Sporting sector a sector

    O Sexto Violino

    Compras a baixo custo, jogadores pouco conhecidos e com boas possibilidades de retorno desportivo e financeiro: é esta a nova ordem no futebol do Sporting, clube em que os gastos megalómanos já parecem fazer parte do passado. Numa altura em que apenas falta disputar o último terço do campeonato, importa analisar ao pormenor aquilo que tem sido posto em prática pela equipa de Leonardo Jardim, fazendo um levantamento dos pontos fortes e fracos deste plantel para saber o que esperar nas últimas dez jornadas.

    Defesa:
    Um sector que tantos problemas deu nas últimas épocas parece agora regenerado. Bom jogo aéreo (que durante tanto tempo esteve a um nível medonho em Alvalade), um apurado sentido táctico e uma boa organização defensiva nas bolas paradas fazem da defesa do Sporting a menos batida do campeonato. Maurício joga simples e eficaz e é hoje o líder da defesa, superando as expectativas de quase todos os adeptos. Rojo é mais tecnicista, tem veia goleadora e complementa bem o colega, embora tenha ainda de estabilizar o seu jogo e encontrar uma maior serenidade em campo (treme bastante, sobretudo nos jogos grandes). Nas laterais, Cédric mostra critério a defender e desenvoltura a atacar pelo lado direito. Jefferson, por seu turno, é um autêntico dínamo no flanco esquerdo, funcionando quase como um terceiro extremo. Ambos estão de pedra e cal, e deve louvar-se o trabalho de Leonardo Jardim no que diz respeito à afirmação do português (este ano está a mostrar o potencial que muitos já lhe reconheciam) e à estabilização defensiva do brasileiro (no Estoril esta era uma das suas falhas). Piris já mostrou qualidades (o jogo na Luz foi uma infeliz excepção) e Dier é uma opção fiável para o eixo da defesa sempre que um dos colegas está indisponível. Este bloco compacto garante a um Rui Patrício cada vez mais fiável a segurança que o guardião nunca tinha encontrado em Alvalade.

    Meio-campo:
    A zona intermediária é eficaz a defender mas algo lenta e previsível a atacar, faltando-lhe um pouco de magia. A grande revelação é William Carvalho, médio que parece já andar nisto há muito tempo e que, para além de um poder de desarme tremendo, possui ainda uma calma notável, uma técnica acima da média, uma visão de jogo assinalável e uma capacidade de liderança surpreendente, características sem as quais a equipa muito provavelmente não estaria tão bem posicionada. É o pêndulo do meio-campo e uma das chaves desta equipa. Grande descoberta de Leonardo Jardim! Adrien partilha com o colega a facilidade em ler o jogo e ajuda muito nas tarefas defensivas, tendo sido decisivo em algumas partidas em que se exibiu a grande nível. Contudo, tem vindo a perder algum gás e a sua falta de velocidade às vezes compromete-o, bem como a vontade de querer sempre sair a jogar com elegância (coisa que nem sempre o adversário e/ou o relvado permitem). André Martins joga mais adiantado do que aquilo a que está habituado, pelo que tem sido o elemento mais discreto do 11: sempre muito preso à direita, não tem mostrado nem a capacidade de desequilíbrio nem a qualidade no último passe que são exigidas a alguém que jogue na sua posição, sendo facilmente anulado pelos opositores. A facilidade que Fredy Montero tem em vir buscar jogo e distribuir leva-me a pensar que o colombiano talvez seja uma boa solução para fazer aquilo que o nº 8 do Sporting não tem conseguido. Isto porque Vítor não se destacou nas poucas oportunidades que teve (é a tal diferença entre jogar num Paços de Ferreira ou num grande). Seja como for, com os jogadores que tem, o treinador não pode fazer muito mais. Para o ano exige-se um meio-campo mais fértil em opções.

