Recordar é Viver | Chéquia no Euro 2004

    A Chéquia vai ser o primeiro adversário de Portugal no Euro 2024. Há 20 anos, a seleção da “ainda” República Checa veio a Portugal fazer a sua segunda melhor prestação num grande torneio após a dissolução da Checoslováquia (apenas aquém da edição de 1996, onde foi finalista vencida). O sorteio da fase final, realizado a 30 de novembro de 2003, não fazia antever facilidades para os comandados de Karel Brückner: no grupo D, seriam adversários da vice-campeã do mundo Alemanha e dos Países Baixos, crónico candidato que tentava repetir a glória de 1988.

    O oponente mais acessível era o do primeiro jogo, a estreante Letónia. No Municipal de Aveiro, e contra todos os prognósticos, foi a equipa do Báltico que se adiantou no marcador, nos descontos do primeiro tempo. O caudal ofensivo e o número de oportunidades de golo eram claramente superiores para o lado checo e a reviravolta aconteceu naturalmente, com o resultado a estabelecer-se em 2-1.

    Na segunda jornada, e também em Aveiro, disputou-se um dos melhores jogos do torneio e provavelmente da história dos Europeus. Os Países Baixos entraram de forma incisiva e aos 19 minutos de jogo já venciam por dois golos, com algum demérito da defesa checa. Jan Koller reduziu pouco depois e já na segunda parte assistiu com classe para um tiro de Milan Baroš. O segundo amarelo visto por John Heitinga entregou o controlo do jogo e, depois de Nedvěd fazer a baliza estremecer com um remate forte à barra, Vladimir Šmicer consumou mesmo a reviravolta. Estava assim garantida a presença nos quartos de final, com o último encontro ainda por disputar.

    Com grande rotação do 11 inicial, a Chéquia derrotou e eliminou a Alemanha (grande desilusão do campeonato) e foi a única equipa 100% vitoriosa na fase de grupos. Nos quartos de final, frente à Dinamarca, a equipa mostrou-se (pela primeira vez) segura na defesa, mantendo o ataque dinâmico que já demonstrara nos jogos anteriores. O resultado fechou nuns expressivos 3-0 e com cada vez mais notas de favoritismo para a conquista do troféu.

    Nas meias-finais, os checos provaram do mesmo veneno que viria a destruir as esperanças dos portugueses. Uma seleção grega com um bloco defensivo extremamente sólido, e que já tinha mantido a França a zeros nos quartos de final, segurou o nulo até fim dos 90 minutos. No prolongamento, Traianos Dellas apontou o golo de prata que levou os helénicos à final da Luz. Os checos viam a sua campanha chegar ao fim e podiam lamentar alguma falta de eficácia nos momentos cruciais.

    Apesar do foco ter estado na seleção lusa, ficou na memória de muitos portugueses uma equipa checa que praticava um futebol entusiasmante e muito ofensivo, encantando os verdadeiros amantes do desporto. Uma das maiores figuras do torneio foi Milan Baroš: o médio que representava o Liverpool foi o melhor marcador, com 5 golos, e uma peça fulcral na ofensiva de Brückner. Na equipa ideal do torneio, eleita pela Comissão Técnica da UEFA, juntaram-se ainda os compatriotas Petr Čech e Pavel Nedvěd, que tinha sido eleito futebolista Europeu do ano 2003 escassos meses antes. O experiente Karel Poborský (bem conhecido dos portugueses), o gigante Jan Koller e um ainda jovem Tomas Rosický foram outros jogadores frequentemente responsáveis por criar perigo.

    Em 2024, a Chéquia estará no grupo F, sendo uma forte candidata a avançar para a fase a eliminar. O plantel pode não ter nomes tão sonantes como em 2004, mas a resiliência que tem vindo a demonstrar e o rigor tático implementado pelo novo selecionador Ivan Hašek serão fatores determinantes para sua performance. Na Europa central, tanto quanto sei, sonhar também não paga imposto e saindo da fase de grupos, onde a Turquia é teoricamente o rival mais direto, tudo pode acontecer.

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