Uma lição de vida

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    Vivemos num país de 10 milhões de habitantes que se dividem pelas três grandes cores clubísticas. Todas as outras equipas têm de viver com simpatizantes ou adeptos “a prazo”. Esqueçamos Guimarães (e neste caso nem sequer falamos em bi-clubismo), Académica, Leixões ou Boavista, e “quase” todo o país é assim. “Quase”, porque há quem goste de ser diferente. “Diferente” pode mesmo ser a palavra ideal para nos descrever. Fico muitas vezes com a ideia de que tenho de justificar a escolha clubística sempre que alguém que me é estranho toma conhecimento: “Ui, do Rio Ave?! A sério?!”. Sim, do Rio Ave. Mas podia ser do Gil Vicente, do Olhanense, ou do Macedo de Cavaleiros. A malta vai ficar sempre surpreendida!

    Causa imensa estranheza que alguém goste do clube da terra onde nasceu, onde vive, ou onde fez vida académica. “Vocês nunca ganharam nada” (saco logo da ironia quando se trata de um sportinguista) é uma das frases que mais ouvimos para justificarem o seu espanto. Hoje em dia as pessoas cada vez gostam mais de si mesmas e dão mais importância a elas próprias, e muitas vezes até lhes dá jeito esconder as origens, ou os gostos menos requintados… Mas nós gostamos de ser diferentes. Passamos todas estas duras batalhas, desde a escola ao trabalho, passando pelo grupo de amigos. Mas, no fundo, o que sabem eles sobre a nossa paixão?! Como nos vão eles entender, se preferimos o friozinho dos Arcos às pipocas da central?! É difícil gostar de um clube que, por vezes, passa meses sem ganhar.

    É difícil aceitar que em alguns jogos o empate corresponde a goleada. É difícil que a janela de mercado não nos encha de manchetes de ilusão. É difícil perceber que algumas das pessoas com quem partilhas a bancada quinzenalmente mudam facilmente de cachecol quando o adversário é de “maior gabarito”. É difícil estar a par das novidades, pois a comunicação social só nos guarda apenas um cantinho por dia. Isto quando temos a sorte de estar no principal escalão… Mas é isto que nos motiva!

    Uma paixão inesplicável Fonte: Facebook Oficial do Rio Ave
    Uma paixão inesplicável
    Fonte: Facebook Oficial do Rio Ave

    Quem gosta de um clube que não seja um dos três grandes não gosta só “por gostar”. Tem normalmente uma razão muito forte para isso. Aliado às dificuldades/motivações que enumerei, desenvolvemos, desde tenra idade, uma enorme capacidade para acreditar, manter o foco e nunca desistir. Algo que nos dá um enorme jeito, mesmo fora do desporto. Não nos importamos de ser gozados quando ficamos 10 jogos sem ganhar, de ouvir as críticas estapafúrdias de quem nos vê jogar duas vezes por ano e já se acha o Freitas Lobo, de ser prejudicado pelas arbitragens sem que ninguém faça referência… Nada disso importa, porque somos diferentes!

    No caso do Rio Ave, só nós sabemos o que sentimos, gritámos e chorámos naquele Domingo quente de 2008 em Santa Maria da Feira, naquele golo do João Tomás em Paços de Ferreira, nas meias finais com o Braga, quando caímos nos penáltis em Aveiro, no golo do Esmael, e em tantas outras ocasiões… Ao mesmo tempo, noto que acabamos por ser um pouco embaixadores do nosso clube perante os nossos colegas. Repare que, na maioria dos casos, os seus amigos sabem mais sobre o seu clube do que sobre os outros do mesmo nível. Isso não é coincidência, tem a ver com a quantidade de informação que lhe passa, e muitas das vezes quase sem se aperceber… Por tudo isso considero que ser adepto de um clube “pequeno”, manter esta interminável paixão ao longo de tantos anos, com tudo o que de bom e mau nos traz, é muito mais do que um simples gosto… é uma lição de vida!

    Foto de Capa: Rio Ave FC

    Artigo realizado pelos autores da Página “Rio Ave Sempre”

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