Caro Presidente da UCI,
Tenho sido regularmente um crítico regular da sua presidência e tem de admitir que há muito que não está a correr bem: o caos no World Tour, as equipas Pro Continentais a desaparecer, as desqualificações polémicas… Contudo, dirijo-lhe esta missiva num espírito diferente, com uma vontade de comunhão num ideal comum.
Quando, em 2011, choramos juntos a morte de Wouter Weylandt, fizemo-lo chocados com a aberração que era o evento, estupefactos com a tragédia que nos relembrou do quão perigoso pode ser este desporto que amamos.
No entanto, não foi esse o nosso estado de espírito aquando do falecimento de Bjorg Lambrecht ou da paraplegia de Edo Maas. As lágrimas foram as mesmas e o sentido de comunidade que há entre nós no ciclismo também continua intacto. Mas, faltou-nos a surpresa.
Por mais fatídicos que sejam esses acontecimentos, já não nos deixam atónitos como outrora, a morte e a tragédia voltaram a fazer parte do dicionário da nossa modalidade nestes últimos tempos.
Como foi possível deixarmos tal acontecer? Como foi possível aceitarmos a normalização da desgraça?
Não penso que a culpa seja sua. Foi uma degradação gradual da segurança em que todos fomos testemunhas silenciosas. Cabe, todavia, a quem hoje assume as mais altas responsabilidades na UCI tomar a iniciativa para virar a página e garantir que os nossos heróis não estão iminentemente sujeitos ao risco de ver os seus sonhos acabar na beira de uma qualquer estrada anónima.
Com os crescentes esforços das equipas e o advento de novas soluções tecnológicas, temos a oportunidade de garantir um ciclismo mais seguro para todos e que corresponda às necessidades de uma sociedade evoluída e que já não aceita a perda dos seus pelo simples facto de que não houve quem se preocupasse o suficiente para os proteger.
Quem somos nós enquanto comunidade se estamos menos preocupados com o escudar dos nossos atletas que com o tamanho das meias com as quais enfrentam a perspetiva do seu próprio fim?
Parta, então, para a ação e deixe-nos um legado de que se possa verdadeiramente orgulhar.
Foto de Capa: Cycling Rwanda
Revisto por: Jorge Neves