Jogo Interior #3 – Foco nos Processos vs Foco nos Resultados: Qual é o equilíbrio?

jogo interior

Diz-se que um treinador é um gestor. Gere as decisões técnicas próprias da sua modalidade, gere o treino, gere o modelo de jogo, gere os seus atletas mediante avaliações constantes, gere inúmeros factores inerentes ao jogo. Gere de forma diferente quer seja amador, quer seja profissional, quer seja na formação, quer seja em seniores. Até gere de forma diferente seja uma modalidade masculina ou feminina. Vertentes, circunstâncias, contextos, conflitos, emoções, lesões, transferências, rendimentos, performances, egos. Prefiro pensar que a intenção de todos os treinadores é dar o seu melhor, com os recursos que têm no momento, enquanto não têm melhores recursos para fazer melhor ainda. A intenção tem bastante força; no entanto, ficar pela intenção não chega.

No desporto, o líder deve ser um gestor de oportunidades e de expectativas, sendo capaz de escolher os tempos certos para estimular os seus liderados. No desporto, assim como em outras áreas, as equipas com maior sucesso são as que conseguem ultrapassar os limites, atingir a plenitude e viver na superação.

Existe, então, alguma diferença entre termos o foco nos processos, ou seja, na tarefa que estamos a executar com vista a um objectivo, e termos o foco nos resultados, isto é, fazendo do resultado final o alvo? A mesma diferença existe entre a eficiência e a eficácia. A eficiência é fazer as coisas de forma certa (equivale ao foco no processo) e a eficácia é fazer as coisas certas (equivale ao foco no resultado). Na minha perspectiva, ambos são importantes pois ambos se implicam. Está claro que só importa perceber isto se estamos numa actividade em que procuramos ter sucesso e não numa actividade que simplesmente realizamos por prazer ou por lazer. Se só prestarmos atenção ao processo, sem saber se estamos a obter bons resultados, podemos conseguir um retumbante falhanço. Por outro lado, se só nos preocuparmos com resultados mas não com o processo poderemos acabar por construir um resultado final péssimo. Qual é a chave aqui? Um olho no gato e outro no peixe… Dizem!

Grandes fracassos acontecem porque os treinadores e os seus jogadores se focam excessivamente nos resultados. Para fazer um termo de comparação, e clubismos à parte, parece-me que foi o que aconteceu ao SL Benfica no final da época de 2012/2013. Esteve presente em todas as frentes e acabou por não ganhar nada. Tinha um futebol interessante em muitos jogos, até com excelentes exibições, mas a inconstância e a inconsistência dos seus processos transportava para fora uma certa insegurança. A liderança de Jorge Jesus estava bastante focada nos resultados. É a minha perspectiva…

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O excessivo foco nos resultados pode revelar-se contraproducente, como demonstra a época 2012/13 do Benfica de Jorge Jesus
Fonte: Wikipédia

Neste momento deve estar a perguntar-se: mas não é o resultado que interessa? Sim, ele é um guia, um norte, um rumo, mas é o foco nos processos que garante os resultados.

Com certeza já tomámos contacto com equipas focadas nos processos e com outras equipas focadas nos resultados. Com pessoas igualmente focadas quer nos processos, quer nos resultados. Em discussão surgiu, há pouco tempo, o grande caso de estudo que é o Cristiano Ronaldo, goste-se dele ou não. Será ele mais focado nos processos, ou seja, estará ele mais orientado para a tarefa, ou mais focado nos resultados, ou seja estará ele mais orientado para o ego? Muita gente diria que, à primeira vista, a opção mais correcta seria a última, mas não me parece. Simplesmente pelo facto de que ele só consegue os resultados que tem porque conseguiu atingir um equilíbrio mental de tal ordem que, focando-se nos processos, os resultados surgem naturalmente. Se ele não fosse bom a fazer o que faz, nunca conseguiria obter o sucesso que obteve.

Em contexto de desporto de formação surge também esta questão. Talvez este contexto seja aquele que leva os atletas a ter mais ou menos sucesso na sua carreira desportiva, quer seja amadora ou profissional. Se enquanto criança um jogador é estimulado a desenvolver a sua orientação predominante para a tarefa, muito provavelmente será um atleta de sucesso. Em fase de formação desportiva é, no entanto, muito importante fazer com que os atletas entendam também que, apesar de precisarem de desenvolver os seus processos na grande maioria do tempo, não se podem esquecer que aquilo que fazem tem objectivos e que eles precisam perceber quais são. Aqui entra a influência do treinador, o seu tipo de foco e a sua orientação. Na minha opinião, na formação, até uma certa altura, devemos orientar os nossos atletas para a tarefa, ou seja, fazer com que eles se foquem nos processos. Estando os processos definidos, desenvolvidos e consistentes, devemos começar a incutir também, sem esquecer os processos, o foco nos resultados.

Nem sempre os melhores processos garantem os melhores resultados  Fonte: eliechahine.wordpress.com
Nem sempre os melhores processos garantem os melhores resultados
Fonte: eliechahine.wordpress.com

Desde os escalões mais jovens ao desporto de alta competição vemos equipas que jogam muito bem mas não têm objectividade no seu jogo, logo os seus resultados não são muito positivos.

Podemos fazer omeletes com qualquer tipo de ovos, e outros ingredientes, mas é a forma como se mexe os ovos que irá ditar se a omelete ficará boa ou não. Se não ligarmos muito aos processos de execução da nossa omelete, no final não iremos com certeza comer uma omelete muito boa.

Se os processos estão comprometidos, como alcançar bons resultados? Lembre-se: não adianta querer colher bom milho sem adubar e cuidar bem da terra. Como também não adianta ter os melhores jogadores que alguém pode ter se não os orientamos em função do melhor que cada um consegue fazer em prol do colectivo e se não conseguimos que a sua relação em competição seja a melhor.

Metas e resultados são importantes, mas são processos eficazes que nos levarão a alcançá-los.

“Para vencer não basta ter os melhores jogadores, é preciso saber colocá-los ao serviço do colectivo…”, Jack Welch, antigo gestor da GE.

Foto de Capa: Wikipédia

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Alcino Rodrigues
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Já foi jogador mas há uns tempos passou para o outro lado e ajuda os treinadores com as coisas que escreve. Adora desporto e todas as componentes do jogo interior, ou treino mental. O seu foco são os processos e adora estudar as dinâmicas do trabalho em equipa. Coloquem muita malta a trabalhar junta e ele descortina todas as suas nuances. Já teve filhos, plantou árvores e ultimamente lançou um livro. Parece que está safo…                                                                                                                                                 O Alcino não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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