Dois estilos de jogo que colapsaram, num duelo que fica para eternidade do futebol europeu e da Liga dos Campeões.
José Mourinho com o Inter Milão que venceu, com distinção, o campeonato italiano naquela temporada e a prova milionária. E o Barcelona de Pep Guardiola que para muitos foi a melhor equipa do século e na história dos blaugranas.
Nunca uma derrota soube tão bem para o treinador português. Após uma vitória épica, na primeira mão, no Giuseppe Meazza (3-1), onde os nerazzurris foram mais sagazes na forma como planearam o jogo. Os golos foram marcados por Pedro Rodriguez, Wesley Sneijder, Maicon e Diego Milito. Este resultado ajudou que o Inter fosse mais segura e dar continuidade na ideia bem traçada em Itália. Ocultar Lionel Messi, defender e usar os contra-ataques como a sua arma principal.
Em Camp Nou, José Mourinho alugou, por circunstâncias do jogo, um autocarro que deu frutos no fim da eliminatória, pois logo ao minuto 28 tudo se complicou quando Thiago Motta foi expulso e deu, ainda mais, esperança aos catalães. De relembrar o “golpe de teatro” protagonizado por Sergio Busquets, digna de Óscar. E foi aí que entrou em ação a “arte de defender”.
Chivu ocupou a função do então expulso Thiago Motta, Sneijder baixou para a posição do romeno e o mais impressionante, Eto’o tornou-se num autêntico defesa direito. No entanto, logo a seguir as estas alterações, Messi, só podia ser ele, na única oportunidade que conseguiu criar com o seu movimento tradicional, rematou e Júlio César com a ponta dos dedos faz uma das defesas mais emblemáticas da sua carreira.
A partir daí, a equipa de Pep Guardiola não conseguiu fazer mais nada. A porta do autocarro estava fechada e com os pupilos de Mourinho a caminho da capital espanhola. Com Piqué, Jeffren, Bojan, Keita e até mesmo Daniel Alves na área, foi impossível fazer algo.
Para termos uma ideia, a bola foi aliviada cerca de 40 vezes. Só Lúcio, central brasileiro, afastou 14. Estatísticas impressionantes e que demonstram a persistência do Barcelona e o comprometimento defensivo do Inter de Milão.
Tanta persistência, acabou por ser recompensada com Piqué a fazer o único golo da partida aos 84 minutos. Até ao apito final surgiram algumas oportunidades e até mesmo uma bola dentro da baliza dos italianos, mas que viria a ser anulada por mão de Touré.
75% de posse de bola e com uma sensação de perigo permanente por parte do Barcelona, 20 remates à baliza, contudo apenas quatro foram enquadrados. Este duelo ditou um mito que perpetua até hoje: José Mourinho é um treinador defensivo; algo que não é verdade.
Caso só defendesse, não vencia campeonatos em Itália, Espanha, Portugal, Inglaterra, além dos troféus europeus, sendo por muitos momentos o melhor ataque das várias competições. Nesta altura não havia maneira de parar a equipa de Guardiola, senão esta e mesmo assim, muitas equipas, não conseguiam fazê-lo. Mourinho foi inteligente e soube montar a teia certa e isso é de louvar.
Um dia que ficou marcado na história do melhor treinador português que celebrou este momento com a mítica declaração “Deixámos o sangue em campo. Eles fizeram a festa antes do jogo, e nós depois”.
Nesse mesmo ano viria a assinar pelo Real Madrid e ser protagonista, juntamente com Pep Guardiola, de uma histórica rivalidade entre os dois principais clubes de Espanha.