O Passado Também Chuta: Os irmãos De Boer

    Numa altura em que muitos de nós estamos confinados aos nossos aposentos fruto deste vírus que nos assola, muitos são os conteúdos sobre futebol que se têm expandido por essa internet fora.

    Neste artigo vou debruçar-me sobre dois irmãos que marcaram uma geração, e que escreveram uma das mais belas páginas na história do AFC Ajax de Amesterdão, são eles Frank e Ronald de Boer.

    Vindos directamente da De Toekomst, a academia do Ajax, os irmãos De Boer marcaram uma geração na formação dos lanceiros que culminaria com a conquista da Liga dos Campeões, numa equipa onde pontificavam jogadores como Edgar Davids, Patrick Kluivert, Seedorf, Van der Sar, Marc Overmars, e comandadas pelo holandês Louis Van Gaal.

    Ronald De Boer, ainda faria duas épocas no Twente quebrando pela primeira vez na carreira a ligação ao seu irmão.

    Frank De Boer dos dois, era quem me enchia mais as medidas.

    Não era o típico central, era muito mais que isso. Era um jogador técnicamente muito forte, com um bom toque de bola, não tinha problemas em sair a jogar e a sua qualidade de passe aliava-se à sua brilhante visão de jogo. Lembro-me de um Argentina-Holanda para o Mundial de 98, em que Frank com um passe soberbo antes do meio campo, desmarca Dennis Bergkamp que faz um dos golos icónicos desse Mundial.

    Era um defesa que era duro quando o tinha que ser, nunca fazendo da agressividade a sua arma, era classe pura e dura, o seu registo é exemplo disso, em mais de 600 jogos na sua carreira, o holandês viu 52 cartões amarelos, sendo três vezes expulso por acumulação de cartões e uma vez expulso com cartão vermelho directo. Era também um excelente executante de livres directos, marcando alguns golos de belo recorte através deste tipo de lances.

    Tacticamente também era muito culto e adaptava-se bem tanto a jogar numa defesa a três como num sistema com quatro defesas, onde podia jogar também pelo flanco esquerdo como defesa lateral. Jogou também alguns jogos como trinco e libero.

    Numa altura em que os defesas italianos dominaram o Mundo, Ronald De Boer ombreava com os melhores sendo um dos grandes jogadores na sua posição.

    Já Ronald De Boer, era dos irmãos, o que menos me fascinou apesar de lhe reconhecer qualidades.

    Jogador de ataque, desempenhou todas as posições atacantes e de meio campo, demonstrando as suas qualidades tácticas, o facto de jogar bem com ambos os pés contribuiu para essa versatilidade. Jogando maioritariamente como médio ofensivo, revelou uma apetência para o golo, especialmente nos anos que jogou no campeonato holandês, e no escocês.

    Fizeram ambos a estreia na equipa do AFC Ajax em 1988 e construíram uma brilhante carreira na equipa de Amesterdão, que para além dos cinco títulos domésticos, conseguiram lograr vencer a Taça Uefa em 1991-92, (Ronald De Boer não fazia parte da equipa do Ajax nesta época), a Liga dos Campeões 1994-95, a Supertaça Europeia em 1995 e a Taça Intercontinental também em 1995, antes de abandonarem o seu país rumo à cidade de Barcelona para representar o F.C. Barcelona, e onde seriam treinados por Louis Van Gaal.

    A chegada a Barcelona marca uma viragem na carreira dos irmãos. A expectativa dos Blaugrana com a chegada dos holandeses era enorme.

    Mais que as conquistas caseiras, os catalães, fruto do que o Ajax conquistou, queriam vingar na Europa. Sobre a égide de Van Gaal, chegariam em 98/99 alguns dos obreiros do título europeu do Ajax, os irmãos De Boer eram a cabeça de cartaz numa equipa onde também pontificavam Patrick Kluivert e Reiziger seus colegas no Ajax.

    Só que o plano desportivo do Barça não correu como esperado, apesar de terem ganho o campeonato na sua primeira época, alguns jogadores sofreram duras críticas. Um dos visados foi Ronald De Boer, que foi apelidado de flop por alguns “especialistas” e acabou por sair do clube. Já Frank De Boer tinha acusado positivo a Nandrolona num teste antidoping e seria suspenso, acabando por ser depois ilibado.

    Esta foi talvez a pior fase da carreira dos irmãos, que pela segunda vez nas suas carreiras se separavam, Ronald De Boer sairia para o Glasgow Rangers, que era orientado pelo holandês Dick Advocaat, e que tal como em Barcelona, iria contar com um contingente de holandeses que deram o título maior à equipa dos protestantes.

    Ronald conseguiu novamente readquirir o estatuto que tinha perdido aquando da sua passagem pelo F.C. Barcelona, sendo um dos jogadores mais preponderantes da equipa dos escoceses.

    Frank De Boer, mantinha-se em Barcelona e, ao contrário do irmão, a sua preponderância nos “Culé” foi maior.

    Antes dos irmãos se reecontrarem novamente na mesma equipa, Frank De Boer iria na temporada de 2003-2004 ingressar no Galatasaray Sports Club onde esteve apenas uma temporada, rumando no final dessa época para o Glasgow Rangers, juntando-se novamente ao seu irmão.

    Aos 34 anos fariam a sua última época na Europa antes de se mudarem para o Qatar um ano depois.

    Era o prenúncio de um final que chegava a passos largos de uma das melhores gerações que a fábrica de talentos do Ajax formou.

    Uma geração que elevou grandemente não só o nome do Ajax mas também engrandeceu a fantástica seleção da Holanda, que pese embora não tenha ganho nenhum título, perfumou os relvados com o seu futebol elegante e de grande qualidade que vai perdurar na memória de todos aqueles que vibraram com a Laranja Mecânica. E os irmãos De Boer são parte dessa história, uma história com tons de laranja, tons brancos e vermelhos, tons grenás e azuis, uma história com altos e baixos como em tudo na vida, mas ainda assim uma bonita história que tive o privilégio de ir acompanhado.

    Artigo revisto por Diogo Teixeira

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    Tiago Silva Ferreira
    Tiago Silva Ferreirahttp://www.bolanarede.pt
    O Tiago é uma pessoa que adora desporto, em especial futebol. Tendo praticado andebol e basquetebol, viu que o seu grande talento era a Playstation e por aí ficou! Adora o ciclismo.                                                                                                                                                 O Tiago não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.