Sandro Mazzola tinha apenas meia dúzia de anos quando o seu pai e os restantes membros da equipa do Torino faleceram num trágico acidente de avião. Voltavam a casa depois de um jogo com o Benfica. Francisco Ferreira, defesa-central, capitão e considerado um dos melhores centrais que passaram pelo Benfica, juntamente com Germano e Humberto Coelho, num jogo de seleções, fez uma excelente amizade com Valentino Mazzola. Entre os dois, organizaram um jogo entre as suas equipas, em Lisboa. Anunciou-se como homenagem ao popularmente conhecido por Chico Ferreira. O Benfica ganhou 4-3 ao grande Torino. O velho campo do Benfica encheu-se para disfrutar com a presença daquela que era considerada a melhor equipa de futebol. Para deleitar-se com o melhor jogador da altura: Valentino Mazzola. Sandro Mazzola, seu filho, quando começou a correr atrás de uma bola, encontrava-se com o comentário “jamais será como o pai.” A certa altura, sentiu desânimo e abandonou temporariamente o futebol. Posteriormente, voltou e também foi célebre, alinhando no Inter de Milão de Helénio Herrera.
Valentino Mazzola era um jogador do meio-campo; um armador, como se dizia. No entanto, percorria todo o campo. Ao lado da técnica, tinha uma capacidade física invejável. Como os grandes. Como Di Stéfano, a quem o compararam para explicar o seu talento, já que se carece de imagens que possam defini-lo completamente, também era um grande finalizador. Num dos campeonatos, dos cinco que ganhou, de Itália, foi também o máximo goleador. Valentino apanhou a década de 1940. Padeceu na 2ª Guerra Mundial e, depois de os Aliados derrotarem o nazi-fascismo de Hitler e Mussolini, voltou aos campeonatos e continuou a forjar a grande lenda do Torino. Itália aspirava a ganhar o Campeonato Mundial de 1950, que se disputaria no Brasil, mas a tragédia apagou todos os sonhos de alegria que desejava ansiosamente Itália, depois de viver uma Guerra Mundial e de suportar a vil ditadura de Mussolini. Valentino Mazzola faleceu à idade de 30 anos e, com ele, toda a equipa e praticamente o clube. A seleção italiana assentava-se no Torino. O enterro da equipa e acompanhantes reuniu quantidades ingentes de italianos. Em homenagem, inclusivamente, uma equipa brasileira uniformou-se com as cores do Torino.
O Torino, além de ser o orgulho futebolístico de Itália, era a equipa que representava a essência dos nativos de Turim. A Juventus, que, na altura, carecia da dimensão que tem presentemente, representava a gente que chegava a Turim procedente, principalmente, do Sul de Itália. A cidade ficou órfã.
Curiosamente, a melhor equipa da década de 1940 e uma das melhores, se não a melhor, da década de 1950, o Manchester United, tiveram o mesmo fim trágico. No entanto, o Manchester repôs-se enquanto o Torino ficou praticamente sempre na sombra, na névoa que levou o seu avião a embater e semear a morte. Diz Sandro Mazzola que tem, praticamente, uma amnésia das recordações do seu pai. Unicamente, ficou com uma ideia que, mais tarde, compreendeu: “não entendia o porquê de, quando passeava pela mão do seu pai, as pessoas paravam e o cumprimentavam.”