O Passado Também Chuta: Quando o futebol italiano dominava o mundo (Parte I)

    A liga italiana viveu os seus anos de ouro durante a década de 90, que se prolongaram até ao início do presente século. Durante este período, arrecadaram oito Taça UEFA (atual Liga Europa) e duas Liga dos Campeões. As equipas teoricamente mais fortes eram a Juventus e o AC Milan, e foram as equipas que conquistaram a prova internacional mais importante a nível de clubes neste espaço de tempo: o conjunto de Turim em 96 e a turma de Milão em 2003. A nível interno, também foram os que conquistaram mais “scudettos” (campeonato italiano) ao longo destes anos.

    A realidade é que o futebol em Itália não se centrava apenas nestes dois clubes, porque havia sempre muita competitividade internamente, e o domínio alargava-se à Taça UEFA, com inúmeras conquistas para os restantes clubes. Entre 1989 e 1995, o troféu foi seis vezes para o país da bota. O Inter de Milão conquistou-a duas vezes, a Juventus outra duas, a Nápoles uma e o Parma outra. Três anos depois, o Internazionale venceu a taça novamente e no ano seguinte foi a vez do Parma.

    Além disso, houve ainda seis finalistas italianos derrotados e todos eles diferentes: o Inter, a Juventus, a Roma, a Fiorentina, a Lazio e o Torino. A partir da última conquista do Parma, mais nenhum clube italiano foi capaz de triunfar nesta prova.

    Havia ainda equipas com grande qualidade, que nunca chegaram a vencer nenhum troféu europeu, no entanto, tinham sucesso a nível nacional. É o caso da Lazio, que viveu os seus melhores anos na viragem do século, tendo conquistado a liga em 1999/2000, assim como os seus eternos rivais, a AS Roma, que também venceu o campeonato na época seguinte.

    Os anos de ouro italianos iniciaram-se com o revolucionário Diego Armando Maradona, que liderou a equipa napolitana à conquista de dois “scudettos” e ainda uma Taça UEFA. El Pibe era considerado por muitos o melhor futebolista desses tempos e o último título coincidiu com o fim da era dourada dos Gli Azzurri, visto que, em 1991, Maradona foi afastado dos relvados durante 15 meses, por ter acusado positivo no teste à cocaína.

    Fonte: SSC Napoli

    A saída do astro argentino não foi tão grave para o campeonato italiano, que se estruturou nos anos seguintes para criar uma hegemonia no futebol europeu. As estrelas apareciam de todo o lado. Lothar Matthaus, vencedor da Bola de Ouro, estava no Internazionale e o jogador mais caro do mundo, Roberto Baggio, acabava de chegar a Turim para representar a “vecchia signora”.

    O que a Espanha foi durante a última década, recolhendo grande parte dos troféus europeus, era uma semelhança à Itália no final do século XX. Era a liga mais atrativa, que juntava os melhores jogadores, e reconhecida pelo seu futebol clássico e de extrema importância a nível defensivo, que ainda ficou marcado até aos dias de hoje.

    A presença de estrelas foi crucial para o desenvolvimento desta liga e marcou uma identidade especial no futebol deste país. Paul Gascoigne é um dos exemplos, pois foi importante para a mística dos adeptos da Lazio, que rapidamente ganharam um carinho especial pelo inglês. O avançado dos biancoceleste, Beppe Signori, marcou um total de 141 golos na liga italiana, mais do que Gabriel Batistuta, uma lenda argentina com uma carreira notável em Itália. Batigol representou a Fiorentina durante quase uma década e teve direito a uma estátua em sua honra na cidade de Florença. O avançado viria mais tarde a mudar-se para a capital, para vencer a Serie A pela AS Roma.

