Força da Tática | Aproveitar o que o jogo dá depois de planear o que o jogo pode pedir

    Antes do início da partida no Campeonato do Mundo, e já depois de se saber os onze iniciais, imperava uma pergunta: como se iriam dispor e distribuir os jogadores portugueses? Com o desenrolar da partida, percebeu se que Otávio, Bruno Fernandes e Bernardo Silva eram os que mais posições diferentes ocupavam, no setor do meio-campo e defensivo. João Cancelo e Raphael Guerreiro em movimentos de grande verticalidade.  Cristiano Ronaldo, a ser o pivot do jogo atacante.

    A seleção do Gana em 5x4x1 com um bloco médio baixo, com clara preocupação de se preocupar com os corredores laterais apenas e só no setor mais recuado, permitindo a Portugal jogar por fora, mas em situação mais avançada no terreno, esbatia na contenção de Seidu e Rahman, e com as coberturas do jogador do meio-campo do Gana, mais próximo do centro do jogo, ora Partey oura Kudus.

    Mundial 2022

    Com o desenrolar da partida, Ruben Neves ia tendo diferentes parcerias no meio-campo, ora Otávio, ora Bernardo Silva, ora Bruno Fernandes. A tal versatilidade ia baralhando as marcações do adversário e por outro lado permitia aos mesmos, quando estavam em situação mais avançada no terreno, romperem na linha defensiva do Gana, mas quase sempre, a não terem êxito nas duas desmarcações em profundidade.

    Em termos estratégicos, quatro jogadores a pressionarem a saída de bola do guarda-redes do Gana, levavam o jogo para a disputa aérea no meio-campo.

    Jogo Mundial 2022

    Ia levando a melhor a nossa seleção. Até porque a seleção africana não decidia em conformidade, existindo situações onde a ideia de atrasar o jogo não era a melhor resposta a algumas bolas que o Gana ia ganhando, no meio-campo. Ruben Neves, por vezes a ser o quarto jogador da pressão, com a nossa seleção bem posicionada nos equilíbrios. A seleção do Gana sem hipótese de criar perigo na primeira parte, ia fazendo das distâncias entre linha defensiva e média, uma das armas para estar no tal equilíbrio, em organização defensiva.

    Por seu turno, em organização ofensiva, Portugal ia procurando superioridade numérica nos três corredores, e era esse o momento decisivo para o jogador com bola decidir penetrar em profundidade, ora em passe ora em drible. A linha do meio-campo de Portugal em grande parte do tempo, estava situada precisamente, na linha do meio-campo. Félix era feliz a jogar, e aos nossos olhos, ia dando bons indicadores, sobretudo no momento defensivo, a pressionar e a preencher espaços importantes.

    Na reta final da primeira parte, ia se perdendo velocidade na pressão na construção do Gana, e os jogadores portugueses a notarem algum atraso na contenção ao portador de bola.

    Na segunda parte, o Gana pressionava mais alto e mais forte, posicionava se mais alargado e profundo no campo, o que colocava em sentido toda a organização defensiva e ofensiva de Portugal. Com a lesão de Otávio, a equipa partiu e até William Carvalho assentar no jogo coletivo, Portugal passou dificuldades.  Contra a corrente do jogo, Portugal fez o seu primeiro golo. O Gana ganhou alma, e conseguiu empurrar Portugal para trás.

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    Convicto que isso estaria nos planos do nosso selecionador, não estaria era previsto que Portugal quando saía para o contra-ataque, perdia facilmente a bola e a equipa ia estando completamente e cada vez mais, partida.  Foi numa dessas perdas de bola que o Gana empatou a partida, num lance mal abordado, na reta final, por Danilo.

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    Rafael Leão, para o jogo que se estava a ver, a entrar ligeiramente fora do timing da mudança estratégica, mas a tempo de colocar em sentido o lado direito da equipa do Gana. Portugal não perdeu a calma e atacou em situações de ataque rápido e de contra-ataque sempre a utilizar a largura total do campo. Exemplo disso mesmo foi o segundo e terceiro golo, mas sobretudo o segundo, com uma muito boa finalização do jogador extra que Portugal teve neste jogo: João Félix.

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    Até ao Fim, Portugal ia tendo o jogo controlado, mas numa abordagem insuficiente de João Cancelo e um esquecimento duplo de Danilo e Guerreiro, a seleção do Gana reduziu para 3-2.

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    A crença do Gana ameaçou novamente a vitória portuguesa, ainda para mais, depois da tripla substituição de Fernando Santos, onde existiu alguma demora na adaptação nas marcações. Não tivesse havido uma escorregadela de Williams, um resultado menos positivo podia ter ocorrido.

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    Portugal abordou uma parte de forma estratégica a um bom nível, foi fiel ao último desempenho, do jogo particular com a Nigéria. Versatilidade, multiplicidade de desmarcações, agressivo defensivamente ocupando muito bem os espaços e não tendo receio das disputas de bola. Fisicamente, a equipa foi abaixo na segunda parte e, embora estivesse à espera, Portugal não teve a resposta mais eficaz para jogar em situações de ataque rápido. Porquê? Porque não foi articulado e impetuoso na última linha defensiva e porque o meio-campo ficou demasiado fatigado, não ajudando a juntar a equipa, para estar preparada para eventuais perdas de bola.

    Contra o Uruguai, estamos convictos que Portugal abordará o jogo um pouco mais recuado, mas deu sinais claro de que, com os artistas que tem, consegue ser humilde o suficiente para avançar na sua pressão e partir para esta “guerra”: atacar a bola para depois atacar a baliza. Portugal não tem de regressar ao jogo de saídas rápidas.

    Boa sorte, Portugal!

     

    Artigo com a opinião de Paulo Robles, comentador BnR TV.
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