O Sporting CP sempre foi diferente de todos os outros. Ou pelo menos diferente dos mais diretos rivais, que durante anos dividiram connosco a luta pelo título de campeão nacional.
Nos últimos anos, os sportinguistas, na falta de títulos nacionais, foram obrigados a apegar-se a pequenas “vitórias” ou, se quiserem, pequenos feitos que reconhecemos como nossos, apesar de eu sentir alguma vergonha em termos de nos agarrar a alguns deles para nos sentirmos melhor com a falta de ambição que começa a existir no ADN do clube.
Assim, e apesar do Sporting CP não ser campeão, é reconhecidamente o mais simpático clube da nossa liga. É, nessa mesma linha, o mais educado, fazendo vénias mesmo aos que nos agridem e tentam prejudicar. Mas como já se escreveu há dois milhares de anos, devemos dar sempre a outra face. Se não o fizéssemos, não seriamos o Sporting.
O Sporting CP não é campeão, mas todos nos acham merecedores de constarmos na eterna lista dos possíveis vencedores do campeonato português. É enternecedor ouvir, nos programas televisivos, os “adeptos” adversários dizer que simpatizam com o Sporting, e que gostariam de ver o nosso clube forte e pujante a lutar pelo campeonato, “para que este fique mais interessante e competitivo”. Dizem isto, quando o clube está fraco, porque não senti tanta proximidade e amizade quando o clube leonino começou a intrometer-se entre os outros “grandes” do campeonato luso. Ainda assim, ficamos contentes que gostem tanto de nós (fraquinhos).
O Sporting CP não é campeão, mas é o clube com a melhor academia do mundo, ou uma das melhores, que ao que parece agora até vai deixar de ter o nome Sporting, ainda que fique com o de um dos maiores astros que lá foi formado. Gostamos de nos gabar da formação, de querer que a equipa principal albergue o maior número de jovens, e ainda assim tentar lutar pelo título. E gostamos disso principalmente quando não conseguimos construir equipas de outra forma. Depois temos a contradição de fazermos uma festa quando “vendemos” um jovem por mais dinheiro que o vizinho. Mas não devíamos querer antes que eles nos dessem rendimento desportivo? Até porque o rendimento financeiro desaparece sempre sem sabermos muito bem em que buraco se enfiou.
O Sporting CP não é campeão, mas não vê o seu nome constantemente associado a processos judiciais, como uns e outros. O problema deste ponto é mostrar que o Sporting nunca se soube adaptar ao ambiente que o rodeia. E por isso, assim como os dinossauros e algumas espécies, pode extinguir-se. Ou seja, o Sporting não entra nos jogos obscuros, mas podia. Os outros fazem-no porque sabem que podem fazê-lo sem que sejam punidos, tendo a mais valia de conseguirem títulos com isso. Os outros entenderam melhor onde estão e como podem comportar-se para atingir os seus objectivos. No fundo, o Sporting devia ser um clube de um país nórdico, e não de um país latino, e, principalmente, não de Portugal. É o nosso lado “naïve” e simpático que todos elogiam.
O Sporting CP não é campeão, mas apenas no futebol. É o clube mais eclético de Portugal e dos mais ecléticos do mundo. Ainda assim, durante anos vivemos a festejar pouco mais que conquistas de corta-mato em atletismo. Apenas há alguns anos, conseguimos voltar a sentir o que era ser dominador em todas a modalidades ditas amadoras. Mas até isso parece estar a perder-se de novo. Ainda assim, mesmo que deixemos de ganhar nas modalidades, continuaremos a ser o clube com mais diversidade desportiva. Espero eu (não que deixemos de ganhar. Espero que não deixemos de ter modalidades. Mas espero tê-las, ganhando).
A verdade é que os sportinguistas voltaram a cair no marasmo no qual o clube se entranhou. Já ninguém se chateia quando ganhamos ou perdemos, desde que não tenham de se chatear em defendê-lo em todos os lugares. É mais fácil deixar um adepto de outro clube rebaixar o nosso, do que ter de levantar a voz e argumentar, mostrando que os seus pares talvez tenham mais telhados de vidro que os nossos. (Não é que isso lhes interesse, desde que continuem a ganhar. Têm sempre a salvaguarda de poderem dizer a famosa frase “se eles podem, nós também”. É a mais reconfortante desculpa para as asneiradas que fazemos).
O facto de ficarmos fora da luta pelos títulos (bem cedo) diminui os níveis de stress e ansiedade e permite-nos viver mais tranquilamente. Sem chatices, sem gritarias, sem confusões. Ou não fossemos nós – isso mesmo – o clube mais simpático, bem-educado e nobre de Portugal.
Só nos falta ganhar títulos (no futebol). Ainda se o futebol fosse fácil…