Marco Pedroso: O que podemos esperar da final entre Sporting e FC Porto?

    Marco Pedroso, de 45 anos, foi videoanalista na equipa técnica de Jorge Jesus desde 2007 até 2015, transitou para a de Rui Vitória quando este chegou ao Benfica, trabalhando depois com Bruno Lage e Nélson Veríssimo, aí já como adjunto de campo. Com Veríssimo seguiu depois para o Estoril, com quem terminou contrato neste final de temporada de 2023/24. Pelo caminho, aprofundou conhecimentos tendo realizado recentemente o exame UEFA-Pro para treinadores.

    Sporting e FC Porto vão defrontar-se pela sexta vez na final da Taça de Portugal. Nas cinco decisões anteriores houve muito equilíbrio, tiveram sempre prolongamentos com muitas polémicas à mistura e em nenhuma o vencedor acumulou o troféu com o de campeão nacional na mesma temporada. O saldo está em três vitorias para os leões e dois triunfos para os dragões, que alcançam a terceira final consecutiva.

    O que nos diz a história do Sporting x FC Porto?

    Esta é a 34.ª final para o FC Porto e a 30.ª final para o Sporting. Os azuis venceram 57,5% das finais em que estiveram, enquanto os verdes venceram em 58,6%. Ou seja, muito equilíbrio entre as duas equipas em termos de conquistas de troféus.

    A equipa do Sporting em termos anímicos chega à final da Taça com a confiança redobrada pela obtenção do Campeonato e pela possibilidade de conquistar a dobradinha, feito que já não acontece há 22 anos. Já o FC Porto garantiu o 3º lugar no campeonato nacional numa fase de transição presidencial de Pinto da Costa para Villas Boas, e o seu treinador, Sérgio Conceição, tem a possibilidade de conquistar a sua quarta Taça de Portugal. Acredito, por isso, que o FC Porto queira dedicar a possível conquista ao seu presidente mais titulado de toda a história do futebol português.

    Gonçalo Inácio Francisco Conceição
    Fonte: Diogo Cardoso / Bola na Rede

    A equipa do Sporting deve utilizar o seu habitual sistema 1x3x4x3: na baliza Diogo Pinto, com os três defesas centrais, St. Juste, Coates e Gonçalo Inácio, como médio ala direito Geny Catamo, médio ala esquerdo Matheus Reis, no corredor central como médios centro devem atuar Hjulmand e Daniel Bragança e na frente de ataque como avançado esquerdo Pedro Gonçalves, avançado direito Francisco Trincão e como ponta de lança Gyokeres.

    Já a equipa do FC Porto deve apresentar o seu esquema habitual 1x4x3x3: na baliza Diogo Costa, com os dois defesas centrais Zé Pedro e Otávio, como defesas laterais João Mário e Wendell, como alas, no corredor esquerdo Galeno e no corredor direito Francisco Conceição, no corredor central como médios centro Alan Varela e Nico González e Pepê no apoio ao ponta de lança Evanilson.

    O clássico entre Sporting e FC Porto carateriza-se com o padrão da agressividade constante nos duelos, cada metro ganho pelas equipas é conquistado através de bom posicionamento tático e reação rápida à perda da bola. Essa agressividade também está presente no momento de organização ofensiva: as equipas em posse de bola necessitam da criação de linhas de passe constantes para que a circulação da bola seja rápida e vertical no sentido da baliza adversária, torna-se assim necessário uma boa dinâmica através de passe e desmarcação para desequilibrar o adversário.

    O que pode fazer o Sporting?

    O Sporting no seu processo ofensivo apresenta uma proposta com muitos jogadores por dentro para atrair o adversário e utilizar o espaço exterior ou conquistar espaços interiores através de vantagens numéricas no corredor central, alternando com relativa facilidade entre jogo interior e jogo exterior, com os seus médios alas em constante amplitude e através de uma boa circulação e temporização em posse pelos seus defesas centrais, na primeira fase de construção.

    No pontapé de baliza, iniciam o jogo pelo defesa central para o Diogo Pinto decidir em função da pressão do adversário quais os espaços que estão disponíveis para que a saída curta ou longa seja mais eficaz naquele determinado momento. Neste clássico é natural que nos primeiros 15 minutos as duas equipas queiram sentir o jogo e evitem numa primeira instância passes verticais nos seus médios centro de ligação de forma a evitar perdas de bola próximas das suas balizas neste primeiro momento do jogo, como foi o caso do primeiro golo de Evanilson na jornada 31, no Estádio do Dragão logo aos sete minutos.

    Com o decorrer do jogo os índices de confiança vão aumentando e a conquista dos espaços entre linhas torna-se preponderante nas estratégias adotadas de forma a quebrar linhas e a descompactar as concentrações defensivas dos respetivos blocos.

