Sporting 1-1 Belenenses: Apavorante, Marco

    Escolhi díficil. O fácil é de todos

    Talvez te tenham dito demasiadas vezes que o Sporting é um clube grande. Que há outras expectativas; que agora todos os olhos se colaram a ti, sem pestanejar, durante dias, semanas, meses ou o tempo que o insucesso demorar a aparecer. Esquece tudo isso. Sê tu mesmo e confia nas convicções que te fizeram cá chegar. Maurício e Sarr?

    Nem tu acreditas nisso, Marco.

    O jogo de hoje foi, se quiseres ser optimista, um abre-olhos. À 4ª jornada não há mundos perdidos mas pode haver muitas lições aprendidas. Depende da forma como se encaram as derrotas. Afinal, sempre ouvi dizer que o prazo do insucesso é determinado pelos derrotados. E assim será com o Sporting que, neste momento, se encontra derrotado.

    “Não fomos eficazes, é a ilação que tiramos da partida”

    Já depois de ter escrito os primeiros parágrafos deste artigo, li as tuas declarações que coloquei em cima. Se a única ilação é que a tua equipa não foi eficaz, mais derrotas virão. Vejamos:

    Patrício; Esgaio, Maurício, Sarr, Jefferson; William, Adrien, André Martins; Carrillo, Nani e Slimani. Foi assim que começou o Sporting frente ao Belenenses. No corredor central, Patrício, Maurício, Sarr, William, Adrien, André Martins e Slimani. À excepção de William e André Martins e, com muita bondade à mistura, de Adrien, nenhum dos outros cumpre o bê-á-bá exigível para se ser jogador de futebol, ou seja, a capacidade de receber, enquadrar, progredir e passar a bola jogável. E tu, melhor do que qualquer um dos adeptos, sabes o quanto isso é importante, ainda por cima no mais importante dos corredores do jogo, não sabes? Sabes. Mas por alguma razão ainda tentas(te) ganhar jogos de futebol sem atletas que o pratiquem. Explica-me, Marco.

    E o jogo até começou favorável. Na verdade, foi-o até final. O Belenenses é para lá de fraquinho, e digo-o com a tristeza de quem cresceu a simpatizar com o clube. Foi anedótico o número de vezes que entregaram a bola no segundo ou terceiro passe da sua construcção, bem dentro do próprio meio-campo. Numa dessas vezes, Carrillo aproveitou e marcou. Nas outras, não foram eficazes. Ou competentes? Para além dos erros de palmatória que a equipa de Vidigal foi tendo o luxo de poder cometer, o Sporting deparou-se com um cenário raro no futebol dos nossos dias: jogou com 10 de campo mas o adversário só se importava com 8. Sarr e Maurício podiam ir quase até à área contrária sem oposição… mas não queriam. Ou não sabiam? O futebol não se esgota num momento do seu jogo e os defesas não servem só para defender nem os avançados só para atacar, Marco. Mas tu sabes disso.

    Provaste-o no Estoril, lembras-te?

    Pelo meio, no único ataque do Belenenses que assim pode ser apelidado, Maurício decidiu ir pressionar quem faz o cruzamento à linha, concedeu esse cruzamento e, no momento em que a bola acabou por chegar ao espaço de finalização – já depois de outro cruzamento!! -, ele ainda lá estava a recuperar, ou fora da área ou muito perto disso. Como vais abordar este lance durante a semana sem que o teu central não deixe de se sentir jogador de futebol, Marco?

    Quando a bola chega ao avançado do Belenenses, Maurício nem sequer aparece perto do adversário
    Quando a bola chega ao avançado do Belenenses, Maurício nem sequer aparece perto do adversário

    A primeira parte terminou ainda com dois lances em que Slimani finalizou diante de Matt Jones (grande jogo, rapaz!) quando tinha um colega – em cada uma das jogadas – sem qualquer tipo de oposição ao lado. O bê-á-bá que referi também contempla a capacidade de fazer todo o mencionado mas de cabeça em cima. Faltou-lhe isso nesses momentos como faltam tantas outras coisas em tantos outros momentos ao ponta-de-lança argelino. A finalização no ar é só um ínfimo momento de tudo o que o jogo requer. Não te esqueças do Montero nem te esqueças que a equipa é refém das ideias dos seus praticantes. E as ideias de Montero em nada se comparam às de Slimani. O Sporting ganha quer os golos sejam do avançado ou do lateral.

    “Na segunda parte foi mais do mesmo…dominámos o jogo mas jogámos com mais ansiedade e…com o coração…”

    E dizes isso com a consciência de que o jogo se joga com a cabeça, não dizes? Desculpa-me a ousadia – não duvides de que sou admirador de tudo o que tens feito -, mas onde estava a tua quando tiras o que estava a ser o teu melhor médio? Desafio o mais paciente ao exercício de contar as perdas de bola que Adrien teve ou proporcionou aos colegas. E saiu o André Martins? Marco, Marco, esquece que o Sporting é um clube grande e que nos clubes grandes os egos e os estatutos têm de ser respeitados.

    A segunda parte foi como dizes: mais do mesmo. Mais de más decisões, de más ideias, da falta de qualidade quando a bola chegava ao nosso avançado, da falta de qualidade quando a bola passava pelos nossos centrais que, sem recurso a estatísticas, diria que foram quem mais teve a bola nos pés. E assim é complicado. Pelo meio ainda deu para o Sarr fazer um balão desde o meio-campo para o Patrício ou para o mesmo proporcionar a melhor oportunidade da 2ª parte ao avançado do Belém. Tu, que estás com eles todos os dias, não achas que o Oriol daria (e mereceria!) um lugar no eixo da defesa? Tem o bê-á-bá, pelo menos. E parece-me inteligente: faria tudo o que entendes que um central deve fazer. E os que jogaram não fazem, pois não?

    No fundo, quem tem razão é o Nani. “Temos de fazer muito melhor e ganhar experiência em campo”. Têm de fazer mesmo muito melhor, mas não te assustes. Tudo melhora assim que passes a praticar aquilo que fez com que todos te admirassem. O colectivo acima dos estatutos, os melhores a jogar e as ideias correctas. Não vão ganhar sempre, mas vão estar sempre mais perto de ganhar. Pensa nisso, Marco. À 4ª jornada não há mundos perdidos.

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    João Almeida Rosa
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    Adepto das palavras e apreciador de bom Futebol, o João deixou os relvados, sintéticos e pelados do país com uma certeza: o futebol joga-se com os pés mas ganham os mais inteligentes.                                                                                                                                                 O João não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.