a isso) com uma capacidade cada vez mais notável de recuperar bolas e ligar a defesa e o ataque.

    São vários, como tentei aqui provar, os pontos de contacto entre Johan Cruyff e o melhor treinador do campeonato português. Este tem sido o ano em que o Sporting pratica um melhor futebol desde que sigo este desporto. Não é de estranhar, portanto, que o reconhecimento de publicações internacionais aconteça (já que, por cá, estamos mais preocupados em montar um aparato propagandístico surreal em torno de um jovem que o Benfica quer valorizar para vender…). Com efeito, nos últimos tempos, desde a France Football à Four Four Two, passando pela World Soccer ou por páginas como a Première Touche (a ler, sobretudo este último, do qual se usou um vídeo para este artigo), têm chovido elogios tanto a Jorge Jesus como a atletas por ele potenciados. Não há coincidências.

     

    Foto de capa: Site oficial do Sporting CP

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    João V. Sousa
    João V. Sousahttp://www.bolanarede.pt
    O João Sousa anseia pelo dia em que os sportinguistas materializem o orgulho que têm no ecletismo do clube numa afluência massiva às modalidades. Porque, segundo ele, elas são uma parte importantíssima da identidade do clube. Deseja ardentemente a construção de um pavilhão e defende a aposta nos futebolistas da casa, enquadrados por 2 ou 3 jogadores de nível internacional que permitam lutar por títulos. Bate-se por um Sporting sério, organizado e vencedor.                                                                                                                                                 O João não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.