Força da Tática: Busquets… o melhor do mundo

    força da tática

    Não me ocorre outro título, à partida, tão polémico quanto verdadeiro. Sergio Busquets é um dos jogadores menos populares à escala mundial e, ao mesmo tempo, um daqueles cuja qualidade é mais vezes esquecida e até descredibilizada. Já dizia Xavi “Busquets é muito mais valorizado pelos profissionais do futebol do que pelas pessoas de fora”. E hão de ser eles, aqueles que respiram futebol desde miúdos, durante todo o dia, aqueles que melhor o entendem, não é? Mais reveladoras ainda são as palavras de Guardiola quando lhe perguntaram acerca da importância do seu médio defensivo “Ele sabe que sem ele tudo o que esta equipa tem feito não era possível. Se pudesse reencarnar num jogador, seria como ele”. As palavras ganham especial importância por se tratarem, respectivamente, de um dos jogadores e um dos treinadores a quem se reconhece maior inteligência e entendimento do jogo. Esses e outros testemunhos de Del Bosque, Pep Reina, Iniesta e do próprio Busquets podem ser encontrados no (fantástico) vídeo abaixo.

    Produto de La Masia, o trinco do Barcelona surgiu na equipa A por intermédio de Pep Guardiola, logo na sua primeira época enquanto treinador do Barça. Na altura o titular da posição era Yaya Touré, mas nem por isso o então jovem de apenas 19 anos deixou de marcar impacto: 41 jogos na sua época de estreia, dos quais foi titular em 31. Guardiola, que já havia trabalhado com Busquets na equipa B, sabia bem quem estava a lançar. Ele próprio, na sua fantástica carreira como jogador, actuou como médio mais recuado durante anos e sabe, por isso, aquilo que a posição requer: tudo o que Busquets é. Interessantes as palavras de Jorge Valdano, ex-glória argentina e do Real Madrid, sobre a suposta inexperiência de Busquets quando foi lançado “Guardiola entregou o jogo a um futebolista inexperiente como é Sérgio Busquets (…) O lugar de médio é um lugar crítico para uma equipa que pretende ter a bola, porque é a partir deste ponto que se reparte o jogo e elege o ritmo. Sérgio Busquets mede uns 1,91 m, tem grande qualidade de passe e não é especialmente intenso. O valor dele é posicional (…) a sua velocidade é técnica, porque resolve sempre a um ou dois toques. Experiência? A ver se entendemos que para dirigir o jogo, como para dirigir uma equipa, como para dirigir um clube, antes da experiência faz falta critério”. (Fonte: jornal A Bola de 27 de Setembro de 2008).

    Desde então e até agora nunca foi por falta de concorrência que Busi, como lhe chamam em Espanha, deixou de jogar. Chegou Mascherano, na altura um dos melhores trincos do mundo; chegou Alex Song; chegou até Fábregas, que embora jogue numa posição mais adiantada, poderia originar uma alteração no sistema da equipa, como se especulou na altura. “Busquets é sempre o primeiro nome que escrevo na ficha de jogo”, respondeu Guardiola. Mas a convicção não é exclusiva do agora treinador do Bayern. Também Del Bosque, o seleccionador no mundo que conta com mais médios de qualidade, utiliza o jogador do Barcelona a titular em todos os jogos nas fases finais desde o Mundial de 2010. O que tem Busquets, afinal, que passa ao lado da maioria dos adeptos mas que faz dele essencial para todos os treinadores que teve?

    • Inteligência

    Busquets é um dos jogadores mais inteligentes do mundo e esta é a característica que faz dele o melhor. A posição 6, a mais importante de todas por ser aquela em que mais se exige compreensão e participação em todos os momentos do jogo (com e sem bola) é também aquela que requer mais inteligência por parte do jogador que a ocupa. Por inteligência no futebol entende-se principalmente a capacidade de posicionamento, de leitura do jogo e de tomada de decisão que basicamente fazem o jogador tentar fazer bem ou mal. A execução, depois, só se torna importante se tiver existido uma boa decisão, e a decisão só é boa se houver uma boa leitura do jogo e do seu contexto. De nada vale executar bem o passe, drible ou remate que não deveriam ser feitos. Mesmo no futebol o mais importante é a inteligência. A esse nível, Busquets não tem ninguém acima dele. Nunca erra. Passa quando e para onde deve passar. Guarda a bola quando deve guardar. É perfeito na gestão dos ritmos. Arrisca tão somente o que tem a arriscar e, sobretudo, ocupa os espaços como nunca tinha visto ninguém ocupar. Assim, no momento ofensivo está sempre a dar uma solução através de uma linha de passe segura e, no defensivo, está sempre a cobrir o espaço correcto de forma a evitar que a equipa fique descompensada e exista espaço para os adversários. No sistema de posse que o Barça utiliza, este médio é fulcral porque é quem evita a maior parte das transições aquando do momento da perda de bola. Em baixo fica um exemplo da performance do médio numa transição do Real Madrid, no último jogo entre as equipas.

