Para começar, e porque não quero que ninguém se sinta “anormal” a ler este texto de opinião, quero desde já definir anomalia como algo “fora do normal” ou “singularidade”. Quero ainda enquadrar que este artigo vem no seguimento das declarações de um “Bruno Carvalho” sobre o número de títulos que o Sporting CP, FC Porto e SL Benfica ganharam nos últimos dez anos.
Diz o dito cujo que os de azul ganharam três, os de vermelho seis, e em 2020/2021 aconteceu uma anomalia. E eu dei por mim a concordar com ele, porque efectivamente o que aconteceu nesse ano foi algo que raramente se vê no futebol português.
Na época de 2020/2021 houve um clube que ganhou um campeonato de futebol em Portugal apenas com os méritos e qualidade de jogo demonstrada dentro das quatro linhas. Digam lá se isto não é uma anomalia na história do futebol português?
Foi um título ganho sem que se tenham levantado suspeitas de malas de qualquer cor a fazer “transfers” para qualquer ilha, fruta tropical de qualquer origem ou conversas (telefónicas ou escritas) codificadas e “desmistificadas” por qualquer tipo de cartilha. Algo fora da normalidade a que estamos habituados.
Mas já que falamos de anomalias, o que dizer de pessoas que sugerem terminar com o VAR, uma ferramenta que, sendo bem usada e para o seu propósito original, ajuda a tornar mais justas as análises que ajudem a decisões de lances que podem fazer a diferença num resultado final? No fundo, parece-me fora do normal alguém querer acabar com algo que tem por objectivo tornar o futebol mais justo (ainda falta limar algumas arestas para acabar com as omissões que permitem que alguns “espertos” aproveitem para enviesar as regras estipuladas).
Esta sugestão talvez tenha a ver com o facto de vir de um treinador que orienta um clube (curiosamente o mesmo do Sr. Bruno) que vinha habituado à “normalidade” de haver hegemonias de um só clube que duravam quatro ou cinco anos. Com o VAR surgiu a anormalidade de haver uma maior alternância quanto à cor do clube que vence. Mas o futebol português não está habituado a que um determinado agente não consiga dominar a seu bel-prazer o vencedor.
Anormal é querer acabar-se com a imprevisibilidade associada ao futebol. Anormal é achar normal ganhar-se custe o que custar sem nos preocuparmos como essa glória foi alcançada. Anormal é ter-se tornado normal haver no futebol esquemas que todos sabem haver, mas já ninguém faz questão de denunciar por se ter tornado normal que tudo passe incólume e acima da lei.
Portanto, e concluindo, o Sporting é orgulhosamente o clube que defende a anormalidade no futebol português, e que continuará a querer ganhar de forma anormal comparando com a normalidade do futebol português.
O Sporting irá continuar a defender e promover essa anormalidade até que se torne normal.