Neste verão, aqueles que acompanharam os adeptos ingleses durante o Campeonato do Mundo na Rússia ficaram familiarizados com a expressão: “It’s coming Home, football’s coming home.”, que faz parte de uma música gravada por David Baddiel e Frank Skinner para o campeonato da europa de 1996, intitulada de “Three Lions”.
Entoada pelos adeptos ingleses, a expressão tinha o objetivo de dar força e esperança a uma equipa jovem, sem os grandes nomes de outros tempos, mas com talento, juventude e humildade. Sabemos que a profecia transmitida pela música acabou por não se concretizar, mas esse não era objetivo. O objetivo passava por fazer os jogadores acreditarem no projeto que a federação inglesa está a construir, não se focando no curto prazo (tentando imitar outras seleções, como fizera no passado), mas no longo prazo, algo fundamentado, construído pelos ingleses para os ingleses.
A merecida vitória em Wembley, frente à vice-campeã do mundo, e o apuramento para a Final Four representaram mais um passo nesse sentido. Proponho olhar para essa partida, já com o propósito de entender que seleção inglesa é esta que Portugal, possivelmente, pode enfrentar.
Equipas Iniciais
Gareth Southgate abandonou definitivamente o sistema 5-3-2 que apresentou no Mundial, assumindo agora um 4-3-3. Para preencher esse novo sistema, a linha defensiva foi composta por Walker (lateral-direito), Gomez, Stones e Chilwell (lateral-esquerdo); Dier apareceu na posição de médio mais recuado, com Barkley e Delph a aparecerem como médios interiores; na frente, Sterling (direita), Kane e Rashford (esquerda) formam a linha ofensiva.
Do lado croata, em comparação com o jogo frente à Espanha, Modrić baixou da posição “dez” para o lado de Brozović, no centro do meio-campo. Na posição “dez” apareceu Vlašić no apoio a Rebić, o ponta-de-lança.
A fluida Inglaterra
O 4-3-3, em posse de bola, transformava-se em 3-4-3, com Walker ou Dier (como naturalmente fazem nos respetivos clubes) a completarem a primeira linha de três. Quando era Dier, Walker e Chilwell (os laterais) subiam no corredor e garantiam a largura da equipa, enquanto os respetivos extremos se posicionavam em zonas mais interiores.
O posicionamento agressivo dos laterais, em conjunto com os extremos ingleses, forçou os médios-ala croatas (Perisiće Kramarić) a ocuparem zonas demasiado recuadas, o que deu tempo e espaço à primeira linha de construção inglesa e aos médios interiores para criarem oportunidades de golo com alguma facilidade.
O arrastamento, em efeito bola de neve, dos jogadores croatas para longe das suas posições ideais, aliado ao espaço existente nas costas da linha defensiva, permitiu à Inglaterra a criação de várias chances de golo e de chegadas com perigo ao último terço do adversário.
Fonte: Sport TV
Dalić começou com um 4-4-1-1, sem posse de bola, com Vlašić a marcar Dier. O grande problema desta abordagem foi a exposição de Modrić e Brozović face à movimentação fluida dos médios e avançados ingleses. Dier, Barkley e Delph trocavam constantemente de posições no meio-campo. Rashford e Sterling atacavam as posições nas costas do duplo pivô croata, arrastando os seus adversários diretos para fora da sua posição. Gradualmente, Kane também se envolveu no dinamismo de Rashford e Sterling, baixando até junto do duplo pivô croata e arrastando com ele o seu marcador direto, ou seja, mais espaços para as diagonais dos extremos.
Contrapressão inglesa
O domínio acentuado inglês, em particular no primeiro tempo, esteve muito relacionado com a incapacidade de a Croácia ter bola de forma consistente. Assim que perdiam a posse de bola, o meio-campo inglês pressionava agressivamente o adversário, algo fundamental, se tivermos em consideração as posições adiantadas do campo que os laterais ocupavam.
Nos segundos quarenta e cinco minutos, os níveis de contrapressão ingleses baixaram. Assim, o duplo pivô croata conseguiu ter bola e dar algum descanso à sua linha defensiva, que havia sido penalizada fortemente pela fluidez dos ataques ingleses na primeira parte.
Ao perceber esta mudança, que foi materializada com o golo de Kramarić, Gareth Southgate fez entrar Alli, Sancho e Lingard. Estes três jogadores vieram reabastecer os depósitos energéticos da equipa, ou seja, aumentar os níveis de contrapressão.
Um candidato às próximas competições
Tive o prazer de estar em Wembley, no amigável frente aos Estados Unidos, dias antes do jogo decisivo frente à Croácia e há uma sensação diferente no ar. A equipa de Southgate mereceu a vitória, apresentando uma forma de jogar fluída, muito dinamismo, com e sem bola, e continua a ser muito perigosa nas situações de bola parada, como observámos no último Campeonato do Mundo.
Um grupo jovem, com muitas soluções e muito talento, que está a trazer luz ao negro futebol inglês dos últimos anos.
Foto de capa: England Football Association