Sim, é verdade que o Sporting roda a equipa na Taça da Liga. Sim, é verdade que a maioria dos jogadores que têm alinhado nesta competição contabilizam poucos minutos na equipa principal. Sim, é verdade que há muitos “miúdos” no onze. Sim, é verdade que alguns deles têm dado boas indicações. Mas o que também é verdade é que o Sporting podia já ter a qualificação selada desde o jogo contra o Belenenses, em que esteve a ganhar por 2-0. Perdeu nesse dia, empatou agora contra um Vitória de Setúbal sem argumentos e, como resultado, arrisca-se a ficar de fora das meias-finais.
Fica bem desdenhar a Taça da Liga. Os adeptos dos três grandes fazem-no, e os seus dirigentes também já enveredaram pelo mesmo caminho. Contudo, o certo é que o “parente pobre” das competições portuguesas – e cuja existência eu também questiono – já salvou mais de uma vez a época ao Benfica. O Porto, por seu turno, no ano passado também passou de uma posição de pseudo-desinteresse na Taça da Liga para um all-in no referido troféu, quando percebeu que poderia não ganhar nada nessa época. Também me recordo da desilusão que foi perder a primeira final contra o Vitória de Setúbal – ei-los novamente… – num jogo em que o Sporting jogou pessimamente e em que viria a sucumbir nos penalties. Conclusão: todos dizem que esta taça não interessa mas, quando as coisas apertam, todos se agarram a ela.
Mesmo que assim não fosse, manda a História e o estatuto do Sporting que se entre em qualquer campo para ganhar. Jogar com os suplentes é uma opção perceptível mas arriscada e, se o treinador decide apostar neles, é porque acha que têm capacidade para ganhar os jogos. A este respeito, no caso de o Sporting passar, e excluindo duas ou três possíveis excepções, espero que a equipa apresentada daqui para a frente seja a que costuma jogar no campeonato. O clube não ganha nada há demasiado tempo e não se pode dar ao luxo de menosprezar competições. Se nos deixarmos no nosso canto a pregar orgulhosamente aos peixes que somos muito puros e muito diferentes de todos, é meio caminho andado para ficarmos a ver os rivais festejarem mais troféus.
Não quero parecer injusto com as “reservas” do Sporting – aliás, comecei por dizer que há ali qualidade. Mas hoje a equipa falhou quando não podia ter falhado. O jogo começou bem, com um auto-golo de Ney Santos que desbloqueou o marcador, e o Sporting partiu para uma boa primeira parte. Contudo, o guarda-redes sadino Lukas Raeder evitou que a partida ficasse resolvida no melhor período leonino. Nota também para a falta de eficácia do Sporting, uma “doença” de alguns jogos da equipa principal que hoje parece ter alastrado aos restantes elementos do plantel.
E, já se sabe, quem não marca arrisca-se a sofrer. Foi o que aconteceu no início da segunda parte, quando um livre da direita foi defendido de forma deficiente pelos leões e originou o golo de Miguel Lourenço. Na única oportunidade que teve em todo o jogo, um Vitória já reduzido a dez elementos por expulsão de Lupeta aos 41 minutos conseguiu empatar em Alvalade. Até final, os leões foram perdendo gás. Tanaka apostou invariavelmente na meia-distância e esteve perdulário, Esgaio enviou uma bola ao ferro (a segunda, depois de um livre de André Martins) quando se lhe exigia muito melhor, Podence começou bem mas decaiu, André Martins e Rosell esconderam-se demasiado, Wallyson não esteve mal mas não conseguiu assumir o meio-campo sozinho e nenhuma das opções vindas do banco – o regressado Diego Rubio, Gelson Martins e Hadi Sacko – acrescentaram qualquer objectividade a um Sporting com mais bola mas bastante amorfo e a apostar em demasia no jogo lateralizado. Exigia-se maior pendor ofensivo tanto a Miguel Lopes como a André Geraldes, que ocuparam as duas faixas do sector recuado.
Sem jogar nada por aí além, o Sporting teve ocasiões mais do que suficientes para vencer o jogo. Merecia-o, até. Mas a verdade é que não as concretizou, e agora terá de torcer para que nem Vitória de Setúbal nem Belenenses ganhem os seus jogos para continuar em prova. Por duas vezes os leões tiveram o apuramento na mão, por duas vezes o deixaram escapar. É o que acontece quando se está a ganhar por 2-0 no Restelo e se baixa a guarda. É o que acontece quando não se “mata” o jogo no melhor período e depois se tem uma desatenção a jogar contra 10. É, no fundo, o que acontece quando se brinca com o fogo. A eliminação da Taça da Liga está aí ao virar da esquina. E, pior do que isso, só mesmo ver Sportinguistas a dizerem que não lhes faz diferença porque “não ligam” à competição. Deve ser por o Sporting ganhar tantos títulos que se dão a esse luxo.
A Figura:
Daniel Podence – com Gauld lesionado foi o jovem extremo quem mais se destacou, sobretudo na primeira parte. Muito dinâmico e tecnicista, faz lembrar Simão Sabrosa – calma, é apenas no estilo de jogo – na forma como joga ligeiramente flectido e como, imprevisível e endiabrado, leva a bola colada ao pé. Tem de aprender a definir melhor os lances, mas nada que a idade, a experiência e os ensinamentos do treinador não corrijam.
O Fora-de-Jogo:
Eixo defensivo – desta vez, o adversário nem precisou de um erro clamoroso dos centrais para marcar. Bastou uma má abordagem num livre dafensivo para Sarr, Rabia e companhia borrarem a pintura. Num jogo em que o Vitória quase não atacou e mesmo assim fez um golo, quem mais poderia ser o destaque negativo…?
Fotos: Facebook Oficial do Sporting CP