Bergkamp tem fobia de viajar de avião, mas com uma bola nos pés era ele que causava o pânico.
Todos nós que gostamos de futebol temos os nossos ídolos, e eu não fujo à regra. Desde que comecei a acompanhar mais a sério o desporto rei, por volta dos meus 12 anos, posso afirmar que alguns jogadores ficaram para sempre arquivados na minha memória. Um deles foi Dennis Bergkamp, o ex-craque neerlandês que espalhou todo o seu talento durante 20 anos em três clubes diferentes, Ajax, Inter Milão e Arsenal.
Atuava habitualmente como segundo avançado e possuía um soberbo controlo de bola e muita inteligência dentro das quatro linhas, além de fazer golos e assistências como se estivesse a pintar um quadro de Leonardo da Vinci.
O seu talento foi tão notório precocemente, que logo aos 17 anos começou a envergar a camisola principal do Ajax, o seu clube de formação, pelas mãos do então treinador Johan Cruyff. Decorria o ano de 1986, quando esta jovem promessa começou a perceber que tinha uma bonita história para escrever no futebol mundial.
Dennis Bergkamp esteve sete épocas no clube de Amesterdão e o seu desempenho foi crescendo gradualmente. Marcou 121 golos, sendo o melhor marcador do campeonato em três ocasiões, e foi peça importante na conquista de cinco títulos, entre eles, duas competições europeias. Estreou-se pela seleção dos Países Baixos em 1990, e dois anos depois disputou o seu primeiro torneio de seleções, no Europeu da Suécia, onde marcou três golos.
A boa prestação individual nessa competição fez com que o Inter Milão o contratasse no ano seguinte. No entanto, só cumpriu duas temporadas em Itália, destacando-se apenas na primeira, onde marcou 25 golos e ajudou os nerazzurri a conquistarem a Taça UEFA. Na segunda ficou aquém das expetativas, e a juntar a isso, a sua fobia de voar começou a vir a público em 1994, depois da longa viagem que fez com a sua seleção até aos Estados Unidos para participar no Campeonato do Mundo.
Ciente dessa situação, o Arsenal contactou Dennis Bergkamp e prometeu-lhe que, se juntasse à sua equipa, não teria mais de viajar de avião para jogar. É claro que o ex-internacional neerlandês nem pensou duas vezes e em 1995 mudou-se de armas e bagagens para Londres, cidade onde viveu os melhores momentos da carreira.
O impacto da chegada de Bergkamp à capital inglesa foi tanta, que a direcção do Arsenal entregou-lhe de imediato a mítica camisola 10, que vestiu até ao último jogo da carreira. Virou ídolo dos adeptos dos gunners muito rapidamente, e não foi por acaso que o apelidaram de “The Iceman” (o homem do gelo), pela sua frieza e genialidade em campo.
Nas 11 épocas em que esteve ao serviço da formação londrina, Dennis Bergkamp conheceu apenas dois treinadores, Bruce Rioch e Arsène Wenger, e partilhou o balneário com alguns dos melhores intérpretes do futebol mundial. Isso ajudou-o a ter um desempenho ainda melhor na Premier League, e os 120 golos e as 102 assistências que fez falam por si. Conquistou 11 títulos, entre os quais três campeonatos, algo que o Arsenal nunca mais conseguiu desde a sua saída.
Com a camisola laranja, destaque para o grande Mundial que realizou em 1998, na França, e onde marcou, frente à Argentina, um dos mais belos golos de sempre da história da competição, ao efetuar uma receção de bola impressionante após um passe longo de Frank de Boer.
O antigo avançado neerlandês fez a sua última temporada como futebolista em 2005/2006 e pendurou as chuteiras com 37 anos. Despediu-se da melhor forma num jogo em sua homenagem, entre os dois emblemas que mais o marcaram, Arsenal e Ajax, e ainda apadrinhou no mesmo encontro a inauguração do Emirates Stadium, o atual estádio dos gunners.
Bergkamp pode nunca ter vencido uma Bola de Ouro, apesar de ter estado por duas vezes consecutivas no pódio, mas é indiscutivelmente um dos melhores jogadores de sempre. O perfume do seu futebol jamais será esquecido e está ao nível de outras lendas dos Países Baixos, como Johan Cruyff e Marco van Basten. Marcou 307 golos ao longo de toda a carreira, e escolher qual deles o mais bonito é uma tarefa mais difícil do que parece.