    A Sampdoria também escreveu uma bela história neste capítulo, com a conquista do “scudetto” em 1990, e alcançando a final da Liga dos Campeões, dois anos mais tarde, perdendo para o Barcelona com golo de Ronald Koeman. O mítico Gianluca Vialli era o craque da equipa e viria a transferir-se mais tarde para a Juventus, por um valor recorde de 12 milhões de euros. A Juventus era uma superpotência e contava com a estrela Baggio, antes de se mover para o rival AC Milan, Antonio Conte, que ocupava todo o meio-campo, mais Paulo Sousa na equipa que arrecadou a Liga dos Campeões em 1996.

    Roberto Baggio é, talvez, o jogador mais talentoso do campeonato a atuar nesta era e foi o primeiro a vencer a Bola de Ouro, a jogar o ano todo em Itália. Em 1997, Ronaldo Fenómeno também coletou o troféu individual enquanto jogador do Inter de Milão, embora tenha jogado a primeira metade desse ano no Barcelona, antes de se transferir para os nerazzurri por um valor recorde de 19,5 milhões de euros.

    Baggio venceu apenas um troféu europeu na sua carreira e mais dois “scudettos” em dois clubes diferentes, em anos seguidos, e viveu episódios caricatos enquanto atleta dos bianconeri, porque a sua mudança para Turim nunca foi bem aceite pelos adeptos da Fiorentina. Num jogo entre estas duas equipas, a Juventus ganhou um penálti e Baggio recusou-se a bater. O seu colega Luigi De Agostini assumiu a responsabilidade e falhou, o que foi motivo de grande polémica.

    O primeiro título italiano de Baggio coincidiu também com o primeiro de um jovem de 20 anos chamado Alessandro Del Piero. “Del Piero tem tudo para ser um grande jogador”, disse Baggio, e não falhou a previsão. Ravanelli recorda essa mítica época em que alinhava na frente com esses dois grandes avançados e ainda com o goleador Gianluca Vialli, orientados por Marcelo Lippi, técnico que se diferenciava por motivar os jogadores de forma especial.

    O AC Milan viveu momentos históricos durante a década de 90 com Van Basten, Gullitt e Rijkaard com toda a força a comandarem as tropas da equipa invencível no campeonato, desde maio de 1991 até março de 1993 (58 jogos seguidos). Foi conhecida como a era “Milan degli Invincibli”, no início da carreira do técnico Fabio Capello, sucessor de Arrigo Sacchi, um dos professores do futebol e vencedor de duas Taças dos Campeões Europeus.

    Fonte: AC Milan

    O título de 1993/1994 é considerado quase um milagre para o clube, visto que perdeu praticamente todos os melhores jogadores do meio-campo para a frente. Van Basten lesionou-se gravemente, Jean-Pierre Papin, Gullit e Rijkaard saíram do clube e a transferência recorde, Gianluigi Lentini, contratado ao Torino por 13 milhões, teve um acidente e ficou em coma. Mesmo assim, foram campeões com apenas 15 golos sofridos e 36 marcados em 34 jogos, com mérito para um muro de betão liderado por Maldini e Baresi. Como se não bastasse este feito histórico, a Liga dos Campeões também foi para Milão, depois de uma demolição por 4-0 frente ao Barcelona.

    O Milan ainda passou por momentos complicados no final da década, com mudanças de treinador sistemáticas, no entanto, ainda conseguiu vencer mais um “scudetto” com Olivier Bierhoff como referência no ataque. Depois desta década, o Milan ainda arrecadou mais uma Liga dos Campeões em 2002/2003, eliminando o Inter de Milão nas meias-finais e a Juventus na final, com craques como Seedorf, Rui Costa, Maldini, Inzaghi, Pirlo, Shevchenko, entre outros.

     

    Artigo revisto por Joana Mendes

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    João Pedro Rocha
    João Pedro Rochahttp://www.bolanarede.pt
    João é de Espinho, no norte de Portugal, é licenciado em Ciências da Comunicação e tem o objetivo de singrar no jornalismo desportivo. É um apaixonado pelo futebol e acompanha o desporto desde tenra idade, principalmente o campeonato português, as top 5 ligas e as competições europeias. Tem o tiki-taka de Pep Guardiola como referência futebolística.                                                                                                                                                 O João escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.