Roubos e hipocrisias

    O Sexto Violino

    “João, isto parece um país da América Latina nos anos 60. Se quiseres emigrar, emigra.”. Foi assim que o meu pai me recebeu depois de eu ter regressado do estádio no último sábado. Primeiro não percebi o contexto, depois fiquei surpreendido com o alcance dessas palavras e com a seriedade com que foram proferidas. Assim vai o estado de espírito de um sportinguista habitualmente calmo e ponderado… De facto, não é preciso pensar durante muito tempo para concluir que, da política aos negócios, da construção à justiça, todos os sectores são férteis em casos mais ou menos conhecidos e mais ou menos provados de corrupção, aliciamentos, burlas, desfalques e todo o tipo de falcatruas. Por que razão haveríamos de acreditar, por um segundo que seja, que no futebol seria diferente?

    O futebol português tem o condão de, como se costuma dizer, tirar a paciência a um santo – principalmente se esse santo for do Sporting. Eu, não sendo sequer crente, não tenho pretensões de ser um campeão do auto-controlo no que toca a futebol. Esta semana concentrar-me-ei apenas neste jogo, senão em vez de uma crónica fazia uma tese. Mas ainda assim vão sobrar-me temas… Não sei se me causa mais repulsa a arbitragem em si (já foi aqui analisada em pormenor, e bem, por outros redactores sportinguistas), se o facto de o árbitro nomeado para o encontro ter sido alterado à pressa (história muito mal contada), ou ainda o facto de figuras como Pedro Proença e Jorge Jesus virem gozar na cara dos sportinguistas afirmando que a arbitragem de Duarte Gomes foi “excelente” e que “esteve à altura das duas equipas”, secundados por jornalistas pseudo-imparciais que querem reescrever os factos do jogo. Mas sei que aquilo com que tenho mais dificuldade em lidar, talvez por constatar que é um acto quase mecânico e transversal a praticamente todos os benfiquistas, é o pretenso fair play que estes demonstraram depois do final do jogo.

    Em 2009, Duarte Gomes passou à frente do aquecimento dos guarda-redes dos leões e empurrou um treinador do clube em pleno Estádio de Alvalade
    Em 2009, Duarte Gomes passou à frente do aquecimento dos guarda-redes dos leões e empurrou um treinador do clube em pleno Estádio de Alvalade

    À partida já seria estranho ver, depois de um derby como este, alguém a fazer um comentário ao jogo, por pequeno que fosse, sem mencionar a arbitragem. Mais estranho se torna ver benfiquistas, que no último derby fizeram um choradinho que durou até este sábado por causa de um fora-de-jogo milimétrico e de um penalty (lances em que têm razão, diga-se, mas esquecem-se convenientemente de um outro penalty a favor do Sporting e que o seu golo nasce de uma falta mal assinalada), a escamotear aquilo que se passou em campo e a desviar as atenções para o “grande jogo” que foi e o “excelente espectáculo” proporcionado pelas duas equipas, dando também os parabéns ao Sporting que foi, segundo muitos deles, “um digno vencido”. Que foi um grande jogo todos sabemos, e que as duas equipas proporcionaram um excelente espectáculo também. Agora aquilo que – a bem da verdade desportiva e da honestidade de todos os que viram o jogo – devia ser discutido (e nem sempre o é) são os erros constantes de Duarte Gomes em prejuízo do Sporting. E só neste jogo ficaram dois penaltis claros por marcar.

    Os sportinguistas não precisam da benevolência nem dos elogiozinhos hipócritas vindos de adeptos do clube da Luz, que criticam o Porto quando não ganham mas que lhe imitam as práticas na perfeição quando são beneficiados (será por isso que uns e outros se dão tão mal…?). Aquilo de que precisamos com urgência é de árbitros competentes, não de árbitros nomeados à pressa que já admitiram publicamente o seu benfiquismo, que já achincalharam sportinguistas no Facebook, que já marcaram 3 penaltis em 11 minutos a favor do Benfica, ao passo que, com o Sporting, estiveram envolvidos em situações vergonhosas como um certo jogo com o Portimonense em Alvalade ou um lamentável e provocatório empurrão a um elemento da equipa técnica leonina antes de um jogo com o Setúbal. Duarte Gomes foi o protagonista, provavelmente orgulhoso, de todos estes momentos que relatei. Teve como prémio apitar um Benfica-Sporting decisivo, em mais um capítulo da saga “limpinho, limpinho”. É assim o futebol português… Já lá vai o tempo em que havia a necessidade de falar em código nos telefonemas.

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