No futebol, tal como na maioria das modalidades, existem figuras que nos inspiram e com as quais nos procuramos identificar. Eu confesso que sempre tive uma particular apetência para idolatrar certo tipo de jogadores que passam despercebidos para a maioria das pessoas. Uma espécie de hipster do desporto. Se entrasse por aí e começasse a enumerar alguns dos jogadores pelos quais desenvolvi alguma admiração, provavelmente deixariam de me levar a sério e paravam de ler o texto neste preciso momento.
Com o passar do tempo, fui começando a olhar de outra forma para o desporto e para os seus intervenientes. As minhas referências foram-se alterando, a admiração por alguns jogadores aumentou e por outros, claro, diminuiu. No entanto, desde criança, sempre houve um jogador que me encheu as medidas. Talvez pelo facto de ser a posição onde gosto de jogar e por saber, precisamente, as responsabilidades dela para todo o futebol coletivo da equipa. Não sei bem ao certo. Mas o facto é que Fabio Cannavaro é o defesa-central que melhor vi jogar futebol.
Perdoem-me os grandes centrais do último século como Nesta, Ricardo Carvalho, Thuram, Laurent Blanc ou Jaap Stam, mas este era mesmo O fora de série. O especial. Vencedor da Bola de Ouro em 2006, Cannavaro conseguiu a proeza de ter sido considerado o melhor do mundo para a FIFA num ano em que havia Zidane e Ronaldinho em grande momento de forma. Questione-se ou não a justiça do prémio, é quase unânime que Cannavaro merecia um prémio assim.
Numa altura em que tanto se questiona a importância dos defesas-centrais mais altos no futebol moderno, Fabio Cannavaro é o exemplo máximo de que essa teoria é uma das maiores parvoíces (desculpem-me a expressão) alguma vez criada. Sabe-se que, por exemplo, Jorge Jesus, treinador do Benfica, é um forte defensor desta ideia. Já o disse por diversas ocasiões e não perde uma oportunidade para reforçar essa ideia. Talvez por aí se justifiquem muitas das suas opções. Mas isso são outras conversas.
Facto concreto é que os 176 centímetros de Cannavaro nunca foram impeditivos de se ter afirmado como um dos melhores de sempre na sua posição. A enorme capacidade posicional e também de impulsão conseguiam facilmente anular todas as desvantagens que poderia ter com oponentes de maior envergadura física. Isto tudo aliado a uma tremenda capacidade de liderança, que lhe valeu uma série de conquistas importantes ao longo da sua carreira, das quais se destaca o Mundial de 2006, ao serviço da Itália.
Para os portugueses que não têm tão presente algumas das exibições deste jogador italiano, deixo aqui a minha sugestão: temporada 2003/2004. Benfica-Inter de Milão. O encontro ficou 0-0. E uma das primeiras vezes em que digo que foi o defesa-central, e não o guarda-redes, o principal responsável pelo nulo no marcador. Uma exibição notável a todos os níveis. E, provavelmente, foi nesse jogo que a minha admiração por Cannavaro cresceu ainda mais. Para o leitor que acaba agora de ler este meu artigo, deixo apenas o meu apelo: se tiver uma camisola dele em casa e não lhe estiver a dar uso, contacte-me. Eu agradeço e disponibilizo-me a ficar com ela.