Repare-se que Pizzi é, cada vez mais, um jogador de impulso para lá da zona defensiva. Cervi, em contrapartida, diminui algum défice de equilibrio na segunda linha, tratando-se, ao contrário do que se previa, de um jogador acima da média na inteligência defensiva. Estará na prestação do outro elemento a expressão da produtividade ofensiva do Sporting: Fejsa, que domina a transversalidade do bloco onde circula, terá certamente mais trabalho com o Sporting em posse. E neste capítulo, admitindo que esta ideia esteja errada, podemos ter um Gelson, à semelhança do jogo da Polónia, mais presente no centro do terreno visando a multiplicação dos espaços. Há nestas duas equipas uma equivalência qualitativa na organização defensiva. Os quatro centrais que estarão em campo são, sem exepção, completos em todas as tarefas. Saliente-se que finalmente o Sporting possui a dupla que Jorge Jesus promove nas suas equipas, com jogadores altos, possantes e desenvolvidos na construção a partir da primeira linha. É por isso que considero que em lances de construção será maior a probabilidade de aparecimento de golos devido ao talento da ofensividade da equipa, do que propriamente pela ineficácia da cultura defensiva.
Por fim, outra das possíveis interpretações do jogo: a densidade táctica de cada equipa fará, de certeza, com que a posse seja repartida em vários momentos. Em virtude disto, e a par do que acontece em jogos idênticos, alguns jogadores são obrigados a reinventar o seu estilo. Uma noção simples: com dois pêndulos defensivos de cada lado, a função do jogo lateral poderá alterar-se para quem circula habitualmente pelo corredor. E se dúvidas há sobre esta ideia, avalie-se a maioria dos golos dos últimos clássicos, e perceba-se aquilo que sucede quando a ocupação de espaço no acompanhamento à zona é constante entre duas equipas deste nível. E depois de tudo isto, deixemos algum protagonismo para a parte mais crua do futebol. É claro que há falhas e golpes de magia. É claro que muitas vezes aquilo que se estuda no balneário não acontece com os pés na relva. Também é claro que este Benfica é uma equipa cada vez mais distinta daquela que Jorge Jesus construiu, mas também é claro que este Sporting é, de novo, uma equipa que, para ser vencida, necessita de ser posta à prova para além dos golpes de sorte. Mas, acima de tudo e de todas as antevisões, é claro que um Clássico é sempre um Clássico.