Sinceramente não compreendo qual o objectivo do jornalismo desportivo em relação ao Sporting. Tratar-se-á simplesmente de falta de respeito? Será o fanatismo de algumas cabeças, que não consegue manter-se sigiloso? Ou será mais do que isso? Quero acreditar que não, embora às vezes seja difícil. Sempre assumimos que não somos candidatos ao título. Somos candidatos, sim, a ganhar cada jogo que semanalmente disputamos. Resultado: Polémicas zero, o que não é interessante para ninguém neste país.
No início da época, ao fim de quatro jogos (com três vitórias e um empate frente ao Benfica), os jornais desportivos nacionais noticiavam a presença do leão no lote dos candidatos ao título: “Temos candidato!” (nem vale a pena especificar, porque cada um dos três disse a mesma barbaridade à sua maneira); pois na semana seguinte, após um empate com o Rio Ave, o Sporting afinal já não seria candidato… o grandioso Sporting agora já era equipa de meio da tabela e tinha “descido à terra”. Óptimo. Fico contente porque, sinceramente, não quero que o meu clube seja massacrado diariamente com polémicas nos jornais, como acontece com os outros dois “clubes grandes” (embora sem metade do tamanho do clube que desce à terra semana sim, semana não: a grandeza também se vê nos detalhes). Pois bem, depois do empate com o Rio Ave, o Sporting voltou às vitórias indiscutíveis, e, de repente, como que por feitiço, tornou-se novamente num dos mais fortes candidatos ao título! Afinal, a magia do Sporting vai para além do sentido figurado da palavra. Mas esperem, que isto não fica por aqui: ontem, o Sporting perdeu com um Porto fraco, sem força nas canetas, talvez por carregar um frigorífico cheio de sorte às costas. O Sporting faz uma bela exibição, domina o jogo, tem azar e momentos de desconcentração, mas mostra a força e a capacidade de outros jogos: o Sporting, segundo os jornais desportivos, “cai na real”; o grande candidato ao título agora já está a cinco pontos da melhor equipa portuguesa (a melhor porque ganha sem jogar, e isso não está ao alcance de qualquer um), e já foi igualado pelo maior clube do mundo, que acaba de fazer a primeira boa exibição da época, levado às costas pelo novo Cristiano Ronaldo, ou melhor, o novo Eusébio! Mais uma das muitas brilhantes pérolas saídas da academia mais prestigiada do planeta: a Caixa Futebol Campus do Seixal! Já adivinho a capa de dois dos jornais desportivos para a semana: “Cavaleiro é opção para Bento!”. Mas não me vou dispersar, porque com as desgraças dos outros posso eu bem.
Se as mudanças de intenção do Sporting em relação à Liga fossem apenas referidas pelos jornalistas propriamente ditos, seria ridículo, mas, de certa forma, compreensível. Acontece que tal não acontece. Como se não bastassem as suas próprias sentenças, os senhores jornalistas dos principais jornais desportivos nacionais distorcem as palavras e colocam-nas na boca de atletas e dirigentes leoninos. O objectivo é ridicularizar? Pois tenho a informar-vos que a vossa meta não foi atingida, porque ninguém neste clube jamais tirou os pés da terra. Neste clube trabalha-se arduamente com as armas que se tem, para, semanalmente, cumprir os objectivos e orgulhar os adeptos, o que tem sido 100% cumprido até agora.
Dão-me permissão para fazer mais um pouco de futurologia? Para a semana, Montero volta a marcar, e, como se aproxima cada vez mais a abertura do mercado, vão começar a surgir diariamente nos diários desportivos candidatos à sua contratação; porém, com valores completamente ridículos (não se pode perder uma oportunidade de tentar espezinhar o Sporting). Quanto a William Carvalho, amanhã já está tudo acordado com o Porto, por troca com Carlos Eduardo e Kadú. Daqui a duas semanas, o Sporting já é um sério candidato ao título. No decorrer das semanas seguintes, se empatarmos um jogo, chega o fantasma do Natal, e o título já é uma miragem: caímos novamente na real. Estou curioso para saber, em Maio, o que será concretamente “a real”.
Quanto a mim, acabei de me licenciar em jornalismo, e sempre tive como maior objectivo o de enveredar pelo caminho do jornalismo desportivo. Nos dias de hoje, sinceramente, o motivo mais forte pelo qual esse caminho ainda me atrai é o de tentar fazer parte da mudança, da mudança desta realidade específica dentro do universo da comunicação em Portugal.
Sou o único a achar que ler um diário desportivo, hoje em dia, é equivalente a ler uma revista cor-de-rosa?