📲 Segue o Bola na Rede nos canais oficiais:
- Advertisement -

Há um “novo” Sporting, com ênfase nas aspas. Já foi uma equipa com um cunho muito forte do seu treinador, mas Ruben Amorim já saiu há quase um ano. Com a época em andamento e um plantel com a identidade do atual treinador do Manchester United tão vincada, Rui Borges preocupou-se em adaptar-se ao plantel (e bem) até ter tempo para impor o seu próprio estilo de jogo em Alvalade. Findada a época e com duas taças no bolso, era tempo de descansar e pensar na temporada 2025/2026, onde Rui Borges tem promovido algumas mudanças táticas, mas mantendo algumas bases.

Os preparativos para esta mudança começaram no mercado de transferências leonino: era importante trazer perfis novos, principalmente na defesa. Rui Borges aprecia laterais subidos e confortáveis em dar largura e chegada ao último terço e o único perfil do plantel do Sporting que encaixava nesta descrição era o de Maxi Araújo. Por isso mesmo, Ricardo Mangas e Vagiannidis foram alvos identificados pelos leões. Ao mesmo tempo, era preciso arrumar a casa no que toca ao setor de defesas centrais (ainda que o caso St. Juste seja constrangedor) e Kochorashvili traz mais opções e um perfil novo para o miolo.

Giorgi Kochorashvili Sporting
Fonte: Pedro Figueira/Bola na Rede

Claro que o elefante na sala deste mercado de transferências foi o ex-ponta de lança do Sporting, Viktor Gyokeres. Naturalmente, perder tal goleador é um duro golpe para qualquer equipa do mundo, mas, ao mesmo tempo, trouxe uma oportunidade: reformular a posição. Recorde-se que todos os ataques do Sporting na temporada passada terminavam, invariavelmente, em Gyokeres – a sua saída também agrega um encaixe financeiro e a possibilidade de trazer jogadores mais associativos e condizentes com o estilo de jogo do treinador, como é o caso de Suarez e Ioannidis, que até têm um perfil algo complementar, mas com algumas parecenças.

Ainda neste prisma, para realçar o trabalho no mercado de transferências, se a ideia fosse continuar o status quo, o sucessor de Gyokeres seria um jogador como Ivanovic, agora jogador do Benfica, e Conrad Harder ainda estaria no plantel leonino.

Naturalmente, a mudança é mais suave e torna-se fácil manipular as peças no tabuleiro quando há um núcleo duro de jogadores que vai prevalecendo ao longo do tempo: Pedro Gonçalves, Trincão, Inácio e Hjulmand são peças-chave na equipa de Alvalade e a base da equipa, onde dinâmicas e personalidades adaptam-se a qualquer sistema.

Morten Hjulmand Sporting
Fonte: Pedro Barrelas/Bola na Rede

Desta forma, há mudanças táticas e específicas em determinados momentos do jogo do Sporting, mas que ainda mantém as fundações deste plantel. Por exemplo, o Sporting ainda recorre a uma defesa a cinco quando o jogo é propício a tal, o Sporting constrói muitas vezes com três jogadores e procura muitas vezes Trincão em posição de receber, rodar e acelerar e Pedro Gonçalves entre linhas. Creio que Rui Borges tentou aliar a sua forma de ver o jogo com aquilo que o plantel já conseguia fazer e aos estímulos a que melhor reage, digo que não é uma combinação totalmente perfeita, mas é funcional. Passo a explicar:

O Sporting começa a partir do 4x2x3x1. Hjulmand e Kocho/Morita formam um duplo pivot, Pedro Gonçalves na esquerda, Trincão atrás de Suárez e Quenda na direita. No que toca à fase de construção, há muito que se lhe diga, dada a forma como o Sporting varia neste momento do jogo – por vezes, constrói em 2 + 2 com Inácio, Debast, Hjulmand e Kocho (ou Morita) a formarem um quadrado. No entanto, grande parte das vezes sai a três, seja com Hjulmand a baixar para o meio dos centrais, com Kocho ou Morita (dependendo de quem jogar) a descair para o lado esquerdo da defesa ou, ainda, com Vagiannidis ou Fresneda a juntarem-se aos centrais numa saída a 3-2-5 (próximo do que era o Sporting em ataque posicional com Ruben Amorim). 

Portanto, o Sporting, tal como nos anos anteriores, ainda movimenta três jogadores para a primeira fase de construção, a diferença prende-se em que não o faz com três centrais de raiz.

Rui Borges Sporting
Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

Não obstante que o conjunto de Rui Borges disponha de um leque de armas para sair a jogar com qualidade, há uma série de fenómenos que se mantém independentemente da forma como o Sporting decide abordar a construção: laterais bem projetados, principalmente o lateral esquerdo (uma vez que Pedro Gonçalves procura o espaço entre linhas, oferecendo o corredor ao lateral) e uma espécie de “dupla lateralização” no corredor direito, onde tanto Vagiannidis e Quenda dão largura à equipa, apesar do extremo procurar movimentos de fora para dentro para receber no pé.

Assim como era com Ruben Amorim, há uma procura por Trincão e Pedro Gonçalves atrás das linhas adversárias, um para acelerar o jogo, outro para receber no chamado half space e trazer critério ao último terço.

