Sporting tem o cérebro, mas ainda falta o tronco e os membros

    a norte de alvalade

    No final do último jogo do campeonato, no Bessa, Jorge Jesus apontou a falta de criatividade como uma das causas para o insucesso no resultado. Quem viu o jogo só pode ser levado a concordar com ele. Se é verdade que a equipa se empenhou em ganhar o jogo até ao apito final do árbitro, não o é menos reconhecer que faltaram as melhores ideias para contrariar o autocarro boavisteiro.

    A admissão de Jorge Jesus parece-me encerrar um excelente motivo de reflexão. Reconhecendo-lhe razão, como foi feito no parágrafo precedente, vale a pena tentar descodificar o que ela encerra.

    A conclusão óbvia

    Muitos perceberam na afirmação uma referência subliminar (ou nem por isso), à ausência de Carrillo. Não o posso afirmar, porque não estou na cabeça de Jesus, mas a conclusão é quase obrigatória. Percebeu-se, desde o inicio de época, quer nas palavras quer no papel que lhe foi atribuído, que Carrillo era um elemento preponderante na estratégia do treinador, pelo que a sua ausência teria que ter consequências na estratégia do treinador e na resposta da equipa.

    Conclusão geral retirada de um momento em particular

    Para lá de tudo o que se possa dizer – e muito tem sido dito – sobre problema que opõe o clube ao seu empregado, do ponto de vista estritamente futebolístico Carrillo faria sempre falta. Não sendo uma comparação de valor entre os jogadores, a sua ausência está para o Sporting como estaria a de Gaitan para o SLB ou de Brahimi para o FCP. Os poucos jogos até agora efectuados sobre o comando de Jesus mostravam um jogador cada vez mais solto e confiante, desempenhando com acerto funções mais alargadas do que as que lhe haviam sido confiadas nos dois anos anteriores. O problema torna-se mais agudo porque não há no plantel quem o possa substituir no papel que Jesus lhe havia talhado.

    Só por doses maciças de muito boa vontade, que até pode reverter em desfavor do jogador, se pode considerar que Gélson faz o lugar. O que os jogos mais recentes têm feito é desmentir esses assomos de voluntarismo de opinião. Isto não é negar o talento do miúdo, é considerar apenas que o jogador tem ainda muito que crescer, desde a compreensão do jogo até a atributos físicos “treináveis” como os diferentes tipos de força, a agilidade, a velocidade, etc. Isto não esquecendo que as características dos jogadores diferem entre si e que a idade ainda mais acentua. No fim de contas é o mesmo que considerar que Gélson irá agora começar a trilhar o mesmo caminho que fez Carrillo quando, com dezoito anos, chegou do Peru.

    Para o lugar até agora desempenhado por Carrillo talvez João Mário ou Mané possam ter características mais indicadas para  função. Mas é preciso não esquecer que não estamos a falar de uma mera substituição de peças numa linha de montagem. É preciso refazer algumas das dinâmicas colectivas entretanto treinadas, sendo igualmente necessário dar tempo a que os jogadores absorvam os novos conceitos que as funções a desempenhar obrigam.

     

    João Mário poderá ter novas funções com a ausência de Carrillo Fonte: Facebook Oficial do Sporting
    João Mário poderá ter novas funções com a ausência de Carrillo
    Fonte: Facebook Oficial do Sporting

    Uma conclusão preocupante I

    O que é possível concluir desde já é que os problemas que a ausência de Carrillo tem colocado não estavam previstos e que estes se vêm juntar a outros que já pareciam existir. Isto é, se a ausência do peruano agrava os problemas relacionados com a criatividade e imprevisibilidade na criação do nosso jogo ofensivo, estes vêm-se juntar a outro que aos poucos se ia destapando a cada jogo efectuado: o da eficácia na hora de concretizar.