     

    O onze em que apostaria até ao fim do campeonato: 4-3-3 com Montero na posição de A. Martins e Slimani a titular; Capel e Carrillo nas alas
    O onze em que apostaria até ao fim do campeonato: 4-3-3 com Montero na posição de A. Martins e Slimani a titular; Capel e Carrillo nas alas

    Ataque:
    Dada a dificuldade de André Martins em abrir brechas nas defesas contrárias e a quebra de produtividade dos extremos (talvez a excessiva rotatividade entre eles afecte a equipa), este sector tem vindo a perder poder de fogo. Em alguns jogos recentes o Sporting parece mesmo uma equipa curta e sem grande capacidade para fazer mossa, pelo menos até Jardim colocar um segundo ponta-de-lança. Creio que os extremos que nos dão mais garantias de imprimir velocidade, emprestar imprevisibilidade à equipa, desmontar as defesas e alimentar os avançados são Capel e Carrillo. Pese o estilo de jogo algo repetitivo do espanhol e alguma irregularidade e falta de intensidade do peruano, nem Wilson Eduardo (capacidade goleadora interessante mas pouco “pique” e à-vontade no um para um; talvez funcione melhor como segundo avançado) nem Heldon (poucos jogos, mas para já nada que justifique a titularidade) têm, a meu ver, feito por serem primeiras opções, uma vez que a equipa ganha mais profundidade e criatividade com os dois primeiros. Os últimos jogos de Carlos Mané mostram que poderá ser uma excelente aposta de futuro e uma boa solução para certos jogos, embora deva evoluir com calma.

    Já no que diz respeito ao ponta-de-lança, penso que o facto de Montero ter começado a época em grande estilo foi simultaneamente a sua sorte e o seu azar. Sorte porque lhe permitiu atingir um estatuto de intocável na equipa, ao mesmo tempo que ajudou o Sporting a conquistar pontos preciosos; azar porque, apesar de os seus números de carreira mostrarem que nunca foi um matador, os adeptos começaram a querer ver nele um novo Jardel. Para mim, o colombiano é dos nossos melhores jogadores e, como disse, a sua técnica, visão de jogo e facilidade em arrastar os defesas e abrir espaços podem justificar o seu recuo e consequente entrada de Slimani no 11. O argelino já justifica mais oportunidades, se bem que a capacidade que ele tem para sobrecarregar e desmontar as defesas quando vem do banco possa não se notar tanto com a sua passagem a titular.

    Creio que a equipa deve manter-se fiel às suas ideias, continuando a apostar no 4-3-3 até ao fim do campeonato (com André Martins no banco, Montero mais recuado e Slimani a ponta-de-lança). Uma aposta de início no 4-4-2 não só iria contra aquilo que a equipa passou os últimos meses a preparar, como poderia abrir uma clareira no meio-campo pronta a ser explorada pelos nossos adversários. Nos jogos em que o Sporting não consegue marcar golos, esse 4-3-3 deve ser transformado no tal 4-4-2 a que Jardim já recorre sempre que necessário, adiantando Montero no apoio a Slimani e com Wilson Eduardo à espreita no banco. No entanto, essa mudança só é eficaz se for acompanhada por um estilo de jogo mais directo e rico em cruzamentos para a área, algo que tardou a acontecer em Vila do Conde. Seja como for, importa lembrar que o plantel é algo curto e tem sido espremido até ao limite por Leonardo Jardim. Ele é o treinador, e decerto saberá o que fazer nas mais diversas situações. Pela minha parte, apenas posso dizer que confio a 100% no trabalho desta equipa.

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    João V. Sousa
    João V. Sousahttp://www.bolanarede.pt
    O João Sousa anseia pelo dia em que os sportinguistas materializem o orgulho que têm no ecletismo do clube numa afluência massiva às modalidades. Porque, segundo ele, elas são uma parte importantíssima da identidade do clube. Deseja ardentemente a construção de um pavilhão e defende a aposta nos futebolistas da casa, enquadrados por 2 ou 3 jogadores de nível internacional que permitam lutar por títulos. Bate-se por um Sporting sério, organizado e vencedor.                                                                                                                                                 O João não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.