O Passado Também Chuta: O último capítulo alentejano

o passado tambem chutaPassam-se exactamente 20 anos desde a última subida de uma equipa alentejana à Primeira Liga, e a equipa que almejou tal feito foi o Sporting Clube Campomaiorense.

Para quem viveu e acompanhou o futebol português durante os anos 90, certamente que este clube lhes será familiar. Assente num projecto muito diferente daquilo a que estávamos (e ainda estamos) habituados no futebol português, e muito para além de simples clube de futebol, o Campomaiorense tinha toda uma vila atrás de si, mas, ainda mais do que a vila de Campo Maior, tinha toda uma região, Alentejo, como sua bandeira.

Um projecto diferente também porque Campomaiorense foi um dos últimos exemplos, em Portugal, do impacto que as envolvências das maiores empresas portuguesas podem ter no apoio aos pequenos clubes portugueses. Apesar de posteriormente já ter uma longa história por trás – o clube foi fundado em 1926 – o clube deu o seu maior salto qualitativo no momento em que a família mais famosa natural de Campo Maior, a família Nabeiro, dona da empresa Delta Cafés, assumiu as rédeas do clube e “sonhou” levar o nome da sua vila e da região mais além. Por isso mesmo, a história do emblema alentejano e o nome da família Nabeiro andarão para sempre de mãos dadas e serão sempre indissociáveis; quem não se lembra do sempre presente patrocinador, Delta Cafés, nas camisolas do Campomaiorense?

A família Nabeiro provocou uma autêntica revolução na realidade do clube Fonte: Jornal Alentejo
A família Nabeiro provocou uma autêntica revolução na realidade do clube
Fonte: Jornal Alentejo

Corria a época de 1994/1995, já sob a administração dos Nabeiro, quando o Campomaiorense, com Manuel Fernandes como treinador principal, provou ser um dos projectos desportivos emergentes no futebol nacional, conquistando o segundo lugar da II Liga e alcançando a Primeira Liga, um grande feito para uma equipa alentejana que tinha visto o Elvas CAD, na década de 80, ser a última equipa a alcançar tal feito. Começava assim um dos capítulos mais interessantes do futebol nacional durante a década de 90.

Mas, se a época 1994/1995 marcava o início da história do Campomaiorense na Primeira Liga, foi na época 1997/1998 que o projecto Campomaiorense, que ainda hoje perdura nas nossas memórias, teve início; o clube, após uma nova subida de divisão, demarcou-se da sua ligação ao Sporting Clube de Portugal, seu clube mãe até então, substituindo o símbolo do leão por um galgo e criando assim a sua própria imagem de marca e conseguindo estabilizar-se a partir de então na Primeira Liga, assumindo-se como a única representante da maior região de Portugal e também do interior português.

Campomaiorense 1994/1995 contava com nomes como Lito Vidigal Fonte: Blog Glórias do Passado.
Equipa que, em 94/95, contava com nomes como Lito Vidigal
Fonte: Blog Glórias do Passado.

Nunca tendo conseguido uma qualificação para as competições europeias, a página mais dourada desta história futebolística alentejana estava guardada para a época 1998/1999, quando, sob o leme de José Pereira, actualmente presidente da ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), alcançava uma histórica final da Taça de Portugal, uma final inédita e especial, pois seria uma final sem qualquer um dos três grandes (e a última), onde teriam como adversário o Beira-Mar.

O Campomaiorense haveria de perder esta final por 1-0, um golo solitário de Ricardo Sousa ditava o desfecho final desta inédita final, mas o Campomaiorense já havia feito história, uma história sem o desfecho de conto de fadas é certo, mas a final da Taça de Portugal só por si, era já o culminar de um projecto e de um sonho levado a cabo pela família Nabeiro e pela vila de Campo Maior.

Exemplar de bilhete da última final da Taça de Portugal sem “grandes” Fonte: Blog Banca do Norte
Exemplar de bilhete da última final da Taça de Portugal sem “grandes”
Fonte: Blog Banca do Norte

Poderá ser algo discutível o de assumir o Campomaiorense como um histórico do futebol português, mas que não hajam dúvidas de que foi uma equipa que acrescentou imenso ao futebol português, contando nos seus plantéis ao longo das épocas com jogadores consagrados (e actuais treinadores consagrados) e talentosos, tendo logo como “cabeça de cartaz” Isaías, um ídolo benfiquista, que passou duas épocas em Campo Maior, Hasselbaink que haveria de revelar-se ao futebol europeu em Campo Maior, fazendo posteriormente carreira em clubes como Atlético Madrid e Chelsea, Rogério Matias, Lito Vidigal, Marco Silva (sim esse mesmo…), Beto ( por empréstimo do Sporting), Paulo Torres, Stoilov, etc… Não restam, por isso, dúvidas de que o clube não foi simplesmente uma equipa que passou na Primeira Liga, entre muitas, sem acrescentar nada, o Campomaiorense acrescentou e despontou como já referi alguns talentos, não só portugueses, mas acrescentou também um novo contexto social a um futebol já pobre, como é o futebol português.

Jimmy Hasselbaink será sempre recordado como um dos talentos a despontar no Campomaiorense  Fonte: Twitter Old School Panini
Jimmy Hasselbaink será sempre recordado como um dos talentos a despontar no Campomaiorense
Fonte: Twitter Old School Panini

Mas, como em todos os projectos desportivos, o Campomaiorense também tinha os seus problemas. Problemas esses que se viriam acentuar com a descida de divisão em 2000/2001, Campo Maior e o estádio Capitão César Correia despediam-se da Primeira Liga com uma vitória por 1-0 frente ao Sporting CP, o emblema alentejano não evitava a descida de divisão e, após uma temporada na II Liga, a família Nabeiro anunciava o fim da profissionalização do clube, muito por culpa da falta de apoios e de interesse local. A título de curiosidade, o estádio Capitão César Correira durante os anos de Primeira Liga apenas havia estado lotado completamente por duas vezes frente ao Benfica.

Rui Pedro Cipriano
Rui Pedro Ciprianohttp://www.bolanarede.pt
Nascido e criado no interior, na Covilhã, é estudante de Ciências da Comunicação, na Universidade da Beira Interior. É apaixonado pelo futebol, principalmente pelas ligas mais desconhecidas, onde ainda perdura a sua essência e paixão.                                                                                                                                                 O Rui escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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