Há coisas que, pelo simples facto de existirem, são agradáveis. Alegram-nos a semana, transformam-nos um dia aparentemente perdido num dia para mais tarde recordar, fazem-nos pensar que do nada se pode fazer muito e que não é preciso muito para parecer que somos donos de tudo. Por mais que nos queiramos convencer de que o motivo de tal saborosa sensação não passa de mera ilusão ou exagero da realidade, o passar do tempo mostra-nos que melhor do que lutar contra a razão da nossa felicidade é aceitá-la e dela usufruir.
E, porque és tanto mais feliz quanto menos o esperares ser, a surpresa confere toda uma nova dimensão ao que realmente se está a passar. Não estavas à espera que tal acontecesse. Estavas ferido da tua última batalha. Anteriormente, sempre que tentavas alcançar o patamar que merecias, aquele que é teu por direito, não atingias nunca o teu objectivo. Eras humilhado, derrotado, brincavam contigo enquanto davas tudo o que tinhas. Em campo, abatiam-te. Fora dele, troçavam de ti.
Quem mais te apoiava foi percebendo que, enquanto continuasses no mesmo rumo, a tua demanda nunca teria fim. Pelo menos o fim desejado, já que te encontravas no trilho para um outro fim: o teu. Estavas prestes a acabar, deixando tudo o que esperavam de ti a meio. E tinhas tão mais para dar, só precisavas que aparecesse quem to fizesse ver, quem te abrisse os olhos e te levasse a crer que nem tudo o que tinha duas pernas e respirava era bom para ti e que nem todos aqueles que falam e te podem ensinar algo servem para te levar onde sempre desejaste estar.
E aí, tudo mudou. Quando menos esperavas, apareceu quem te comandasse ao topo. Conhecendo-te do exterior há muito, soube retirar do teu interior o melhor que lá tinhas. Potencializando as tuas qualidades, expulsando os teus “fantasmas”, que pairavam sobre ti e dentro de ti há demasiados anos, e adquirindo novas peças para te tornar a máquina bem oleada que há muito querias ser, os teus novos líderes colocaram-te num patamar capaz de te fazer a ti e a quem gosta de ti felizes.
E o melhor de tudo é que isto aconteceu de uma forma inesperada. Claro que o objectivo final seria esse, mas não já. Ninguém, nem o teu líder, nem o mais optimista dos teus apoiantes, esperava que atingisses esse nível tão cedo. E isso só torna a realidade mais agradável, mais apetecível. Mantendo a calma e a serenidade, estás a construir algo sustentado em bases bem fortes e consistentes e de aparente fiabilidade. Sem nunca apressar processos nem assumir estatutos, possuis hoje mais do que eternos candidatos a tudo e mais alguma coisa que saltam etapas como quem salta à corda na primária (ganha o que saltar mais e quando algum cair, logo se vê em que estado ficou).
Hoje, quando já atingiste o lugar que pretendes há umas semanas, manténs-te calmo e sereno. Ninguém espera nada de ti, trabalhas para não dever nada a ninguém. Continuas a insistir, e bem, que o lugar que atingiste não passa de uma ilusão, sendo algo meramente provisório. Defendes que o teu objectivo não passa por permanecer nesse patamar, que te contentas com um final uns quantos furos abaixo do actual e que, se isso acontecer, tudo continuará a correr como planeado.
Tens razão. Se daqui a uns meses acabares pior do que te encontras, tudo correu de acordo com aquilo que previste e aquilo a que te propuseste. A felicidade vivida neste momento será, porém, completamente real e todo o percurso terá valido a pena. Porque tu nunca te propuseste a estar onde estás, mas por quanto mais tempo lá puderes ficar, melhor para ti e para quem anda atrás de ti será.
Para quem ainda não percebeu ou não quer perceber, o Sporting Clube de Portugal está, neste momento, em primeiro lugar da Liga Zon Sagres. No entanto, não é candidato ao título nacional esta época, já que não foi esse o objectivo a que o clube se propôs no início do ano. Parem de tentar colocar pressão onde ela não existe, deixem de tentar atribuir responsabilidades a quem não as tem. O que se está a passar este ano é um “simples” imprevisto conquistado com muito trabalho e dedicação. Um óptimo imprevisto. E, esperamos nós, sportinguistas, um imprevisto duradouro.