“Se queres ver o Sporting tens de tirar os sapatos.”, este é o reflexo internacional que o Sporting transmite neste momento. E se não conhecêssemos o contexto até poderíamos pensar que seria um gesto mais nobre.
Os japoneses, por exemplo, acreditam que, ao impedirem que os sapatos entrem em casa, estão a evitar que energias impuras da rua quebrem a harmonia do lar. Tem também o significado de que os problemas e preocupações ficam na rua e não são transportados para casa.
Além disso, descalçar para entrar em algum lugar é um gesto de respeito – demonstra que não queres sujar o ambiente e que, assim como em um lugar sagrado, estás a ser humilde para despir os pés ao entrar no local. E por isso, em algumas religiões, para orarem é obrigatório descalçar.
Seria muito mais honroso e nobre para a direção do Sporting se fosse alguma destas razões que levassem a obrigar os sócios do clube a descalçar-se antes de entrarem na sua casa. Mas não, é tudo menos isso. E nem se pode dizer que estejam a ser zelosos e a promover a proteção do recinto e dos atletas, porque não estou a ver como alguém possa transportar um very-light, tocha, bola de golfe ou barras de ferro dentro de um sapato. No máximo transportariam uma bombinha de carnaval. Ou então houvesse uma conspiração concertada de um grande grupo que quisesse passar uma bomba desmantelada para poderem armar no interior no estádio.
Percebendo que nenhuma destas hipóteses possa parecer exequível, e que nem para alguém adepto das teorias de conspiração e perseguição colocaria possível tais possibilidades, só vejo uma razão para obrigar adeptos de todas as idades, raças e sexos a descalçarem-se. É só mais uma razão encontrada para humilhar os sócios e adeptos do Sporting. Mais uma medida para afastar os ainda fiéis adeptos e sócios leoninos.
É, se pensarmos bem, esta questão de descalçar os adeptos nunca poderia ser para que as más energias e os problemas ficassem na rua uma vez que esses estão todos lá dentro. Já entraram há algum tempo. E não parece haver nenhum gesto, de qualquer cultura conhecida, que consiga exorcizar o clube dessas impurezas, desses problemas, dessas preocupações.
Talvez porque quem dirige o clube não se tenha descalçado quando entrou em Alvalade.
Assim, sugiro que, quem dirige o clube de Alvalade, saia, lave bem os pés, e quando voltar, se voltar, se descalce como forma de respeito pelo lugar sagrado que vai frequentar e para, pelo sim, pelo não, deixar na rua todas as negatividades e impurezas que possa trazer nas solas dos seus sapatos engraxados e finos.
E, por favor, parem de humilhar quem mais ama o Sporting. Porque para além de ser mais um motivo de gozo para o nosso clube, só passa a imagem de clube de pés rapados ou de pés descalços. Mas talvez seja mesmo essa a ideia.
Foto de Capa: Carlos Silva/Bola na Rede
Artigo revisto por Diogo Teixeira