«Há várias formas de vir jogar a Alvalade», afirmou Luís Freire, técnico do Rio Ave. Amplo, mas verdade. Neste tipo de partidas, muitos esperam a típica e válida estratégia: bloco defensivo fechado e compacto com linhas baixas, procurar referência em jogo direto e contra-atacar rápido em profundidade. O Rio Ave não foi assim. Mirou o leão nos olhos e ambicionou por mais. Com a pressão impregnada no ar, quis pressionar. Teve coragem. Faltou maiores recursos, porque a ideia e a identidade estavam lá.
Sem a presença “chata” de Viktor Gyokeres no meio dos centrais, Luís Freire decidiu subir as linhas para condicionar a segunda e sobretudo a primeira fase de construção do Sporting. Resultou. Os leões tiveram várias dificuldades na saída de bola. No que toca à posse, depois uma entrada difícil, o Rio Ave também não teve medo de ter bola e, na segunda parte, foi inclusive melhor equipa. Luís Freire e o Rio Ave perderam, mas pretenderam disputar a partida e foram audazes. Também merecem crédito.
A subida de linhas tornou-se uma moeda de duas faces: resultou na pressão, mas deixou muito espaço nas costas dos defesas, que foi aproveitada pelo Sporting através de movimentos de rotura. A vida é assim: feita de riscos e só prospera quem os toma. Rúben Amorim leu bem o jogo e apontou todas as armas na mesma direção. «Eu não quero uma equipa que tenha 500 passes para criar perigo, porque é moda. Se criamos perigo com um passe, essa é a ideia».
Há outra questão. Se por um lado o Sporting sofre poucos golos e é a segunda melhor defesa do campeonato (4GS, atrás do FC Famalicão com 3GS), por outro desperdiça muitas oportunidades no ataque. É facto que continua a marcar golos e ganhar. É também facto que lidera a Liga Portuguesa. Contudo, um dia que crie menos e precise, há que afinar a eficácia. Pode sair caro.
Entre o controlo defensivo e a melhor finalização, Rúben Amorim deixou claro qual o “comprimido” que escolhe: «Mais do que marcar, é mais importante ter das melhores defesas. Queremos marcar mais, mas principalmente não sofrer». O caminho está traçado e, até ao momento, tem sido bem percorrido. Mas haverá muitas pedras no sapato, obstáculos e outros “animais” que se envolverão na corrida. Uma corrida que o leão é atualmente o Rei da Selva e se correr bem (palavras do míster) possui todas as condições para lá continuar.