O Sporting Clube de Portugal passa por um período difícil da sua vida, em que mostra falta de liderança, planeamento e organização. Todas estas características são essenciais para o sucesso de uma organização.
Torna-se estranho que essas premissas estejam em falta quando temos no comando do nosso clube alguém com carreira militar, o que deveria sugerir alguém rigoroso e que seguisse todos os códigos de planeamento, lealdade, liderança e estratégia.
Há 2500 anos, um general escreveu sobre o que um líder teria de ser e fazer para poder sair vitorioso em todas as batalhas em que se visse envolvido. O seu nome era Sun Tzu e escreveu “A Arte da Guerra”, manual que ainda hoje tem ensinamentos seguidos, não apenas para fins militares, mas também empresariais e sociais.
Assim, sendo o nosso presidente militar, e estando a liderar uma organização empresarial que vive diariamente envolta em lutas, com certeza terá conhecimento do livro, do autor, e terá também considerado muitos dos ensinamentos aí descritos.
Para liderar o nosso clube de coração, o presidente terá tido – ainda antes de o ser – em consideração uma das lições de Sun Tzu que reza assim: “Informação é crucial. Nunca vá para a batalha sem saber o que pode estar contra si”. O Capitão Varandas, ao candidatar-se à liderança do Sporting Clube de Portugal e estando já no clube há tantos anos, deveria ter conhecimento da realidade do mesmo. Deveria ter reunido toda a informação que o pudesse ajudar a tomar a decisão com conhecimento de causa. Se já sabia que a herança era pesada, teria de conhecer os seus limites para saber se teria capacidade para gerir essa herança. (Falta saber o quão pesado ela é. Ainda não sabemos.)
O Capitão Varandas, desde que lidera o clube, decidiu também travar uma batalha contra adeptos das claques e os que não estão de acordo com a sua política. Cortou ajudas aos GOA, insultou adeptos que não estão de acordo com a sua liderança e provocou sócios numa assembleia que serve para debater ideias ainda que sejam contrárias às dele, tendo ultimamente ameaçado que irá alocar as claques numa “gaiola”. Também nessa vertente o presidente se deveria recordar de outro ensinamento do general que sugeria que “um líder lidera pelo exemplo, não pela força”.
Sun Tzu indica cinco perigos para o general que o podem levar à derrota, sendo um deles a imprudência. E esta guerra que Varandas criou com os seus sócios e adeptos é imprudente, porque um clube como o Sporting vive de dimensão social, de massificação. Sem isso, o clube começa a ganhar dimensão de “pequeno” (em termos de futebol jogado já é). Outro erro que pode entroncar neste, e teve no episódio de provocação endereçada aos sócios descrita acima, é o “temperamento precipitado”, assim como a “imprudência”. Se continua a insistir nesses erros, pode sair derrotado. Não sou eu que o digo. É o general.
Ninguém está imune ao erro, no entanto quem lidera tem de minimizar os seus. Tem de ter noção das suas limitações para antecipar o erro.
Sun Tzu tem ainda um ensinamento que deveria ser tido em conta por todos dentro do Sporting, tanto actuais como anteriores: “Um General não deve empreender uma guerra num ataque de ira, nem deve enviar suas tropas num momento de indignação. Entenda que um homem que está enfurecido voltará a ser feliz, e aquele que está indignado voltará a ser honrando, mas um Estado que pereceu nunca poderá ser reavivado, nem um homem que morreu poderá ser ressuscitado”. No entanto, as pessoas que querem gerir o Sporting, para se sentirem felizes e honrados, atacam em qualquer momento, nem que isso leve à destruição do Sporting.
Sun Tzu deixou também um ensinamento para como foi tratado o processo de destituição do anterior presidente e o posterior estatuto de sócio retirado. Dizia o general que “quando cercar o inimigo deixe-lhe uma saída, caso contrário, ele lutará até à morte”. Pois bem, tentaram, e continuam a tentar destruir completamente a ameaça “BdC”, o que lhe dá ainda mais força para lutar e origina a lealdade de seguidores. Neste processo, na ânsia de retirarem qualquer hipótese de regresso, criaram o que tanto temiam.
Na “Arte da Guerra” pode ler-se também que “só mudando a si mesmo, o homem pode mudar o que está à sua volta”. E o que está à volta do presidente do Sporting, neste momento, é o caos. Por isso, penso que estará no momento de parar e pensar o que estará mal, o que poderá ser mudado na estratégia. Porque não pode ser só a “herança pesada” a culpada de tantos erros destes últimos meses.
Somos um clube em constantes batalhas internas e talvez por isso agora tenhamos um capitão a liderar-nos. No entanto, a resolução nem sempre está na solução bélica. Porque, como também dizia o general filósofo, “evitar guerras é muito mais gratificante do que vencer mil batalhas” e, ainda, “a vitória é o principal objetivo da guerra, mas o verdadeiro propósito da guerra é a paz”. O Sporting precisa de paz e precisa de um “capitão” que a promova.
Para terminar, e à boleia do meu estimado Sun Tzu, deixo um último conselho para o presidente/médico/capitão Varandas. “A estratégia sem táctica é o caminho mais lento para a vitória. Táctica sem estratégia é o ruído antes da derrota”. E eu acho que continuamos sem estratégia. Havia a estratégia de deitar abaixo a anterior direção e depois esgotou-se. Falta uma nova estratégia. A de gerir o Sporting como um clube vencedor. Um Clube Grande. O Maior.
Eu não quero ensinar nada a ninguém, até porque não tenho essa capacidade. Mas é por isso que me auxilio de quem sabe. E acho que é unânime que o General sabia. Por isso, Capitão, oiça o General.
Foto de Capa: Carlos Silva/Bola na Rede
Artigo revisto por Diogo Teixeira