A diferença deste Sporting em concreto para o de Ruben Amorim é também no perfil do avançado: Gyokeres procurava esticar o jogo e descair para o espaço que os extremos abriam, Suárez quer ir ao encontro da bola, jogar de costas e tabelar. Ao juntar jogadores de perfil associativo, com boa leitura de jogo e ocupação dos espaços, o Sporting usa e abusa do corredor central e assume-se como a melhor equipa em Portugal a jogar em ataque posicional.

No momento sem bola, há algumas nuances. O Sporting quer recuperar a bola em terrenos altos e ficar pouco tempo sem ser a equipa que ataca, por isso, pressiona alto numa pressão homem a homem a todo o campo e fá-lo numa estrutura de 4x4x2, onde Trincão se junta a Suárez na primeira linha de pressão.

Francisco Trincão Sporting
Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

É uma forma de pressionar perfeitamente enquadrada no contexto, várias equipas das cinco principais ligas pressionam desta maneira, mas parece-me que esta é a parte mais deficitária do jogo leonino: perde-se em referências individuais e, quando o adversário promove movimentos constantes, cria dúvidas na pressão e abre espaços, expondo o meio-campo.

Isto aconteceu várias vezes em Alvalade frente ao Sporting de Braga e foi uma das principais razões pelas quais a equipa do Minho conseguiu ter conforto no jogo durante tanto tempo. Voltando à conversa dos perfis, há alguns jogadores não tão confortáveis no momento de pressão, como Pedro Gonçalves, Morita e Inácio. Repare-se, identifiquei um jogador de cada setor, o que por si só traduz-se num problema por parte do campo, sendo jogadores aos quais se pede para que pressionem homem a homem, há risco com pouca probabilidade de recompensa.

Talvez uma solução para este fenómeno seja a passagem para uma pressão mista, escondendo os pontos fracos da equipa com uma pressão à zona, mas ainda promovendo uma pressão homem a homem nos jogadores confortáveis e capazes de o fazer- também não seria a primeira vez que Rui Borges o faz, tal foi o clássico. À semelhança do que fez José Mourinho, no tal “matar dois com três”, também Rui Borges pressionou Bednarek, Neuhen Perez e Alan Varela com Trincão e Suárez, de forma a controlar o médio argentino. O problema do Sporting não está, contudo, na pressão que Trincão e Suárez fazem, porque o fazem bem, mas esta situação pode ser adaptada a outras partes do campo.

Pode ser importante também a inclusão de Diomande. É certo que Debast e Inácio dão garantias na construção através do passe, mas Diomande está mais confortável em saltar linhas e cobrir espaços e pode mitigar este problema de pressão.

Zeno Debast Sporting 2
Fonte: Ana Beles / Bola na Rede

O sistema de Ruben Amorim é uma estrutura rígida em 3x4x3, que se desmonta poucas vezes. Rui Borges traz uma premissa importante do futebol moderno: dinâmicas sobre sistemas. O Sporting ainda defende, ocasionalmente, em 5x2x3. O Sporting ainda procura por Trincão e Pedro Gonçalves atrás das linhas adversárias. O Sporting ainda constrói a três, como fez nos últimos cinco anos. O Sporting ainda pressiona alto, como fez nos últimos cinco anos.

A identidade voou para Manchester, mas os princípios ficaram e foram adaptados a uma realidade perfeitamente plausível.

Rui Gonçalves
Rui Gonçalves
Licenciado em Sociologia, o Rui Gonçalves aborda o futebol dentro e fora das quatro linhas. Através de um olhar crítico, escreve sobre tática, gestão desportiva e os seus impactos individuais e sociais.

Subscreve!

Artigos Populares

Triunfar para sonhar | Sporting x Club Brugge

Pouco mais de três semanas depois do empate do Sporting em Turim (1-1), diante da Juventus, os verdes e brancos preparam os seus motores para novo embate da Liga dos Campeões, desta vez no Estádio José Alvalade, diante do Club Brugge.

José Mourinho mantém números e continua 100% vitorioso contra o Ajax na carreira

O Benfica venceu o Ajax por 2-0 na Champions League. Emblema neerlandês é uma das vítimas prediletas de José Mourinho.

Amar Dedic vence na Champions League ao fim de 12 derrotas e manda para longe recorde negativo de ex-Sporting

O Benfica venceu o Ajax por 2-0 na Champions League. Amar Dedic venceu na prova ao final de 12 derrotas consecutivas.

PUB

Mais Artigos Populares

Ajax entra nos livros negros dos Países Baixos na Champions League depois da derrota com o Benfica

O Benfica venceu o Ajax por 2-0 na Champions League. Neerlandeses perderam os cinco primeiros jogos na prova.

Chelsea pode vir ‘pescar’ ao Dragão e levar 2 craques do FC Porto

O Chelsea pode avançar para as contratações de Samu Aghehowa e Victor Froholdt na janela de transferências de verão.

Vangelis Pavlidis com confiança em Franjo Ivanovic: «Pode mudar a negatividade que surge e não percebo porquê»

Vangelis Pavlidis analisou o duelo entre o Ajax e o Benfica, ganho pelas águias. Jogo da quinta jornada da Champions League.