O inadmissível e a actualidade leonina

    a norte de alvalade
    Sem surpresa a UEFA rejeitou o protesto apresentado pelo Sporting, relativamente ao jogo com o Schalke 04. Surpresa isso sim, registei na tradução feita pela generalidade dos órgãos de comunicação social, que fizeram, de forma preguiçosa ou reveladora de ignorância, uma transposição literal da palavra inglesa “inadmissible”. Ora o protesto do Sporting não foi considerado inadmissível, no sentido de “intolerável” ou “inaceitável” mas sim rejeitado como inválido, o que é bem diferente. Saúde-se a explicação dada pelo Noé Monteiro, ontem na Antena 1. (ouvir neste link)

    Questões de semântica à parte, vinco o sentido de um outro post sobre a matéria: o Sporting fez muito bem em protestar. Era, isso sim, inadmissível que não o fizesse. Mas, insisto, é lamentável que o tenha feito nos termos que o fez. O que UEFA veio dizer é que os regulamentos não prevêem quer a repetição do jogo quer a entrega do valor pedido pelo Sporting. Pior é o Sporting aceitar a troca de um principio – a da reposição da justiça – por um valor monetário qualquer que ele seja, quando pede “a repetição ou o dinheiro.”

    A contratação de Sara Moreira e o atletismo
    Acabaram por se confirmar os rumores que já circulavam há alguns dias sobre a possibilidade de o Sporting contratar Sara Moreira. Uma excelente noticia que se junta a outras de abandonos já confirmados e de rumores de mais saídas. Provavelmente será melhor esperar mais algum tempo para se perceber qual o sentido das mudanças numa modalidade que outrora já deu tanto ao clube mas que, face à realidade instalada, requer uma profunda reflexão. É verdade que as verbas despendidas pela modalidade não se assemelham ao que se gasta no futebol, mas não é menos verdade que os tempos em que as camisolas do clube são envergadas pelos atletas da modalidade são escassos.

    Já se pode estar preocupado com a formação sem ser acusado ou insultado?
    A formação é desde há muito tempo um tema caro neste espaço. Infelizmente, tanto agora como no passado, demonstrar preocupação, discordar de determinadas decisões ou até de avaliações de jogadores, é quase sempre entendido como pretexto oportunista para fazer “oposição”. O tempo, como sempre, encarregar-se-á de fazer justiça.

    Acontece que a semana foi mais uma vez marcada pela continuação da instabilidade em Alcochete. A época leva pouco mais de 3 meses e o rodopio de treinadores continua. A demissão de Bento Valente deve ser entendida como um verdadeiro tiro no porta-aviões, se atendermos à forma como o seu regresso havia sido anunciado. A par disso os resultados são os que se sabe, com as humilhações consecutivas a nível internacional a contrastarem com os pergaminhos do clube nestes escalões. A saída de Lima não ilude a dúvida sobre a qualidade do plantel de júniores, por exemplo. Qualidade que vem sofrendo erosão consecutiva e foi a qualidade, como sempre, que fez a formação do Sporting deter o estatuto que detém. Estatuto que não nasceu ontem, mas que pode acabar amanhã se as decisões certas não forem tomadas. Construir leva tempo, implodir não.

    Virgílio é o nome no centro do furacão. Tido pelo presidente como o “o homem que respira futebol” e a quem foi entregue o poder (e o fardo) de tudo decidir em Alcochete, vem acumulando uma série de decisões altamente questionáveis. Despedir treinadores com a época a começar ou com poucas jornadas decorridas é pelo menos sinal de mau planeamento. Tenho também muitas dúvidas que a preferência por nomes de Sportinguismo inquestionável como Barão ou Venâncio, mas sem nada que se recomende no curriculum, sejam as medidas correctas. Aliás, tal como os seus ex-companheiros, além do passado em comum, registam também em comum quase duas décadas de afastamento quase total do futebol, quer profissional quer de formação.

    As noticias às pinguinhas sobre a auditoria
    Começou por se saber que o clube iria processar ex-dirigentes e profissionais, o que já parece estar em curso. No fim-de-semana “soube-se” que Gomes Pereira gastava muito dinheiro em medicamentos, o que o antigo responsável pelo departamento clínico veio agora desmentir. Não sei a quem interessa este tipo procedimento, o Sporting não ganha nada com tipo de exposição.

    Sobre este tema chamaria à atenção o que se vem passando no Barcelona, cujas feridas das acções intentadas contra ex-dirigentes dividiram profundamente o clube e custarão muito mais do que este alguma vez receberá. Isto se alguma vez receber alguma coisa, uma vez que as acções movidas a ex-dirigentes foram recentemente rejeitadas judicialmente, mas as suas consequências ainda permanecerão por tempo indeterminado.

    A propósito deste tema dizia ontem o conhecido jornalista espanhol Martin Perenau:

    1.- Sandro Rosell, el más votado de la historia, pudo ser el presidente de la concordia en el Barça, pero eligió gobernar desde el rencor.

    2.- Rosell heredó el mejor equipo de siempre, un gran entrenador, una Masia bien dirigida y una metodología y modelo de juego irrefutables.

    3.- Rosell también recibió una herencia mala. Heredó problemas de gestión, carencias, errores y defectos.

    4.- Rosell pudo ser magnánimo: perfeccionar la herencia buena, hacerla suya y aprovechar los réditos. Y limpiar y corregir la herencia mala.

    5.- Sandro Rosell optó por el rencor como guía y norte de su mandato. Hoy, es un fantasma errante porque el rencor nunca construye nada.

    Quem sabe nós pudéssemos aprender alguma coisa com isto.

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    José Duarte
    José Duarte
    Adepto do Sporting Clube de Portugal e de desporto em geral, especialmente de futebol.                                                                                                                                                 O José não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.