O motor não aguenta até Bragança

    Definir o significado das palavras é navegar pelo mar da curiosidade. O tempo urge e o dicionário de quem lê ou escreve com frequência inquieta-se pelo facto de novos vocábulos borbulharem e a necessidade de encontrar formas díspares de informar ou opinar sobre algo crescer. A vida de quem tem ou pretende ingressar neste modo de vida exige esta preocupação em aconchegar os textos, em adorná-los à nossa maneira e a cobri-los quando o frio atraca ou quando a nudez se verifica.

    Saudade. Aquela palavra tipicamente portuguesa que, por mais que a alma lusa se esforce por descodificá-la, paira a sensação de que um acrescento na explicação favorecia a transmissão da mensagem. Um conceito dúbio para quem se encontra à demanda de domar a ferocidade, o contorcionismo e a elasticidade das palavras: o circo edifica-se, mas o vocábulo é o palhaço que, apesar dos traços de ingenuidade e do ar dócil e afável, atormenta as cabeças dos mais imberbes e os remete para a ideia do medo característico dos thrillers. Um “IT” cozinhado e temperado com realidade.

    Neste momento, vivo defronte de um puzzle: numa mesa, encontram-se as diferentes peças espalhadas, viradas do avesso, à espera que alguém as eduque e as agregue com o simples desígnio de contribuir para a harmonia e para a construção de uma imagem lúcida, viva e sem qualquer traço de opacidade. O retrato de Daniel Bragança!

    Na Segunda Liga, o jovem leão tem mostrado qualidade para outros patamares
    Fonte: Estoril Praia SAD

    Aqui, colidimos, outra vez, com a nostalgia. Nostalgia essa que o clã leonino ainda não vivenciou, ainda não bradou aos céus, ainda não agradeceu aos deuses que delegam o desporto rei pela alegria que é contemplar tal imberbe com um músculo, visão de jogo e qualidade de veterano. Questiono-me, de todas as vezes que o vi jogar, se as chuteiras se tinham transfigurado em pantufas ou em qualquer outro tipo de calçado suave e leve. À boa moda da gíria futebolística, o miolo era ocupado pelos pés de veludo do internacional sub-21. Além disto, elevo o sadomasoquismo do jovem recém alojado no Estoril: o cabelo, imagem de marca, comprido e liso, nunca foi impedimento para a orquestração de ataques e contra-ataques letais nem à frequente metamorfose em batalhões e tanques de guerra dispostos nas pelejas travadas a meio campo e nos duelos individuais com capitães adversários.

    Palrando “sportinguez”, o resultado da análise relata algo deste género: Frederico Varandas, durante a pré-época, comprou uma máquina que ainda necessitava de montagem; posto isto, desde o primeiro momento, rotulou Daniel Bragança como peça acessória e, a mando da sua ingenuidade, emprestou-o a um clube de uma divisão inferior; ora, a máquina, faltando-lhe uma das componentes que a alicerçava, quando ligada à tomada, é substituída por Idrissa Doumbia: após faíscas sucessivas, o motor aquece, a reação esvai-se num fumo negro e o motor cessa a sua atividade por sobreaquecimento. O médico, numa atitude de desespero e desistência pelo choro dos adeptos, comunica à assistência técnica a sua inaptidão, mas a chamada cai imediatamente. Mais tarde, foi informado que a ajuda só chegaria em janeiro pela chuva de pedidos.

    Até lá, teço súplicas para que o motor não expluda.

    Foto de Capa: Sporting CP

    Artigo revisto por Diogo Teixeira

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    Romão Rodrigues
    Romão Rodrigueshttp://www.bolanarede.pt
    Em primeira mão, a informação que considera útil: cruza pensamentos, cabeceia análises sobre futebol e tenta marcar opiniões sobre o universo que o rege. Depois, o que considera acessório: Romão Rodrigues, estudante universitário e apaixonado pelas Letras.                                                                                                                                                 O Romão escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.