Força da Tática: A diferença do detalhe em jogo competitivo | FC Barcelona 2-1 FC Porto

    Força da Tática: A divisão / conquista de espaços, as superioridades numéricas defensivas / ofensivas e a gestão da bola foram determinantes. A rubrica de hoje é da autoria do treinador de futebol, Bruno Romão, e é sobre o FC Barcelona x FC Porto, referente à quinta jornada da fase de grupos da Champions League.

    Análise Tática: FC Barcelona 2-1 FC Porto

    FC Porto

    O FCP iniciou o jogo com o seu melhor 11 disponível para este jogo no sistema habitual (4-4-2) com Diogo Costa, João Mário, Pepe, Fábio Cardoso, Zaidu, Pepê, Eustáquio, Varela, Galeno, Taremi e Evanilson. Tendo em conta a profundidade do plantel e as lesões não houve surpresas.

    Defensivamente, o FCP procurou condicionar alto, com marcação individual, a construção para fora, de forma a anular o jogo interior do adversário. Foi algo que tentou fazer logo a partir do pontapé de baliza. Aqui houve uma preocupação notória de preparar a equipa, quer o Barcelona construísse a quatro ou a três, sem saltar no GR para não “desmontar” a pressão.

    Detalhe importante: a transformação da construção a três para quatro, com a baixa de De Jong para criar superioridade numérica e indefinição. Houve uma preocupação constante de compactar o bloco em todas as zonas na pressão vertical e horizontal, aspeto em que o FCP é normalmente forte.

    Ofensivamente, o FC Porto procurou construir com personalidade, atraindo a pressão alta do FCB, que optou por saltar em Diogo Costa, criando espaços aproveitados à vez por Eustáquio ou Varela a ligar. Houve uma clara intenção do FCP verticalizar a construção e ligação para aproveitar a versatilidade de Taremi / Pepê nos espaços, procurando as costas dos médios em apoio, ou por Galeno e Evanilson mais em profundidade. Houve uma opção clara de chegar área com quatro a cinco jogadores com a intenção de finalização suportada pelo registo de golos sofridos do FCB (16 golos sofridos em 18 jogos).

    FC Barcelona

    Iniciou o jogo no sistema base 4-3-3 com Peña, Araújo, Koundé, Martinez, Cancelo, De Jong, Gundogan, Pedri, Raphinha, Lewandowski e Félix. De registar as opções de Araújo como lateral direito e Koundé como central direito, no sentido de controlar os apoios frontais de Taremi e a profundidade de Galeno, simplificando as dinâmicas de construção, no fundo controlar o corredor mais forte do FCP.

    Defensivamente, o clube catalão procurou condicionar alto a construção do FCP e saltar no guarda-redes a 3 e algumas vezes a 4, com Pedri a saltar com Lewandowski. Frequentemente vimos Lewandowski a conduzir a pressão para o lado direito da equipa, onde Araújo e Raphinha dão maior intensidade à pressão exterior. A defender no seu meio-campo, vimos frequentemente o bloco organizado em 541 (por vezes até 631) com o extremo do lado da bola a baixar. Aqui, a opção de baixar foi clara para aproveitar a qualidade individual dos avançados em contra-ataque, de forma a explorar espaços exteriores nas costas dos laterais do FCP, que projetam ofensivamente.

    Ofensivamente, a construção a três (4, 23 e 5) teve frequentemente um quarto homem, De Jong, no sentido de atrair a pressão e quebrar linhas, procurando chegar à qualidade individual de Cancelo e Raphinha, projetados após variação. O posicionamento interior de Félix junto de Lewandowski fez com que ofensivamente a equipa assumisse estruturas muito versáteis no aproveitamento dos corredores interiores – 352, 334, 424 e 433.

    O Jogo

    O FCP faz uma primeira parte muito bem conseguida, sobretudo após os 10’, em que Sérgio Conceição (SC) ajustou o posicionamento de Pepê na marcação individual alta para controlar de frente Cancelo, transformando muitas vezes a pressão em 4-2-4 para 4-3-3. A partir desta fase houve também melhor controlo defensivo de De Jong na construção, com a utilização de um dos médios. A estrutura compacta da linha defensiva foi decisiva para a qualidade da pressão.