    • Capacidade técnica e de construcção

    Podia resumir este tópico num dado: este ano, Busquets tem uma média de 93,1% de passes correctos (fonte: http://www.whoscored.com/Players/44721/Show/Sergio-Busquets). Quantos terão tal nível de acerto na componente mais importante do jogo para um médio, que é o passe? Pouquíssimos ou mesmo nenhum. Aqui dirão que arrisca pouco e, por isso, falha menos. É verdade que, pela posição onde joga, não faz tantos passes de ruptura como os médios mais adiantados. Mas pedir ao trinco que arrisque no passe constantemente é o mesmo que pedir ao central que arrisque no drible. Não só escusado como altamente reprovável. De qualquer forma, Busquets só apresenta esta percentagem absurda de passes correctos porque tem uma excelente capacidade técnica (vídeos em baixo), ao nível do passe, do controlo e até do drible curto, ao contrário do que por vezes se diz. É incontornável para qualquer equipa de posse ter um trinco com competências a nível técnico bastante altas. A primeira fase de construcção passa sempre por ele e, por vezes, é aí que se foca a pressão dos adversários. Busquets é, aliás, um dos melhores do mundo (diria mesmo o melhor) a sair sob pressão. Ainda ontem, frente ao Atlético, teve um lance em que o provou, conforme se pode constactar no vídeo em baixo, seguido de outros reveladores do que foi escrito neste tópico.

    •  Capacidade defensiva

    Busquets é o melhor também porque é o mais completo dos médios defensivos. Não há nenhum outro que alie a capacidade ofensiva descrita e demonstrada acima com a capacidade defensiva que possui. Forte no ar (1,89cm), é uma das poucas referências da equipa nas bolas paradas; agressivo como nenhum outro dos habituais titulares (se não considerarmos Mascherano titular), é quem minimiza as perdas cada vez que os jogos pedem maior vertente física; forte no desarme, rouba inúmeras bolas e permite assim que a equipa tenha mais posse; nas dobras, cada vez que há desposicionamentos, é o pêndulo que qualquer equipa que tem Xavi e Iniesta precisa. É, sobretudo, prova de que nem o médio mais defensivo precisa de estar sempre a correr para efectuar o seu trabalho da melhor forma. Enche o campo com a inteligência e com as referências correctas. Sem ele era impossível não só coabitarem dois médios tão criativos como Xavi e Iniesta como jogar com apenas três defesas, como Guardiola chegou a fazer no Barcelona. Em baixo segue um vídeo da prestação defensiva de Busquets frente ao Real Madrid, no ano passado.

    Estas são as razões principais que levam Busquets a ser único e insubstituível para qualquer que seja o treinador que o tenha, quer seja no Barcelona ou na Selecção Espanhola. A vertente psicológica é, contudo, aquela que depois influencia todo o seu jogo quer ofensivo quer defensivo. Este ano, em que Messi esteve mais abaixo, Xavi quebrou no ritmo e Iniesta andou intermitente, Busquets foi o melhor  e mais regular jogador do Barcelona. Como podem verificar no primeiro vídeo do artigo, já em 2010 Reina afirmava que o melhor da selecção no mundial havia sido, na altura com apenas 21 anos, Sergio Busquets. Alguma razão há-de existir para, desde que se estreou, o craque espanhol nunca ter feito menos de 45 jogos por época. Numa altura em que todos os treinadores pedem trincos e médios fortes, possantes, rápidos e capazes de correr km a alta intensidade, é um rapaz magrinho e sem velocidade que triunfa… por saber que a velocidade que importa é aquela com que se pensa e decide. Busquets não vai nunca ganhar uma Bola de Ouro, mas não desempenha o seu papel em campo pior do que qualquer que seja considerado o melhor.

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    João Almeida Rosa
    João Almeida Rosa
    Adepto das palavras e apreciador de bom Futebol, o João deixou os relvados, sintéticos e pelados do país com uma certeza: o futebol joga-se com os pés mas ganham os mais inteligentes.                                                                                                                                                 O João não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.