    Os últimos dois jogos talvez tenham servido como dolorosa ilustração da afirmação efectuada no parágrafo anterior. Mas, olhando para generalidade dos jogos até agora realizados, o que se verifica são precisamente resultados tangenciais, entrecortados por dois empates. A excepção foi o jogo em Coimbra e a posição da Académica na tabela diz muito o quão relativa deva ser a consideração a ter em conta. O nosso jogo ofensivo e sobretudo a capacidade concretizadora está a representar um sério problema para a nossas ambições.

    Uma conclusão preocupante II

    A frase de Jesus soa a confissão de impotência em alterar o rumo dos acontecimentos no Bessa. Tive a oportunidade de ver Jesus de perto, em zonas habitualmente vedadas ao grande público, e os danos provocados pelas incidências da partida eram bem visíveis no semblante carregado do treinador e na forma “caída” como abandonou a conferência de imprensa a caminho dos balneários.

     

    Não duvido da qualidade profissional de Jesus. Não gosto de falar de forma absoluta, mas dizer que é o melhor treinador a treinar em Portugal, podendo até mesmo ser o melhor de todos, não é propriamente escandaloso. Tem quanto a mim, entres os candidatos ao título, o modelo melhor preparado para lá chegar e seria muito mais fácil para ele, com o plantel do FCP ou SLB, sê-lo. Muito mais difícil será sê-lo no Sporting.

     

    Foi também muito por essa excelência que o Sporting contratou Jesus, julgo. Falta saber se ela é suficiente para desfazer a diferença de recursos. Acredito nessa possibilidade, mas não deixo de considerar que esperava algumas diferenças na sua actuação. Especialmente nas escolhas individuais e de posicionamento. Logo no inicio de época pareceu-me precipitadas as dispensas de Walyson e Iuri. Hoje, olhando para a produção real, (não do potencial obviamente) de Aquilani, a dúvida acentua-se.

    Iuri Medeiros seria mais uma opção credível para as alas leoninas Fonte: Facebook Oficial do Sporting
    Iuri Medeiros seria mais uma opção credível para as alas leoninas
    Fonte: Facebook Oficial do Sporting

     

    Para não especular com os que já cá não moram diria ainda que o treinador não pode estar à espera de uma solução individual nascida de inspiração momentânea, ignorando a importância do colectivo. E aí, com os jogadores que tem à disposição parece-me que as soluções ainda não estão esgotadas. Por exemplo, não me querendo substituir ao treinador, não deixo de pensar que, no que Jorge Jesus treina e põe a jogar, Montero ofereceria outra continuidade ao jogo que Slimani não pode.

     

    No entanto, nenhum dos três-pontas-de-lança oferece a Jesus o melhor que Vitória e Lopetegui possuem. Muito do nosso crescimento como candidatos terá que passar inevitavelmente pela construção de maior número de oportunidades que se adequem aos nossos números de eficácia. Se as ideias do “cérebro” são boas, há que convir que o corpo e os membros necessitam ainda de muito crescimento.

    Uma pequena nota adicional: a importância do hábito

    Discordo em absoluto das análises que concluem pela falta de empenho e garra da equipa para explicar os resultados. Isto é negar a natureza mais comum dos jogadores que é gostar e ganhar até a feijões e é negação que resulta dos próprios factos. Uma equipa sem garra não teria chegado a alguns resultados obtidos quase no final dos jogos. A garra e o querer são condições básicas, sem as quais não vale a pena sequer calçar as botas. Mas já incluiria nas causas do falhanço do ataque à liderança no Bessa o hábito de estar neste momentos a importância da preparação psicológica para estes momentos. Isso também se treina mas apenas em ambiente real e, como sabemos, grande parte dos nossos jogadores não têm sido testados ao nível a que estão a jogar agora.

     Foto de Capa: Facebook Oficial do Sporting

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    José Duarte
    José Duarte
    Adepto do Sporting Clube de Portugal e de desporto em geral, especialmente de futebol.                                                                                                                                                 O José não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.