    A equipa de SC foi mais sólida coletivamente e teve uma boa frequência em qualidade e número de jogadores na chegada à área (transição e organização ofensivas com 11 remates). O primeiro golo foi um bom exemplo desta boa ligação e capacidade de criação em contra-ataque.

    Algo surpreendente foi a frequente indefinição de funções do Barcelona, quando as duas primeiras linhas de pressão eram batidas, bem como as dificuldades de coordenação / agressividade na defesa da área. O FCP procurou explorar este aspeto, acelerando o jogo nos espaços livres e criando muitas situações de finalização. Ao longo do jogo, o Barcelona procurou atacar atraindo a pressão para variar o jogo, criando situações de 1v1 com os laterais nos corredores exteriores em ataque rápido e contra-ataque. A estratégia de explorar as dificuldades de João Mário surtiram efeito neste ponto, com os dois golos marcados a surgirem deste tipo de situações

    A reação do Barcelona na segunda parte foi a esperada, com o FCP a ter menos bola, mesmo em momentos em que a pressão do adversário tinha pouca intensidade. Mesmo marcando perto dos 60’ o 2-1 e tendo maior volume de jogo na segunda parte, sempre que o FCP teve mais bola o adversário teve dificuldade. A equipa de SC tem um plantel mais curto e alguns jogadores a precisar de tempo de jogo, (Zaidu e Evanilson por exemplo) o que nestes momentos dá consistência e tomada de decisão.

    Na segunda-parte o FCP compactou o bloco e subiu menos as linhas a pressionar para dar maior cobertura à pressão nos corredores exteriores. Neste período do jogo foi notória a dificuldade do FCB em defender, quando a equipa de SC esteve mais disponível para dar opções ao portador da bola.

    Num jogo com tanto equilíbrio e contra tanta qualidade individual, o FC Porto competiu ao mesmo nível, mas não conseguiu controlar alguns aspetos que são identidade da equipa. Os duelos (1ª e 2ª bola), a marcação próxima das opções de transição quando a equipa está perto da área a atacar, a qualidade da pressão horizontal (1º golo do FCB, com Taremi muito perto e a não apertar Koundé) e a cobertura aos laterais (pelo médio ou central mais próximo na proteção sobretudo a João Mário – 1º e 2º golos) foram determinantes e deixam a perceção à equipa, até pelas palavras de SC no pós jogo, de que detalhes que frequentemente dominam não foram controlados.

    Aspetos Chave do Jogo

    A organização / solidez e a personalidade do FCP contra um adversário com muito mais soluções. A falta de ritmo competitivo de alguns jogadores expôs alguma falta de rotinas ofensivas e defensivas dos mesmos. A velocidade dos jogos da Champions exige todos os jogadores a top. 1-1 ao minuto 32, logo após o FCP marcar o 0-1com muito mérito, num período do jogo em que está claramente por cima, trazendo confiança ao adversário, que estava a ter dificuldades para assentar o seu jogo ofensivo e sofria com a criação de situações de finalização da equipa de SC.

    Alguma inconsistência do FCP nos duelos e na pressão horizontal, o que permitiu variações, anulando a boa organização / divisão dos espaços defensivos e expondo especificamente as dificuldades de João Mário, o que aumentou a frequência da necessidade de coberturas aos laterais contra jogadores fortes no 1v1. O FC Barcelona teve um bom aproveitamento da qualidade individual dos jogadores projetados por fora, após variação do jogo à largura para criar desequilíbrios, sendo os golos dois bons exemplos.

    Jogo muito rico taticamente, com ambas as equipas a revelar boa flexibilidade, no sentido de dominar os espaços através de superioridades numéricas momentâneas com e sem bola. Os detalhes e a qualidade individual fizeram a diferença.

    Artigo de opinião de Bruno Romão, treinador de futebol

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