Terminada a temporada tenística de 2017 olhar para o ano em retrospetiva permite identificar um Rafael Nadal de regresso à sua melhor forma, entenda-se, menos fustigado por lesões mas, acima de tudo, permite perceber que há um suíço para o qual, aparentemente, não existem limites. No cartão de identidade de Roger Federer a data de nascimento parece ser um dado meramente ilustrativo, tal é a forma como ainda joga (ou será preferível dizer “como joga cada vez melhor”) o Maestro.
Descrever o que foi e continua a ser a carreira de Roger Federer é um exercício que não cabe num artigo. Este já ganhou (quase) tudo o que havia para ganhar e, diga-se, só lhe falta mesmo uma medalha de ouro olímpica em singulares (algo que, provavelmente, nunca virá a acontecer) para que se possa dizer, quando FedEx se retirar, que a sua carreira foi absolutamente perfeita.
A verdade é que depois de 19 títulos do Grand Slam, depois de ter sido número um do ranking ATP durante um total de 302 semanas (237 das quais consecutivas), e depois de ter vencido 1132 encontros e de ter perdido apenas 250 (81,91%), Roger Federer continua a ser o tenista mais acarinhado do circuito ATP. É-o, seguramente, pela qualidade que demonstra dentro de court mas também o é, indubitavelmente, pela classe e desportivismo que transpira fora de campo. Homem de causas nobres, apenas uma memória prodigiosa poderá conseguir encontrar um momento em que Federer tenha discutido com um árbitro, sido menos correto com um adepto ou tenha tido menos fair play para com um adversário.
Desportivamente falando, o suíço é uma máquina de jogar ténis. Aliás, quando se compara, por exemplo, Federer e Nadal, existe sempre a tentação de fazer uma analogia com a rivalidade entre Messi e Cristiano Ronaldo. Federer é o Messi do ténis, é (supostamente) um predestinado enquanto Nadal é obra de muitas horas de trabalho. Puro erro! Ninguém nasce predisposto a jogar ténis como o suíço o faz. É certo que a sua elegância é notável e, certamente, não se aprende nos treinos, mas não foi um qualquer toque de Midas que o levou a executar próximo da perfeição uma tão grande variedade de serviços, a ter uma pancada de direita tão devastadora (em potência e em colocação) ou a ter aquele que é, seguramente, o melhor jogo de pés da história do ténis.
Assistir a um jogo de Roger Federer é admirar uma prática desportiva mas também é, em certa medida, um exercício cultural. Há ali poesia em movimento, qual Pablo Neruda do serviço-volley, qual William Shakespeare do amorti com side spin, qual Dante do passing shot de esquerda, qual Walt Whitman do SABR. Federer não é “apenas” um tenista; ele é o Deus do ténis.
O suíço terminará o ano 2017 como número dois do ranking mundial. O tempo luta agora contra ele, a capacidade física já não é a mesma de outrora mas, se há algo que Federer há já muito tempo ensinou aos adeptos de ténis é que, para ele, não existem impossíveis. Como tal, espera-se com muita expetativa pelo início da próxima temporada que, quem sabe, o poderá levar de regresso ao topo do ranking ATP. E se Federer assim o quiser (e fisicamente puder), restam poucas dúvidas de que o irá conseguir. Depois, poderá deixar a modalidade se assim o entender, mas a verdade é que (quase) ninguém quer que tal aconteça; para quem gosta de ténis, Federer é de sempre e para sempre.
Foto de Capa: Facebook do Australian Open