Força da Tática | Newcastle e os problemas no momento defensivo

    Na temporada transata, Eddie Howe e o seu fiel escudeiro Jason Tindall, conduziram o Newcastle a um merecido quarto lugar na Premier League.

    Depois de duas décadas de ausência, os Geordies, estavam de volta aos grandes palcos do futebol europeu. Em adição, a chegada de nomes como Tonali, Barnes e Livramento, veio fomentar ainda mais o entusiasmo para a presente época. Contudo, o Newcastle tem estado um pouco aquém das expectativas, ocupando o décimo lugar da tabela classificativa do campeonato inglês e tendo terminado no último lugar do seu respetivo grupo da liga dos campeões.

    A grande quantidade de lesões justifica em parte o insucesso dos Magpies até ao momento, no entanto, os problemas que a equipa demonstra no processo defensivo são a principal causa para os resultados apresentados até agora. 

    Momento de Pressão do Newcastle

    Tal como na temporada anterior, o Newcastle destaca-se pela sua grande intensidade e eficácia no primeiro momento de pressão. Os comandados de Eddie Howe, conseguem sufocar a grande maioria dos seus adversários, especialmente, quando jogam dentro de portas, no seu forte, St. James’ Park. O duelo com o PSG na segunda jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões vem imediatamente à minha memória. Previa-se um confronto de estilos muito vincado e o que se viu foi uma lição coletiva dos Magpies à turma parisiense. A pressão dos Geordies deu um massacre ao campeão francês, forçando inúmeros erros na tentativa de construção apoiada do seu adversário (Marquinhos acabou em golo de Almirón).      

    O PPDA do Newcastle é o 6º melhor da Premier League

    Longstaff recupera a bola em zona bastante adiantada do campo
    Longstaff recupera a bola em zona bastante adiantada do campo

    Estrutura de pressão do Newcastle
    Estrutura de pressão do Newcastle

    No primeiro momento de pressão, os três avançados posicionam-se na entrada da área. O objetivo da linha ofensiva é pressionar os centrais e o GR, bloqueando ainda a linha de passe para o médio de cariz mais defensivo. As linhas média e defensiva, reduzem o espaço entre setores, verificando-se em vários casos uma marcação homem a homem, tendo em conta a estrutura adotada pela equipa adversária. 

    Este tipo de posicionamento adotado pelos Geordies obriga a que os seus adversários optem por um jogo mais direto. Com isto, as segundas bolas assumem um papel ainda mais importante no jogo.

    City é obrigado a jogar longo face à forte pressão do Newcastle
    City é obrigado a jogar longo face à forte pressão dos Magpies

    Rodri e Aké sobem, rapidamente, no campo, para que o City tenha uma maior possibilidade de ganhar a segunda bola. Todavia, este tipo de contexto favorece a equipa do norte de Inglaterra que é dotada de jogadores com índices físicos e de agressividade bastante elevados.

    Contudo, o Newcastle, quando não esmaga o seu adversário na pressão, deixa buracos em todo o lado e não tem defesas individualmente capazes de suportar isso. Com isto, a equipa de Eddie Howe, esta temporada, tem sido surpreendida até com adversários de valor inferior, especialmente, quando joga fora de casa.

    De que forma é que os adversários tiram proveito dos problemas defensivos do Newcastle?

    Como referido anteriormente, os grandes problemas do Newcastle, surgem quando os adversários conseguem ultrapassar a sua primeira linha de pressão. A Bruno Guimarães, que é o médio mais defensivo, é exigida a função de pressionar o médio defensivo adversário, sendo que o posicionamento do brasileiro acaba por libertar muito espaço entre o setor médio e defensivo. Os adversários colocam vários jogadores próximos na zona média, de modo a atrair Bruno Guimarães e, posteriormente, com combinações rápidas, encontrar jogadores posicionados entre as linhas média e defensiva do Newcastle.

    Contra o City, isto ficou bem patente, principalmente na primeira meia hora, onde o domínio total foi dos Skyblues.

    Newcastle x Man City
    Foden recebe a bola liberto de pressão

    Neste caso, o posicionamento de Gvardiol e Walker, também foi preponderante para dificultar a pressão por parte da equipa de Eddie Howe. Enquanto os defesas ofereceram largura, os extremos Foden e Doku, operaram entre linhas fazendo um movimento oposto ao habitual.

    No lance do primeiro golo dos Cityzens, o elevado número de jogadores posicionados entre linhas levou a que Dan Burn fosse atraído para o centro do campo, deixando o corredor livre para Walker. Em adição, Gordon cometeu um erro de posicionamento, estando demasiado aberto o que permitiu a Doku encontrar o lateral direito inglês.

    Newcastle x Manchester City
    Walker recebe a bola sem marcação antes de assistir Bernardo Silva

    Newcastle x Manchester City
    De Bruyne recebe a bola sem qualquer pressão

    No segundo golo do City, o espaço existente entre o meio-campo e a defesa voltou a ser enorme. Os três médios do Newcastle foram atraídos pela bola e De Bruyne de forma inteligente aproveitou o espaço existente entre os últimos dois setores. Posteriormente, o talento do belga fez a diferença e o médio firmou um golo de belo efeito.

    O que é alarmante é que este fenómeno não se verifica apenas contra as equipas mais dominadoras e capazes de ter a bola como City, Arsenal, Liverpool ou Brighton. Frente a um Nottingham Forest em reformulação após a chegada do treinador português, Nuno Espírito Santo, este problema foi igualmente evidente.

    O espaço entre as últimas duas linhas do Newcastle volta a ser demasiado claro
    O espaço entre as últimas duas linhas do Newcastle volta a ser demasiado claro

    Neste confronto, e de forma astuta, NES não só explorou os problemas de velocidade do lado esquerdo da defesa do Newcastle, como também deu ferramentas à sua equipa para conseguir jogar entre linhas. A escolha de Dan Burn por parte de Eddie Howe foi bastante debatível, dado que remeteu para o banco de suplentes, Tino Livramento, um dos melhores do Newcastle na presente temporada e que possui atributos físicos para combater a velocidade do lado direito dos Reds.

    Adicionalmente, a colocação de Gibbs-White entre o setor médio e defensivo do Newcastle, abriu asas a sucessivos contra-ataques, permitindo ao Forest sair de St. James’ Park com os três pontos.

    Na tabela acima, podemos observar as equipas da Premier League que mais utilizam o corredor central no último terço para desenvolver os seus ataques. De realçar que o histórico dos Magpies contra estas equipas é claramente desfavorável. Os adversários atacando pelo corredor central estarão sempre mais próximos de explorar as fragilidades que o Newcastle demonstra no momento da transição defensiva.

    Sugestão

    A meu ver, Eddie Howe deveria alterar a estrutura da sua equipa quando esta se encontra no momento defensivo. A estrutura atual baseia-se num 4-5-1, porém uma passagem para um 4-1-4-1 poderia ser benéfica. O médio defensivo passaria a ser mais disciplinado em termos posicionais, fechando linhas de passe e comandando a linha média para que se mantenha compacta.

    Em adição, seria necessário a linha defensiva reduzir o espaço existente entre setores. Os centrais deveriam aumentar os seus níveis de agressividade para diminuir a possibilidade de os adversários jogarem entre linhas. O regresso de Sven Botman após lesão, um central que apresenta uma elevada capacidade de antecipação e um ótimo sentido de posicionamento, pode atenuar os problemas defensivos que o Newcastle tem vivido até ao momento.

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