Em Portugal crescemos com a ideia de que é impossível mudar o status quo. A corrupção está instalada em todas as áreas da sociedade e lutar contra isso é, dizem-nos, uma perda de tempo. Temos duas opções: ou fazemos as malas e vamos procurar melhor Estado para outro lado, ou baixamos a cabeça e aceitamos o que nos dão. Porém, toda a gente, até mesmo os portugueses – tidos como inertes e apáticos – atingem o seu ponto de saturação.
No Sporting, fez esta semana um ano que se atingiu o ponto de saturação para com a situação interna. Fartos de sucessivas direções sem rumo, os Sportinguistas juntaram-se por um caminho melhor e começaram uma nova Era. Um ano depois, no passado domingo, deram um passo de gigante para, com união, combater a corrupção que vem de fora.
Mesmo como criador da ideia e um dos seus principais dinamizadores, confesso que não estava totalmente crente no seu sucesso. O meu chip eu consigo mudar – ou talvez não precise, pois não acredito na inércia –, o problema é mudar o chip dos outros. E foi a isto que me propus, com responsabilidades que começo a assumir na minha vida e que quero manter até ao seu fim: fazer 35.000 pessoas virar as costas a um jogo de futebol durante 3 minutos.
“Não vamos conseguir. É impossível”. Foi a última coisa que disse, estavam decorridos 50 segundos do Sporting – Académica, com a Curva SUL de Alvalade a ser a única de costas. Mas eu, como tanta gente neste pequeno país faz, subestimei o poder das massas. As pessoas estão fartas deste desporto podre, desta falta de justiça, de se sentirem roubadas até naquilo que devia ser um divertimento. E revoltaram-se. Um por um, 35.000 Sportinguistas viraram costas à corrupção no futebol português. Sem pedidos do speaker, sem mensagens nos ecrãs gigantes, cartazes megalómanos ou anúncios na televisão. Apenas e só união entre as pessoas.

Quando olhei, 20 segundos depois, e vi todo o estádio a abdicar do espetáculo pelo qual pagaram bilhete para se manifestarem por uma ideia que ajudei a fazer crescer, emocionei-me. Guardarei para sempre na memória as imagens do momento mais bonito que já vi em Alvalade. Na verdade, nem tenho outra opção que não recorrer à minha memória, visto que a televisão ocultou uma manifestação de dezenas de milhares de pessoas, em direto. Mas lá chegarei. Um sistema podre de cada vez.
Que cada vez mais se juntem a lutar ao nosso lado, é o meu desejo. Chamem-nos chorões, calimeros, o que quiserem. Cá estarei para chorar e para me queixar sempre que tiver razão. Porque em qualquer processo o queixoso será sempre um queixoso até se provar que tem razão. E aí, muda o status quo. Aí, vira-se as costas à corrupção.