Se eu tivesse batido a bota no mais recente fim de semana, (não) morreria feliz. Já toda a gente – em algum momento da sua triste existência – proferiu a frase anterior face a algo inesquecível e quem disser o contrário estará a mentir, mesmo que fique desdentado por obra do Espírito Santo ou por algum sopapo estilo última peça de um puzzle dificílimo de completar. Aos 22 anos, a estreia no Estádio José Alvalade XXI acionou, embora inadvertidamente, o estímulo suicida que cada Homem possui. Disse-o aos meus pais convictamente até.
Desta vez, a minha imbecilidade conheceu limites. Após a tirada ignóbil, realizei a devida introspeção do acontecimento e prometi não abrir a boca para dizer o que quer que fosse durante uma semana. (Apostas com o intento de descortinar se fui ou não capaz de cumprir a promessa são entregues na morada de residência, com a respetiva quantia em mão). Chegar a Lisboa na companhia de amigos, contemplar a agitação em dia de jogo das roulottes até ao recinto desportivo, ter o verde como fundo horizonte, subir a escadaria até ao setor B14, aguardar o início da partida e roer os sabugos, integrar o uníssono na Marcha e n’O Mundo Sabe Que e festejar três vezes o golo do Sporting CP uma só vez? Sentir arrepios e lacrimejar somente naquele curto período?
Após a análise detalhada, concluí que as palavras choveram sem autorização do S. Pedro. Nem cerveja tinha bebido para adentrar por aquele estado de insanidade e pura anarquia mental. Depois, na sequência destas brincadeirinhas, fico a matutar quando é que o relógio badalará a minha hora. Não é que a morte me assuste ou me tire o sono, mas tenho saudades das noites em que dormia sete ou oito vezes sessenta minutos. O parágrafo que se segue retoma à estreia na bancada e às múltiplas sensações e orgasmos sanguíneos tidos durante o encontro.
Os meus amigos avisaram e eu fiz de conta. Foram simpáticos e alertaram-me para o peso que iria suportar mal a bola sofresse as pancadas habituais, mas coloquei aquela capa de macho, avesso a emoções e a abalos térmicos elevados. Cá em casa, acusam-me frequentemente de orgulho extremado e de marcação homem a homem relativa à razão. São pais e basta. Os de fora perceberam isso recentemente. No final das contas e dos conselhos, pude comprovar que fazer escolta a alguns dos poemas de Ricardo Reis antes da visita à capital não surtiu o efeito desejado.
O primeiro teste (de fogo) do Sporting diante do SC Braga, na passada jornada, semeou algumas dúvidas naquelas que considero ser as aspirações do Sporting CP para 2022/2023. Ofensivamente, um desempenho de deixar água no bico de qualquer adepto pelos tentos apontados face à criação de novas movimentações e dinâmicas, mesmo sem Trincão rotinado a 100% e Paulinho largos furos abaixo daquilo que já demonstrou em jogos anteriores.
Defensivamente, as mãos teimavam em não sair do cimo da cabeça de qualquer adepto do Sporting: Sebastián Coates, Gonçalo Inácio e Matheus Reis pareciam aquelas almas que, imbuídas pelo nervosismo em catarse, abrem a boca no primeiro encontro e deixam a companhia desconfortável.
Contudo, tudo se modificou no serão de sábado. Os quase 32 mil espectadores empurraram a turma de Rúben Amorim para o triunfo, após 15/20 minutos de expetativa. Pedro “Pote” Gonçalves fez-nos acreditar que poderá repetir performances de 2020/2021 sob o alicerce de um ataque móvel e sem uma referência de área, a respeitar os trâmites de um novo puro. Matheus Nunes recusou propostas do estrangeiro e uma pessoa só consegue esboçar um sorriso.
A defesa voltou a serenar investidas adversárias, Manuel Ugarte fundiu-se num trator agrícola e limpou o meio-campo, Marcus Edwards assemelha-se ao motor com mais cilindrada existente no mundo automóvel e Francisco Trincão reforçou a parte muscular e parece estar mais capacitado para envergar o leão rampante.
Agora, para algo completamente diferente. Desde o prólogo da temporada desportiva que defendo acerrimamente a contratação de um ponta-de-lança que lute pela titularidade com o camisola 20 de maneira que se incremente o poder de fogo e o ímpeto ofensivo tanto nas competições internas, como nas competições externas.
Islam Slimani não conta vai fazer muito tempo. Bruno Tabata foi vendido ao Palmeiras sem ter uma oportunidade para exibir o valor que Rúben Amorim lhe conferiu. Rodrigo Ribeiro tem potencial, mas não passará de mera opção pela insistência na permuta entre extremos e segundos avançados.
Naquele dia, curiosamente, uma névoa furtou-me a evidência. A ausência de Paulinho originou uma maior afinação junto das redes adversárias do Sporting? Não sei. O ambiente envolvente adulterou aquela que parece ser a opção mais sensata? Não sei.
Rochinha e Nuno Santos podem equilibrar o pendor e acutilância no setor atacante dada pela tripla P-T-E? Não sei. Ao que parece, não temos nem mais um euro para investir em contratações. Avançados a custo zero eram uma opção se não precisassem de receber salário e se fossem pagos com refeições na cantina da Academia. Será que não se remedeia a situação com o capitão no seio da barafunda?
Neste momento, só possuo uma crença: no medo que sentirei – utilizando a mesma expressão – mal afirme ser esta a equipa na qual eu deposito esperanças para que se alcance o sucesso desportivo. Virão mais noites em branco, com certeza…