    Uma das soluções que o Sporting poderá utilizar é na segunda fase de construção, quando os defesas centrais estiverem em posse e distantes a preparar o jogo com os dois médios centro, Hjulmand e Daniel Bragança, com os médios alas Geny Catamo e Matheus Reis mais profundos para relacionarem os alas do FC Porto, Francisco Conceição e Galeno, de forma a criarem situações de vantagem numérica de cinco contra quatro no corredor central. Essa situação vai permitir que os defesas centrais exteriores do Sporting descubram Trincão e Pedro Gonçalves entre linhas de forma a criarem situações de bola descoberta para a linha defensiva do FC Porto, possibilitando mais entradas na área com situações de finalização.

    Se as de linhas de passe interiores estiverem fechadas pelo bloco médio compacto do FC Porto, o passe exterior será possível com o posicionamento dos seus médios alas Geny Catamo e Matheus Reis entre os defesas laterais e os alas do adversário de forma a ganharem vantagem de espaço, dificultando dessa forma o controlo defensivo dos alas do FC Porto. Com os defesas laterais relacionados com os avançados Pedro Gonçalves e Trincão, então a partir deste momento, no corredor direito, Geny Catamo poderá progredir com bola e assumir o 1×1 com Wendell. Catamo chega com frequência a zonas de finalização, criando desequilíbrios em velocidade com movimentos interiores para finalizar ou procurando assistir os colegas na área.

    Atenção à qualidade de finalização de Gyokeres e à perceção dos espaços de Pedro Gonçalves. No corredor esquerdo Matheus Reis com espaço também progride e através da qualidade do seu cruzamento procura os avançados no espaço entre a linha defensiva e o guarda-redes adversário.

    Outro momento preponderante no qual o Sporting desta época tem criados inúmeros desequilíbrios é na forma como o seu ponta de lança, Gyokeres, ataca a profundidade, através de diagonais curtas ou longas. Com a sua potência e capacidade de rotação com bola sobre os seus adversários, consegue criar situações de finalização com relativa facilidade tendo sido decisivo ao longo da época desportiva.

    O que pode fazer o FC Porto?

    A equipa do FC Porto na primeira fase de construção, no pontapé de baliza, também inicia o jogo pelo defesa central para o Diogo Costa, que através do seu excelente jogo de pés decide, em função da pressão do adversário, quais os espaços que estão disponíveis para que a saída longa ou curta tenha sucesso de forma a dar continuidade às restantes etapas do processo ofensivo.

    Na segunda fase de construção a equipa do FC Porto poderá aproveitar esse momento de forma a desequilibrar o seu adversário através de uma circulação rápida da bola obrigando a equipa do Sporting a constantes basculações defensivas para que os espaços intra-linhas – ou seja, as distâncias entre jogadores da segunda linha de pressão – sejam mais amplos em função das corridas que os médios centro Hjulmand e Daniel Bragança possam ser sujeitos, aumentando de forma exponencial a possibilidade de ligações interiores com Pepê e Evanilson. Tendo estes dois atletas elevada capacidade de jogar de frente para o jogo, apenas com a última linha defensiva pela frente, vão procurar as ligações curtas para ganhar espaços entre defesas da linha defensiva do Sporting CP e desta forma entrar em zonas de finalização.

    Neste sistema 1x4x3x3 as dinâmicas exteriores entre João Mário, Pepê e Francisco Conceição no corredor direito, e Wendell, Nico González e Galeno no corredor esquerdo, podem potenciar situações de 1×1 em zonas de finalização das quais Galeno e Francisco Conceição são desequilibradores natos com capacidade para finalizar com movimentos de fora para dentro, ou para assistir com passe ou cruzamento.

    Atenção à capacidade de Evanilson e Pepê conquistarem o espaço aos adversários na área. Após a recuperação da bola na transição ofensiva, quer o Sporting, quer o FC Porto conseguem criar muitos desequilíbrios aos adversários através da capacidade individual dos seus atletas seja em profundidade, progressão ou na qualidade da tomada de decisão.

    Os esquemas táticos no momento das bolas paradas são outro dos momentos em que ambas as equipas têm capacidade para desequilibrar. Quer pelos seus batedores regulares, que colocam a bola de forma tensa em zonas de perigo, ou pelas referências na área com capacidade de jogo aéreo, sendo exímios na finalização e com qualidade nas bolas de ressalto à entrada da área.

    Faço votos que a festa da Final da Taça de Portugal seja um jogo bem disputado, competitivo, com fair play, muitos golos e que o espetáculo seja valorizado pela qualidade das três equipas presentes, para que os adeptos e as famílias queiram continuar a fazer parte desta festa maravilhosa no palco do Estádio Nacional.

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